TELEVISÃO
"Tenho de estar aberto para a curva perigosa no caminho"
Por Márcio Gonçalves Estadão Conteúdo

O universo homossexual está totalmente inserido na vida de Claudio Lins atualmente. O ator, que interpreta o recatado Sérgio de Babilônia, não é gay. Mas interpreta um quarentão com conflitos em relação à sexualidade na novela das 21h da Globo e é dono de uma boate frequentada pelo público GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) no Rio de Janeiro. O negócio é em sociedade com a esposa, a empresária Alexandra Di Calafiori, com quem vive há 12 anos, e tem um filho, Mariano, de quase três anos. Além disso, produz uma versão musical de O Beijo no Asfalto, clássico de Nelson Rodrigues que trata do preconceito que um homem sofre ao beijar outro, à beira da morte, na rua. "Estou inserido nessa temática até o pescoço. E juro que não foi proposital", brinca ele, que deve estrear o espetáculo ainda neste ano, no Rio. Na novela, Sérgio foi casado e, depois de conhecer o atleta Ivan (Marcello Melo Jr.), fica ainda mais confuso em relação aos desejos sexuais que tem por homens. Uma trama que vem chamando a atenção e marca o retorno de Claudio à Globo, depois de 12 anos - seu último trabalho na emissora foi em Sabor da Paixão, que terminou em 2003. "Fazer uma novela do horário nobre já é legal pela exposição. Quando se trata de um personagem com esse destaque, a expectativa é sempre muito grande. Espero que isso dê um gás na minha imagem e faça com que outras portas se abram", torce ele.
Você assistia à Babilônia antes de ser chamado para fazer a novela?
Via algumas vezes. Na verdade, tenho dormido muito cedo. Faço o sacrifício de deitar um pouco mais tarde agora, justamente para assistir. Ou, quando não consigo, coloco para gravar. O hábito eu não tinha porque tenho me acostumado a seguir os horários do meu filho.
Quando foi escalado para interpretar o Sérgio, sabia que inicialmente a trama gay de Ivan se desenvolveria com o Carlos Alberto, papel de Marcos Pasquim?
Sabia por alto, mas tive de me informar melhor sobre essa troca depois que entrei na novela. Eu já conhecia o Pasquim, mas não chegamos a conversar sobre esse assunto. A gente se encontrou mesmo na hora de gravar. Pesquisei por fora.
Desde que começou a aparecer em Babilônia, o que tem ouvido nas ruas sobre o personagem?
O feedback tem sido bem positivo. Encontrei pessoas que já declararam torcida pelo casal. E ouvi também muita coisa de amigos, alguns emocionados e se identificando com a dificuldade do Sérgio de se assumir e ter coragem de encarar sua própria sexualidade. A história do Sérgio é muito pertinente, porque ele mesmo tem preconceito e não sabe lidar com isso. E é algo que existe demais por aí. Tenho percebido uma identificação por parte do público. Meus amigos gays são assumidos e nenhum demorou tanto quanto o Sérgio, mas já tiveram de enfrentar essa definição em algum momento.
Você e sua esposa são sócios do Galeria Café, uma famosa boate GLS localizada em Ipanema, na Zona Sul carioca. Como é sua relação com o público gay?
Em função de viver nesse meio artístico, convivo com homossexuais desde criança. Não quer dizer que não existam gays em outras profissões, mas a abertura para a diversidade sexual é maior em algumas e esse é o caso da minha. Meus pais tinham como grandes amigos um casal gay que esteve junto por 15 anos e um deles era heterossexual antes dessa relação e, após a separação, voltou a se envolver com mulheres. Para mim, histórias de amor são histórias de amor.
Você acredita que, no caso do Sérgio, ele possa também se envolver com outras mulheres?
Nesse momento, o Sérgio não sabe exatamente o que quer. Mas tem certeza do que não quer, então não vejo essa possibilidade. Ele já foi casado, se separou e não quer repetir isso.
Não há motivos aparentes para que Ivan e Sérgio não fiquem juntos, exceto pela própria aceitação dele. O que você espera desse final?
Ah, isso a gente nunca sabe. Tenho de estar aberto para qualquer curva perigosa no caminho. Mas acho que o grande barato da trama do Sérgio é essa passagem da condição covarde em que vive para se assumir publicamente. Essa é a grande função dele na novela. E isso independe de um desfecho com o Ivan. Acho até que esse detalhe é secundário. O mais importante para ele é a aceitação pessoal.
Da maneira como você fala, parece não ter tanta confiança nos dois como um casal. Por quê?
Não é isso. Sérgio e Ivan são pessoas muito diferentes. Podem dar certo, mas também podem não dar. Um é ligado demais à liberdade e também mais novo, se expõe mais. O outro tem ritmo mais controlado e discreto. São culturas diferentes que podem se complementar ou, de repente, se chocar. Há ingredientes para que tudo possa acontecer no futuro de ambos.
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