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"Deus fez Salvador para dar uma palinha do que é o paraíso”

A atriz está de volta à capital baiana como protagonista da comédia A Iluminada

Publicado sexta-feira, 01 de abril de 2022 às 06:02 h | Autor: Eugênio Afonso
Heloísa Perissé, atriz e humorista
Heloísa Perissé, atriz e humorista -

A comediante carioca Heloísa Perissé (Cine Holliúdy), 55, viveu em Salvador dos 11 aos 18 anos e se considera também baiana – não de nascença, mas de ‘adolescença’. Agora, Lolô, como é tratada carinhosamente no meio artístico, está de volta à capital baiana, não somente para rever os amigos da terra, mas também como atriz consagrada e protagonista da comédia A Iluminada, espetáculo que abre a programação da 22ª Edição do Catálogo Brasileiro de Teatro.

Com texto do próprio punho, Heloísa vai estar no palco principal do Teatro Castro Alves, neste sábado, 2, às 21h, em apresentação única, contando a história da milionária tia Doro, uma conferencista motivacional quântica que, através de palestras, oferece ao público uma nova visão de vida.

Lolô, uma das maiores amigas do ator Paulo Gustavo (morto de covid em 2021), conta que ele foi a primeira pessoa que soube da existência de tia Doro e a presenteou com a peruca da personagem. Um mimo que ela promete carregar para o resto da vida.

Recentemente, depois de descobrir um câncer raro nas glândulas salivares, que a deixou curada com cirurgia e tratamento específico, Lolô revela que acabou vivendo uma pandemia particular, que esse foi um período muito importante em sua vida, e que a sequela (um sorriso não tão aberto, segundo ela) não a incomoda. E aproveita para avisar que tudo isso está na peça.

Em quase 30 anos de carreira, Perissé, que já participou de dezenas de peças de teatro, filmes, séries e novelas, revela que foi muito feliz em viver Dercy Gonçalves na minissérie global (2012), que gosta também de textos dramáticos, personagens fortes e que deve voltar, ainda esse ano, à TV aberta, para uma nova temporada da série Cine Holliúdy, agora como uma prefeita empoderada.

A favor de que os artistas se posicionem publicamente sobre questões sociais, a atriz conta que é uma pessoa engraçada desde pequena e que Salvador é a sua cidade do coração, um lugar que a transporta para o melhor da vida.

Cristã assumida, mas sem religião predefinida, a humorista gosta de frisar que agora está mais voltada aos trabalhos como roteirista e escritora e que deve vir por aí novos projetos nessa seara.

Pelo WhatsApp, Heloísa Perissé conversou com o Caderno 2+ sobre a peça que traz a Salvador, o desejo de viver personagens fortes e mais dramáticos, o posicionamento dos artistas sobre questões de abordagem social, a cura do câncer que a vitimou, novos talentos do humor e a importância da fé em sua vida.

De que trata A Iluminada? Conte um pouco também sobre o cenário e o figurino.

O espetáculo é sobre a hilária tia Doro. Ele conta a história da iluminação dessa personagem que nasceu Doroteia das Dores e depois virou tia Doro. O cenário é o de um ted talk e o figurino é um blazer, uma roupa super chique de uma mulher milionária que hoje é felicíssima.

Qual a relação do câncer nas glândulas salivares, que você teve recentemente, com a peça? A sequela te incomoda?

Primeiro, tive uma pandemia particular que juntou com a pandemia no coletivo. Esse foi um período muito importante na minha vida porque foi quando vivi o meu interior, descobrindo novos espaços, novos lugares, e tudo isso eu coloco na peça. É uma peça pra cima, otimista onde você começa a aprender a transformar merda em adubo. Fiquei com uma sequela, um sorriso não tão aberto como eu tinha antes, mas ele não me incomoda porque é um sorriso muito mais maduro, pleno e feliz.

Qual a relação do comediante Paulo Gustavo com o espetáculo?

Ele foi a primeira pessoa que contracenou com tia Doro. Quando Paulo viajou para Nova York, voltou com a peruca da personagem. Foi um presente dele que vou usar pra sempre, se Deus quiser.

