"Ser mãe é um trabalho para toda a vida", diz Eliane Giardi
No segundo semestre, Eliane Giardini volta ao ar na série Dois Irmãos (Globo), baseada no livro homônimo de Milton Hatoum. Na produção, a atriz será Zana, uma libanesa radicada em Manaus, mãe dos gêmeos Omar e Yaqub, interpretados por Cauã Reymond. Para atuar na série - que terá dez capítulos -, Eliane passou por uma preparação de três meses, que incluiu três semanas no Amazonas, aulas de culinária e de língua árabe. Como a história acompanha o envelhecimento da família de Zana, a atriz fará a personagem na terceira e última fase da trama e identifica pontos em comum com a matriarca. "Ela é controladora, apaixonada e passional. Confesso que tenho esse temperamento dramático, herdado de uma família italiana, também bastante intensa", afirma Eliane, que é mãe de Juliana e Mariana, de seu casamento com o ator Paulo Betti.
Como foram as primeiras cenas de gravação de sua personagem?
A equipe toda ficou em Manaus por quase três semanas gravando passagens para a série. Foi superinteressante andar pelas ruas onde a história se passa, é mágico imaginar aquela família na Rua dos Barés, onde morava, visitar a igreja de Nossa Senhora dos Remédios, onde Zana frequentava assiduamente. E claro, conhecer a floresta, os rios. Tudo isso compõe o imaginário afetivo dessas personagens.
O que pode falar sobre Zana?
A saga de Zana foi dividida em três partes. No início, ela conhece Halim (interpretado por Antonio Fagundes na terceira fase), seu grande amor de toda uma vida. Casa-se com ele e nascem os filhos. Na primeira fase, Gabriela Mustafá faz o papel. Depois o entrega para Juliana Paes, que vive a continuidade do amor por Halim, o crescimento dos filhos e os primeiros grandes conflitos da história. Ela "chega" para mim já aos 45 anos, com os filhos adultos e os destinos selados. A rivalidade entre os irmãos já se estabeleceu completamente e é irreversível.
Como foi a preparação para essa personagem?
Intensa. Foram três meses de trabalho, de segunda a sexta, o dia todo. O elenco das três fases improvisando juntos, fazendo aulas de árabe, de culinária típica, palestras todos os dias.
Ela se assemelha em algo com você?
Zana é controladora, apaixonada e passional. Confesso que tenho esse temperamento dramático herdado de uma família italiana, também bastante intensa.
Ela é uma mãe superprotetora, mas parece que privilegia um dos filhos?
Os gêmeos sofrem por essa escolha. Por razões diversas, desde a fragilidade do caçula à inclinação dela pelo amor ao menor. A intimidade se estabelece de graça entre os dois. Zana escolhe deixar o menor com ela, quando os dois deveriam partir juntos para o Líbano. Isso agrava e sela a tragédia que virá a seguir.
Você é mãe de duas meninas. Acha que foi justa na criação delas?
Ser mãe é um trabalho de cada minuto para toda a vida. A cada decisão, é uma combinação de razão e emoção. Mais do que procurar ser justa, que é importante, sempre levei em consideração a necessidade de cada uma em todos os momentos. Nem sempre acerto, mas tento de novo a cada vez.
Mariana, uma de suas filhas, está trabalhando na trama. Vocês conversam sobre o trabalho?
Muito. Mari tem um olhar de direção que me ajuda muito. Um olhar para o todo. Delicioso e intenso ao mesmo tempo. Acho que está sendo muito bom para as duas estar em um trabalho tão qualificado.
Antônio Abujamra (1932-2015) disse que "mulher de voz grossa nunca faz a mocinha da história". Em resposta, você afirmou que sua trajetória é ascendente. O que guarda dele?
Abu é meu padrinho na televisão. Ele me colocou como protagonista em meu primeiro trabalho, Ninho da Serpente (exibida pela Band, em 1982). Ele me conhecia do teatro. O que ele quis dizer é que mulheres com voz forte sempre farão personagens fortes. É um elogio.
Entre tantas atrizes jovens, você é sempre lembrada pelo talento e beleza. Chegou a se perguntar se pegaria papéis menos interessantes por causa da idade?
Sim, mas minha geração é marcada pela derrubada de barreiras e preconceitos, e foi assim também nas novelas, onde comecei aos quase 30 anos, mas sempre com grandes histórias afetivas, o que não era usual. Hoje é bastante comum.
Chegar à maturidade foi um problema para você?
De jeito algum. Fico pensando onde minha geração pode inovar também na maturidade. Aguardem novidades para a terceira idade (risos)!