ARTES CÊNICAS
Dinamarca e Nordeste brasileiro interligados em espetáculo
O Musical', inspirado no trabalho da premiada carnavalesca carioca Rosa Magalhães
Por Eugênio Afonso

Distante cerca de nove mil quilômetros um do outro, a princípio, a Dinamarca e o Nordeste brasileiro não têm muitas afinidades. Dois sítios longínquos, geográfica e culturalmente falando, um localizado em uma área gélida da Europa e outro, no meio dos trópicos sul-americanos. No entanto, à ficção tudo é permitido.
Então, para aproximar culturas tão distintas, o espetáculo infantojuvenil Sonho Encantado de Cordel, O Musical decidiu interligar o universo onírico dos clássicos e universais contos de fadas do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen com a literatura de cordel.
O resultado é a criação de um musical que está em turnê pelo Nordeste – Salvador é a última capital – e se apresenta amanhã, às 17h, e domingo em duas sessões, às 15h e às 17h, no Teatro Sesc Casa do Comércio. São 14 artistas em cena sob a batuta da diretora teatral alagoana Thereza Falcão, autora do texto.
A ideia é falar da importância dos sonhos, da amizade e da superação, através de contos de fadas sob a forma de cordel.
“Mostramos, assim, que a fonte de todas as histórias é a mesma. Elas atingem a todos, em todos os lugares, rompem fronteiras, unem pessoas”, exemplifica Falcão.
Livremente inspirado no enredo Uma Delirante Confusão Fabulística, de 2005, criado por Rosa Magalhães (1947 -2024) para a Imperatriz Leopoldinense – no qual a carnavalesca carioca homenageia o centenário de Andersen –, Sonho Encantado de Cordel tem músicas inéditas e originais de três grandes compositores nacionais: Paulinho Moska, Chico César e Zeca Baleiro.
Segundo Thereza, o cordel tem a capacidade de unir temas e mundos diversos. “Tanto o cordel quanto os contos de fadas visitam o fantástico, o fabuloso. E o cordel ainda tem a métrica, que lhe dá uma música própria. Era o estilo perfeito para o que eu imaginava e tem muito a ver com o trabalho da Rosa, que unia clássico e popular com muita propriedade”.
Mas qual seria mesmo a relação entre Rosa e Andersen? “Ambos eram apaixonados por sua arte. Ambos fizeram da arte o seu grande amor (como diz o samba-enredo), ambos tomaram a sociedade e suas mazelas como fonte de suas obras através da beleza, da originalidade e da fantasia”, explica Thereza.
Universo encantado
O musical conta a história de Rosa Cordelista (homenagem a Rosa Magalhães) – vivida por Elizândra Souza –, uma menina nordestina que, apesar da desaprovação da mãe, que a criou sozinha e com grande dificuldade, está determinada a se tornar uma grande cordelista.
Movida pela força da imaginação, Rosa é transportada para um universo encantado, onde encontra o lendário Christian Andersen. Juntos, eles embarcam em uma jornada repleta de personagens míticos dos contos de fadas dinamarqueses.
Nesse reino de fantasia, Rosa e Andersen se envolvem em uma aventura épica, onde reis vaidosos, imperadores sábios e a poderosa rainha da neve competem pelo título de maior monarca de todos os tempos.
“O público vai ver um espetáculo dinâmico, que obedece a ordem de um desfile de carnaval e tem um final apoteótico, que bota todos para dançar. Vai ver um espetáculo alegre e emocionante”, adianta Thereza.
No elenco, Aline Wirley, Igor Rickli, Gab Lara, Elizândra Souza, Ricca Barros, Adrén Alves, Marcela Coelho, Giulie Oliveira, Sofie Orleans, Danni Marinho, Fábio D’Lélis, Carol Romano, Lígia Bié e Mikael Marmorato.
Para a cantora e atriz Aline Wirley (ex-Rouge e ex-BBB), que vive dois personagens – a mãe de Rosa Codelista e a rainha da neve –, Sonho Encantado de Cordel é um espetáculo arrebatador.
“Tem a beleza da gente trazer a diversidade de culturas. A gente tem a literatura de cordel, o samba, os contos de fada, então essas linguagens todas unidas fazem com que a gente entre num estado de alegria, de beleza mesmo. É um espetáculo muito lindo, realmente encantador”, relata Aline.
Intérprete do rei vaidoso, do soldadinho, e apresentando-se pela primeira vez na Bahia, o ator paranaense Igor Rickli (marido de Aline) diz que o propósito deste trabalho é levar magia e encantamento para crianças e adultos.
“Misturamos brasilidade, literatura de cordel com contos de fadas. Um trabalho muito especial que chegou de surpresa na minha vida e que tenho maior orgulho de fazer parte”, confessa Rickli.
São mais de 10 cenários, mais de 50 figurinos criados por Rosa Magalhães, e a expectativa de se apresentar pela primeira vez em solo baiano. “A gente está com uma expectativa boa de encontrar o público, levar a cultura nordestina e encantar com os contos do Andersen. Rosa deixou tudo já organizado para o espetáculo acontecer, então estamos indo com a nossa melhor expectativa”, destaca Aline.
Tributo póstumo
Mas Sonho Encantado de Cordel não se limita apenas a abraçar o Nordeste brasileiro e a Dinamarca, acaba sendo, também, uma grande homenagem póstuma ao legado da professora, artista plástica, figurinista, cenógrafa e lendária carnavalesca carioca Rosa Magalhães, a maior detentora de títulos no Sambódromo e que nos deixou, no ano passado, aos 77 anos de idade.
“Rosa é uma das maiores artistas plásticas do Brasil. Era uma pessoa maravilhosa, alegre, uma professora que formou muitos profissionais atuantes, uma carnavalesca de mão cheia, que ganhou muitos carnavais e deu muita alegria pros foliões”, finaliza Thereza Falcão.
Apresentado pelo Ministério da Cultura e pela CAIXA Vida e Previdência, Sonho Encantado de Cordel, O Musical é patrocinado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Sonho Encantado de Cordel, O Musical / Teatro Sesc Casa do Comércio / 15 e 16 de fevereiro / sábado, 17h, domingo, 15h e 17h / Ingressos: de R$ 19,40 a R$ 120 / Vendas na bilheteria do teatro e no Sympla / Classificação: livre
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