CULTURA
Danilo Caymmi: "Tom Jobim colocou a minha voz no lugar certo"
Por Daniel Oliveira*

No dia 25 de janeiro de 1927 nasceu Antonio Carlos Jobim. O maestro e pianista da bossa nova, autor de clássicos definidores da música brasileira como Garota de Ipanema, Chega de Saudade e Ela é Carioca, foi muito lembrado e louvado ontem pelos seus 90 anos. Danilo Caymmi, cantor, compositor e arranjador, fez uma das grandiosas homenagens. Ele gravou o álbum Danilo Caymmi Canta Tom Jobim, dedicado à obra de Jobim e lançado na data de aniversário pela Universal Music.
“Eu conheci o Tom quando ainda era estudante no colegial, na gravação do disco Caymmi Visita Tom. Na época, estava mais preocupado com a prova de química do que com o registro. E lembro que a música me pegou, fiquei impressionado com tudo. Até que nos anos 1980 fui chamado para o grupo dele”, fala Danilo em entrevista por telefone ao A TARDE, numa tarde de lembranças do amigo e compadre e do tempo que integrou a Banda Nova, de Jobim.
No novo álbum, celebrativo, ele interpreta canções como Água de Beber, Ela é Carioca e Querida, profundamente ligadas à sua vivência pessoal e com a criação de Tom Jobim. Escolheu um repertório de onze músicas marcantes, que têm a dimensão reforçada pelo seu vozeirão afinado e cheio de texturas. “É tudo muito afetivo. E, claro, escolhi o que poderia dar o meu melhor. É um trabalho que também tem muito a ver com memória. Eu vi ele fazendo Querida para a abertura de uma novela da Globo”, conta.
As faixas inicialmente foram registradas somente com a voz de Danilo e o violão de Flávio Mendes (também produtor). Depois o intérprete cobriu, como se fala no meio musical, com a sua flauta e, quando necessário, com o violoncelo de Hugo Pilger. Ele explica os seus caminhos estéticos: “A gente achou que não precisava de piano e percussão. Ficou um disco sem esses elementos e baseado no violão e na voz. E gravei as flautas porque dão uma sonoridade muito jobiniana”.
Danilo Caymmi Canta Tom Jobim começa com Bonita, que ganha a sua segunda gravação com a letra de Vinicius de Moraes, encontrada há alguns anos no acervo do poeta. Em Ela é Carioca, a bossa aparece na medida em que a canção vai acontecendo e o violão segue a voz, enquanto Por Causa de Você (Jobim e Dolores Duran) é carregada de ternura e lembranças. “Minha mãe cantava e eu adorava desde garoto”, revela.
O trabalho também tem o afro-samba Água de Beber (Jobim e Vinicius), a monumental Luiza e Estrada do Sol (Jobim e Dolores), esta com participação do casal Stacey Kent (cantora) e Jim Tomlinson. “Ela é uma cantora que gravou Henri Salvador, compositor (francês) que eu gosto muito”, diz Danilo, que em As Praias Desertas traz um pouco do universo praieiro de Dorival Caymmi para o disco.
Muitos legados
Danilo ressalta o lugar central que Jobim ocupa tanto em sua vida como na cultura brasileira. “Lá em casa a mamãe (a cantora Stella Maris), mineira, dizia: ‘Dori é o violonista, Nana a cantora e Danilo o flautista’. Então não estava preocupado com o canto. Foi o Tom que colocou a minha voz no lugar certo. Eu ainda não me dava conta disso e ele antecipou, como um grande maestro e músico que ele era”, relata.
Um dos gigantes da música brasileira, compositor renomado no mundo inteiro, Tom Jobim, segundo Danilo, também era muito atento às questões ambientais e culturais do país. “Ele tinha um encantamento e uma preocupação com a ecologia, com os animais, com a floresta atlântica que ele tanto amava. E atualmente a nossa ecologia está tão ameaçada. E era um homem do povo, que queria chegar nas pessoas e mostrar a qualidade da nossa música. Ele pensava e falava muito sobre isso”.
* Sob supervisão da editora-coordenadora Simone Ribeiro
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