TELEVISÃO
Série "American Gods" entra em segunda temporada

Por Debora Rezende | Especial para A TARDE

Você está na prisão. A liberdade é um vislumbre há apenas seis dias de distância. Sua esposa aguarda em casa com uma festa surpresa. Paciente, você controla o gênio e tenta não explodir frente às provocações. No frenesi que antecede as boas novas, o que poderia dar errado?
Se você é Shadow Moon, não há resposta possível além de "tudo".
Interpretado nas telinhas pelo britânico Ricky Whittle, ele é o protagonista de American Gods, série que tem circulado nas discussões por aí, quase sempre seguida do imperativo "você tem que assistir".
Baseada no romance homônimo de Neil Gaiman (2001), a produção teve o oitavo e último episódio da primeira temporada exibido na última segunda-feira pelo streaming Amazon Prime Video. E, desde o pioneiro rumor do seu lançamento, lá em 2011, tem lugar garantido em especulações e debates no mundo das séries.
É justo. A trama teve sua estreia mundial no dia 1º de maio e, desde então, vem nos apresentando o universo de Gaiman, no qual uma batalha entre antigos e novos deuses se aproxima.
De modo geral, ela acompanha Shadow, um ex-presidiário, em uma jornada bastante confusa e com poucas informações – o que é feito de caso pensado.
"Acho que é definitivamente uma decisão intencional", opina a atriz Emily Browning, que interpreta Laura, a esposa de Shadow, em entrevista por telefone. "Vamos fazer muitas temporadas e teremos tempo para desenvolver os personagens".
Para quem está do lado de cá da telinha, é boa a perspectiva de que teremos espaço para os arcos, já que a primeira temporada, ainda que muito boa, não ofereceu quase nada de informação.
Depois da morte de Laura, Shadow encontra o misterioso Mr. Wednesday (Ian McShane) e embarca com ele em uma viagem pelos Estados Unidos repleta de misticismo, suspense e o recrutamento de pessoas aleatórias.
Ou, pelo menos, é o que o protagonista acredita. O que ele participa – sempre com a dúvida constante da própria sanidade – é, na realidade, a busca de Wednesday pelos antigos deuses que, na modernidade, caíram no esquecimento e deixaram de ser cultuados.
A promessa da batalha épica é, portanto, contra os novos deuses que ganharam fé: conhecidos nossos como a mídia e a tecnologia.
"A série vai seguir por um longo período", reforça Yetide Badaki, intérprete de Bilquis em American Gods, a deusa que se relaciona com o amor. "Nós teremos tempo de ver mais sobre todo mundo".
Duas histórias
Não saber muito sobre o que está se passando, portanto, é intencional na construção de American Gods. Assinada por Bryan Fuller, Michael Green e o próprio Gaiman como produtores executivos, o drama traz o suspense como elemento importante na narrativa.
Assim, sabemos tanto sobre a guerra que virá quanto o próprio Shadow ("Isso não é maravilhoso? Eu gosto de que nós não sabemos muito sobre ninguém", brinca Yetide), que vê com incredulidade as coisas sobrenaturais que começam a entrar no seu mundo.
"Na primeira temporada, não tivemos muitas coisas reveladas, mas teremos tempo para realmente desenvolver um monte de personagens diferentes e isso é muito animador", comenta Emily. "Pode ser frustrante de semana em semana, mas, em dez anos, você vai apreciar o fato de que prestamos atenção em todos os personagens".
De acordo com o elenco, essa lentidão faz com que exploremos nuances que não estão na obra original, já que alguns ganchos e personagens foram aprimorados especialmente para o programa.
"Você pode assistir a série e ler o livro ao mesmo tempo. A combinação dos dois é, na realidade, perfeita", conta Yetide. "A coisa excitante sobre a série é que nós lemos o livro, mas ela pode ir para muitas direções diferentes".
Fã da história, a atriz nigeriana já tinha tido contato com o livro antes de ser escolhida para o elenco. "Até quando estava assistindo eu disse 'ah, sei o que vai acontecer' e acabei sendo surpreendida".
Nesse aprofundamento dado à história original, as personagens femininas têm ganhado destaque. Laura é um bom exemplo disso, com um episódio inteiro apenas dedicado à sua história. "Ela tem muito mais para mostrar", promete Yetide.
Para Emily Browning, a repercussão com American Gods tem sido positiva. "Nunca realmente estive na TV antes, é tão diferente dos filmes. Quando o filme sai, as pessoas falam sobre e meio que isso acaba. Gosto do fato de que, como a série é semanal, as pessoas estão sempre comentando, podemos ver como estão reagindo".
Por trás da ficção fantástica, o programa quer mostrar uma discussão sobre a pluralidade cultural dos Estados Unidos e o quanto a modernidade vem se guiando pela internet e seus "deuses". Para os episódios do futuro, as discussões sociais e políticas provavelmente serão desenvolvidas à luz da saga de Shadow.
"A América é feita de um monte de diferentes pessoas e culturas", salienta Yetide. A promessa é que veremos mais desse choque nos próximos arcos.
Fica também a expectativa de conhecermos mais sobre a própria Bilquis, que, na estreia da série, vive uma das cenas de maior impacto na trama, envolvendo um sacrifício durante o ato sexual.
Nessa e em muitas outras partes, American Gods ousa. É, afinal, uma série com forte apelo estético. O jogo de câmera, o slow motion nas cenas de luta, as luzes e sombras fazem com que cada hora de episódio tenha seu destaque. "Fiquei realmente impressionada pelas luzes. Acho que é realmente uma marca da série", ressalta Emily.
O drama já está renovado para a sua segunda temporada – durante a entrevista, Emily brincou com a possibilidade de termos um total de sete. Fica no ar a expectativa de adentrarmos mais a fundo no universo mitológico de Gaiman e vermos, de fato, o início dessa guerra americana.
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