Por que você costuma optar pela comédia? Sempre preferiu esse gênero?

Certas coisas na vida você escolhe, certas coisas a vida escolhe você. A comédia sempre fez parte da minha vida. Não diria que tenha uma preferência por esse gênero, eu adoro um drama, adoro suspense, mas a comédia, pra mim, é uma coisa muito natural, e como já tenho um olhar cômico para todas as situações da vida, isso reflete muito no meu trabalho.

Quando você se descobriu engraçada?

Quando nasci. Desde sempre fui uma pessoa engraçada, aquela que com dois anos animava os natais da família. Só aprendi a capitalizar esse meu jeito de ser. Uso, inclusive, como exemplo, a frase da mãe de uma grande amiga minha, Julieta Viana, que falava assim quando me via na televisão: ‘olha pra Lolô, ganhando dinheiro só sendo o que ela é’. Acho isso maravilhoso.

Sei que você passou a adolescência em Salvador. Qual sua relação com a cidade?

-Salvador é a minha cidade do coração. Digo que não sou baiana de nascença, mas sou de ‘adolescença’. Me considero soteropolitana. Tenho um amor por essa cidade que me transporta pro melhor lugar da vida, a fase em que morava com meus pais e tinha meus amigos e onde a vida era uma praia linda, gostosa, com aquela água quente, a brisa morna, um acarajé e uma cerveja muito gelada. Pra mim, Deus fez Salvador pra mostrar pra gente uma palinha do que é o céu, o paraíso.

Quais os prós e os contras de ser uma atriz global?

Não posso dizer que tenho contras em ser uma atriz global. Acho que a Rede Globo é uma empresa maravilhosa e que está sempre procurando se atualizar. Tenho muito amor, graças a Deus, pela empresa em que  trabalho.

Você já fez Dercy na TV. Qual a outra, ou outras, grande personagem que ainda quer interpretar?

Fui muito feliz vivendo Dercy Gonçalves, foi um trabalho incrível na minha vida. Gostaria agora de viver uma política, uma mulher com uma grande influência. Vou fazer, em Cine Holliúdy, uma prefeita empoderada e já vou ter essa oportunidade nesse papel.

Você acha que um artista popular precisa se posicionar politicamente hoje em dia?

Talvez politicamente não seja a questão mais importante, acho que é muito importante o artista se pronunciar socialmente. Acho isso mais rico, posturas que ajudem a edificar a sociedade.

Tenho visto entrevistas em que você fala de religião. Isso tem a ver com a cura do câncer, e qual sua religião?

Hoje não tenho uma religião, me denomino cristã, sem títulos. Vivo a religião no sentido do religare, da ligação com o criador, não na questão dos dogmas. Essa é a religião que tenho, a do amor de Deus.

Li que você quer fazer mestrado em filosofia, pedagogia ou teologia, é isso mesmo? Vai largar a carreira de atriz ou acumular funções?

Não sei se vou ser atriz até o final da minha vida, agora, com certeza, escritora sim. Quero escrever para as pessoas que admiro. Não que eu vá parar como atriz, mas vou escolher muito mais os trabalhos que faço. Agora, escrever é uma coisa que quero fazer pra sempre, e não vou deixar de estudar jamais.

Como está a grade de humor na TV? Você tem acompanhado e gosta dessa nova safra de humoristas?

Por enquanto, não tem nenhum programa de humor na Globo. Acho que isso está sendo reestruturado para vir de uma forma bem forte. A nova safra de humoristas é ótima, inclusive minha filha vai fazer agora uma série na Netflix chamada Sem Filtro. Amo ver a vida se renovando, acontecendo a todo instante. Isso aumenta a esperança e a vontade de estar se atualizando. Vida gera vida.

Você é uma artista muita ativa. Já tem novos projetos?

Vou gravar duas temporadas de Cine Holliúdy, depois tem um filme adaptado da minha peça Loloucas, e quero fazer ainda esse ano o roteiro do filme A Iluminada. São essas as bolas que estão quicando. Tô pra jogo.

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