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Disponível no Youtube, 'A Mensageira' aborda isolamento e mediunidade

Longa Metragem traz as atrizes Ingrid Gaigher e a baiana Laila Garin

Publicado quarta-feira, 12 de julho de 2023 às 06:15 h | Autor: Tiago Freire*
Ingrid: “Eu já conhecia o trabalho da Laila Garin de antes e eu fiquei muito empolgada”
Ingrid: “Eu já conhecia o trabalho da Laila Garin de antes e eu fiquei muito empolgada” -

Nos últimos anos tem havido uma ascensão do formato screen life. Conforme indica o nome em inglês, o recurso mostra a “vida” através da “tela”, ou seja: tudo o que acontece na trama é visto como se estivéssemos diante de um dispositivo ou espionando a vida de alguém, espelhando seu dispositivo em nossas telas. É com essa premissa de explorar o formato que chega a nova série nacional A Mensageira, da roteirista e diretora estreante Donna Oliveira. 

Ambientada durante a pandemia, a trama acompanha Mari (Ingrid Gaigher) que é uma médium em negação com o seu dom de incorporar espíritos. Estes a incorporam enquanto dorme, e depois ela não se lembra de nada. No período em que a história acontece, as incorporações se intensificam, com mortos ávidos por arrancar Mari de casa e usá-la como instrumento para resolver suas pendências terrenas.

Percebendo-se em perigo, e sem ideia de como ajudá-los, mesmo que contra sua vontade, Mari apela. Mas não para o além. Entra em campo Madalena (Laila Garin), psicanalista que topa tratar os espíritos on line, acreditando estar diante de um transtorno de personalidade múltipla da paciente. Mas suas certezas são confrontadas ao atender todo o elenco de espíritos que se apresenta, através de Mari, para deitar no seu divã virtual. 

A produção brasileira já está com todos seus episódios no ar no YouTube, de forma completamente gratuita. 

Filmando o virtual

Filmada durante a pandemia, A Mensageira teve uma produção que se mostrou ao mesmo tempo desafiadora, mas bastante recompensadora. Com a maior parte da produção sendo feita remotamente, foi necessário um grande trabalho de coordenação entre a equipe técnica e o elenco.

“Eu acho que o maior desafio era fazer esse exercício de imaginação. Eu não estava com os atores, eu estava contracenando pela tela. E havia as dificuldades técnicas, conexão caía, às vezes tinha delays entre falas, então tinha esse timing que era para levar em conta. Também era uma questão da imaginação na hora da personagem abrir a tela do Instagram e fazer esse ‘cálculo mental’ do que ela estaria vendo, o quão rápido ela estaria digitando aquilo etc”, relata Ingrid Gaigher.

Para Laila Garin, a maior dificuldade foi contracenar com pessoas que não estavam de verdade com ela. “A parte mais difícil foi a contracena. A gente conseguiu gravar ao mesmo tempo para que a gente pudesse realmente contracenar, conversar eu e Ingrid. Já com Christian Dunker não foi possível, por exemplo, foi uma gravação separada. A gente acabou precisando se acostumar, porque era como estava nossas vidas naquele momento, dependendo desses meios onlines”, detalha Laila Garin.

“Por um lado teve uma coisa positiva de estar sozinha em casa, o que te dá uma tranquilidade, um silêncio, uma intimidade e propriedade maior com aquele lugar de atuação, mas a desvantagem ainda é não ter o apoio técnico e o seu parceiro ali perto para contracenar” acrescenta.

A distância também implicou dificuldades de coordenação técnica para manter uma determinada unidade nas gravações. Apesar das complicações técnicas e pessoais durante a produção, a diretora celebra o sucesso da equipe em conseguir amarrar o produto final. “Foi um desafio enorme, pois escrevemos e filmamos durante a pandemia, seguindo todos os protocolos de segurança. Ainda estávamos, de alguma maneira, como a Mari, aprisionados. Todo o processo foi virtual. A maioria da equipe só foi se conhecer pessoalmente na estreia da série, o que foi muito emocionante”, conta Donna Oliveira.

“Houve também os desafios pessoais. Como somos um projeto independente, a proposta era que cada um pudesse se realizar de alguma maneira no mercado. Boa parte da equipe por trás das câmeras, por exemplo, nunca havia trabalhado com ficção. A maioria dos atores nunca tinha atuado apenas remotamente. Eu nunca havia dirigido e produzido e a série me proporcionou essa experiência. Digo que fizemos isso porque não sabíamos exatamente o tamanho do que estávamos realizando, por isso fomos tão corajosos”, celebra a diretora.

Desenvolver à distância

Dos 12 episódios de A Mensageira, a maioria gira em torno de conversas entre a protagonista e sua psicóloga. Por tratar-se de uma história com cenário e muito mais limitado, a importância de desenvolver uma relação crível entre as personagens tornou necessário para que aquela história pudesse fluir o melhor possível. 

“Como é uma série de roteiristas, o texto e cada intenção dele era muito importante que fosse traduzido na tela pela atuação, sobretudo por ser uma série que trafega entre diferentes gêneros, o que é um grande desafio. Na primeira leitura, a química entre as duas foi absurda, uma extraindo da outra a sua melhor atuação. Foi emocionante de ver. Já sabíamos, ali, que tínhamos a melhor dupla”, diz Donna.

“Por causa do tempo de estúdio e questões de agenda, alguns atores fizeram suas cenas sem que a protagonista estivesse de fato interagindo junto, porém, era essencial para nós que todas as trocas entre Mari e Madalena fossem gravadas com as duas atrizes atuando simultaneamente. Isso foi preponderante para vermos a performance tão encaixada e destacada que elas mostram na tela”, pontua.

Para as duas atrizes, trabalhar juntas, mesmo que remotamente, se mostrou uma grande dádiva, com ambas elogiando todo o processo de contracenação.

“Foi muito interessante, muito legal. Abraçamos esse desafio da distância juntas, se não tivesse essa unidade e essa ajuda, não teria sido tão produtivo. A gente buscou entender a velocidade de cada uma para fazer o máximo. Eu já conhecia o trabalho da Laila de antes e eu fiquei muito empolgada. Da mesma forma que a Mari vê na Madalena como alguém de referência, eu via ela no mesmo patamar”, comenta Ingrid

"Foi uma ótima surpresa, eu achava que seria difícil fazer essas incorporações e achar o tom disso, como deixar crível e de bom gosto. Eu fiquei encantada com o trabalho dela, não achei uma caricatura, não achei estereotipado. Agora vendo a série editada, é um trabalho de composição sutil e muito incrível”, finaliza Laila.

*Sob  a supervisão do editor Chico Castro Jr.

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