LITERATURA
Em novo livro de contos, Paulo Bono narra as desventuras de ‘losers’ baianos
O que torna o conto saboroso é a forma como Bono o narra
Por Chico Castro Jr.
Autor de Espalitando (Cousa, 2013, contos) e Sexy ugly (Mondrongo, 2019, romance), o escritor soteropolitano Paulo Bono retorna à cena literária com um novo livro de contos, Pepperoni (P55). O lançamento é sábado, na Cervejaria ArtMalte.
Grosso modo, pode-se dizer que os contos de Pepperoni refletem o que seria o inverso do que vemos, por exemplo, no Instagram: personagens perdedores, decadentes, feios e fracos. Por outro lado, são honestos em relação às próprias falhas.
Um bom exemplo é o conto All in, no qual um homem desiste da casa e da família para se isolar em uma quitinete de 30 m² e finalmente encontrar a paz que tanto lhe faltava. Reprovável? Sim. Desonesto? Não, já que pior seria ele permanecer lá e acabar gerando ainda mais infelicidade para a mulher, os três filhos (os quais ele não abandonou, só saiu de casa) e a si próprio.
O que torna o conto saboroso é a forma como Bono o narra, em prosa enxuta, direta, sem rodeios, com um humor seco na linha de um Charles Bukowski.
“Acho que tentei imitar muita gente neste livro. Bukowski, Rubem Fonseca, (Kurt) Vonnegut, (Ray) Bradbury e Larry David. Claro que não consegui. O resultado final é Paulo Bono mesmo”, garante o autor.
Em suma, Pepperoni reúne 15 contos sobre personagens que, de acordo com o autor, "preferem lamber suas kriptonitas", ou seja, reconhecem suas fraquezas e convivem com elas, ao invés de criar um mundo de aparências em uma rede social. Apesar dessa característica em comum perpassando as páginas do livro, Bono nega que há um tema em comum amarrando os contos.
“São 15 contos independentes. Não há um tema costurando as histórias. Mas depois do livro finalizado, notei que havia algo em comum em todos os contos: o tipo de personagem. São criaturas infelizes e perdedoras que fazem questão de lamber suas kriptonitas”, conta.
“Elas tropeçam, traem, roubam, matam, estupram, invejam, decepcionam, se frustram, desistem e perdem tudo. Enfim, acho que Pepperoni é sobre figuras que não costumamos ver nos stories do instagram”, observa Bono.
Que cancelamento?
Em um mundo no qual a incorreção política perdeu o sentido original ao ser sequestrada pela extrema direita, Bono não acredita em cancelamento: “Eu escrevo sobre o que vejo. Pepperoni traz personagens, temas e cenas que existem em nosso mundo. A ficção serve pra isso. Pra ajudar a refletir sobre o que acontece fora das páginas”, afirma.
“Só acho que confundir personagem com autor também é um problema sério. Mas claro, as pessoas têm o direito de se ofender e cancelar o que quiserem. Minha parte é escrever”, lembra o autor.
Na dúvida, vale a leitura. Na pior das hipóteses, arrisca-se dar boas risadas de gente (que lembrem-se, não existe) em situação pior que a nossa: “Humor é uma pedra fundamental. Ao contrário do que muitos pensam, é um jeito sério de enxergar o mundo e clarear a realidade. É também uma ferramenta útil na escrita. Embala o ritmo e abre as cortinas para a melancolia dar o seu show. Na verdade, o humor serve pra dar uma realçada nas kriptonitas”, conclui.
Lançamento: sábado (07), 16h / Cervejaria ArtMalte (Rua Feira de Santana, n. 354, Rio Vermelho)
Pepperoni / Paulo Bono / Editora P55/ 170 páginas/ R$ 50 / p55.com.br
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