CULTURA
Dicionário Baianês ganha edição atualizada
Por Verena Paranhos

Para começar a apresentação do aniversariante no clima da obra, é preciso fazer uma ressalva aos menos precavidos: na Bahia, o nome do autor tem rima e pode ser seguido pela já tradicional expressão "lá ele!" ou incorporar o sufixo do baianês "ivis".
No início dos anos 1980, muito antes destas manifestações pegarem, Nivaldo Lariú já era um ouvinte atento das expressões baianas.
Começou anotando os termos da língua local em rascunhos, até reunir 500 verbetes com ilustração do amigo Hélio Lage (1946 - 2006) . O engenheiro de telecomunicações saiu batendo de "porta em porta" e, em 1993, conseguiu editar de forma independente o Dicionário de Baianês.
"Se eu sou o pai do dicionário, o publicitário Carlos Sarno é o padrinho e o avô é Jorge Amado. Ele já usava expressões do baianês", diz Lariú, que é natural do interior do Rio de Janeiro, mas "baiano graças a Deus" há mais de 40 anos.
Celebrando os 21 anos do dicionário e a marca de 200 mil exemplares vendidos, o autor e a Empresa Gráfica da Bahia (Egba) lançam três edições comemorativas e fazem um evento para convidados nesta sexta, às 19 horas, na Associação Atlética da Bahia.
Souvenir da terra, vendido a preço popular no aeroporto, em livrarias e bancas de revista, o livro mantém o formato de bolso e também ganha outra versão em capa dura, com fitinha do Bonfim como marcador de página. A quinta edição incorpora mais de 100 verbetes, alguns contemporâneos, como "pombo sujo" e "sacizeiro", e outros enraizados.
"A maioria é antiga, que não tinha sido coletada. Tenho preocupação de colocar o que é de uso geral, não as gírias de grupos. Novas expressões surgem a cada verão, mas eu espero. Se não se sedimentam, não acrescento no dicionário", diz.
"Uma vez lá, não tiro mais. É interessante para pessoas de todas as idades. Você sabe o que é 'titirrane'? Significa legal, do cacete!", assim explica o termo, antigo, já fora de uso.
Mesas de bar, praia e ponto de ônibus são lugares onde o autor coleta as expressões há três décadas. De cada uma delas Lariú guarda um causo ou referência a alguma situação ou a quem lhe apresentou o termo. Por isso, começou a entrevista perguntando: "Nós estamos com tempo?".
Ele credita a escassez de novas expressões a traços da sociedade atual e a redução desses espaços de sociabilização. "Quando a insensibilidade do judiciário e a incompetência municipal permitem que se derrubem todas as barracas de praia, comete-se um crime cultural sem perdão. Ali tem uma sucessão dos gritos dos vendedores, dos personagens da praia. Coisas como essa acabam ferindo de morte a cultura popular da Bahia e, como consequência, a criação de expressões novas".
Outro aspecto da questão está na comunicação. "Não sou um radical, mas essa praga do celular, do Whatsapp, impede o olho no olho".
Tradução em imagens
Outra novidade deste ano é a publicação de Baianês - Expressões e Impressões, dicionário só de imagens feito em parceria com a artista plástica e esposa Janete Kislansky. "Escornado", "arabaca" e "cacete armado" são termos cuja tradução funciona muito mais por meio de fotografias do que de palavras.
"Às vezes eu saía com uma lista procurando as situações para fotografar, outras, me deparava com elas e não podia perder a oportunidade", conta Janete.
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