CULTURA
Em segundo disco, Radiola vai de Raul a Nietzsche
Por Maria Santossa | A TARDE
Ouça: "Gelo Liso é Paraíso..." e "Samba da Opinião"
Com uma rima extraída do livro A gaia ciência, obra do filósofo alemão Nietzsche, a banda Radiola apresenta seu segundo disco, Gelo Liso é Paraíso pra Quem Sabe Dançar. “A partir de uma dificuldade, é possível se destacar. Reforçamos isso com o próprio mandacaru (vide capa do disco), que está em um ambiente hostil e seco como o sertão, mas é capaz de florescer”, aponta o vocalista Fabinho.
Depois do lançamento virtual, no mês de abril, no site Myspace, a banda apresenta ao vivo, no próximo domingo, no Parque da Cidade, as músicas que, na própria gravação, já foram pensadas para os shows. “O instrumental do CD foi gravado ao vivo. A intenção foi fazer um CD com efeitos que pudessem ser executados no palco”, afirma.
Repertório – O dedo de Nietzsche dá o empurrão inicial ao CD. A faixa-título, que chegou de última hora à posição de primeira do disco, faz uma introdução dançante. Em seguida, a produção patina no existencialismo nietzschiano em canções mais subjetivas e densas, como Mar Aberto e Congelador.
Na quarta faixa, o disco toma, literalmente, o caminho da roça e retorna às origens baianas, com composições impregnadas da musicalidade afro-brasileira. Caminho de Roça é um mantra em cima do ijexá e conta com a participação de Otto. As seguintes, Samba da Opinião e Meninos do Dendê, mantêm a pegada regional, com caxixis, berimbaus, tamborins, surdos e apitos. “Em Calundu, a sonoridade baiana fica mais marcante. Ela é a música conceitual do disco. Tem berimbau, que é baiano, sim. Tem samplers de cantos do candomblé, que são baianos também, assim como nós”, explica Tadeu Mascarenhas, que acumula as funções de tecladista e produtor do disco.
Não Pode mais Parar é a retomada do álbum, que volta a ser dançante. “É a nossa música mais pop. Ela convoca quem está ouvindo para dançar. É uma volta à boate”, arremata Tadeu. A melódica O Que é Que Há e Hermética fecham o disco de forma mais introspectiva.
Tocando Raul – Assim como em Dois de Fevereiro, álbum de estreia, que trouxe a versão de Vai Trabalhar Vagabundo, de Chico Buarque, o novo trabalho da banda contém uma outra adaptação, a emblemática Tapanacara, de Raul Seixas.
A canção desenha bem o confronto de opiniões entre a juventude rocker do Cine Roma e a turma bossa-nova que frequentava o Teatro Vila Velha, nos idos da década de 60. Nela, Raulzito mostra sua angústia ao cantar sobre "um tapa na cara que levou de Odara". Odara é música de Caetano Veloso, integrante da turma do Vila que, inicialmente, não estava aberta às influências da música norte-americana presentes no rock de Raul.
A escolha, segundo o vocalista, se deve ao fato de Raul ser um ídolo da banda e também pela aproximação de integrantes da Radiola com Os Panteras. Tadeu Mascarenhas e o guitarrista Tico tocaram, recentemente, na Virada Cultural, em São Paulo, com o primeiro e único grupo que acompanhou Raul Seixas.
A música atrasou a produção do disco em quatro meses. “Os direitos autorais estão divididos entre seis pessoas e algumas moram no exterior. A ida e vinda de documentos acabou atrasando um pouco”, comenta Fabinho.
Apesar da boa escolha, faltou ousadia na hora de enveredar o universo rocker . “Na verdade, é uma releitura bem parecida com a música original. É mais uma homenagem do que uma versão atualizada”, reconhece.
| Serviço |
Evento: Lançamento do novo disco da Radiola
Dia/Hora: Domingo, 17, 11h
Local: Parque da Cidade, Itaigara
Ingresso: Entrada gratuita
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