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Encontro Ibero-Americano debate setor cultural em Salvador

Evento reuniu autoridades e agentes políticos do setor cultural de mais de 19 países na capital baiana

Publicado sexta-feira, 12 de abril de 2024 às 11:31 h | Atualizado em 12/04/2024, 15:46 | Autor: Bianca Carneiro e Felipe Sena
Diretor-geral da Cultura da OEI, Raphael Callou, destacou importância da capital baiana para o cenário mundial
Diretor-geral da Cultura da OEI, Raphael Callou, destacou importância da capital baiana para o cenário mundial -

Após iniciar os trabalhos em Salvador, o I Encontro Ibero-Americano de Cultura desembarcou em na capital baiana nesta quinta-feira, 11. O evento da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) segue até esta sexta-feira, 12, com oficinas e painéis sobre diversidade, interculturalidade e gestão cultural sob uma perspectiva afrodescendente [veja programação abaixo].

O primeiro dia foi marcado com reuniões de trabalhos com a participação de especialistas da OEI de diversos países como Panamá e Espanha. O evento trata de temas como cultura, sustentabilidade, arte, entre outros. Em entrevista ao Portal A TARDE, o diretor-geral da Cultura da OEI, Raphael Callou, falou sobre a escolha de Salvador para sediar uma parte do Encontro.

“Nossa proposta é trazer um ambiente compartilhado a partir das experiências práticas de trabalho dentro da cooperação técnica internacional em contato naturalmente com as autoridades locais, regionais, nacionais dentro do espaço ibero-americano que congrega a América Latina, além de Portugal e Espanha", explicou.

Callou menciou ainda um dos principais temas de discussão no evento, a decolonilidade como fator de valorização da cultura na capital baiana. "Dentro desse panorama, um tema que é muito relevante e que parece ganhar cada vez mais notoriedade a partir também do trabalho sobre diversidade cultural na região, trata justo também dos processos de decolonização na cultura e também da perspectiva afrodescendente na contribuição no desenvolvimento da cultura ibero-americana", afirmou.

"Tendo em vista esses dois elementos, nos parece muito interessante e importante, como uma cidade que é muito pulsante do ponto de vista da cultura afro-brasileira, ter também Salvador como um vetor de expressão”, concluiu.

Tourinho apontou o desafio de desconstruir o pensamento colonial na sociedade
Tourinho apontou o desafio de desconstruir o pensamento colonial na sociedade |  Foto: Beatriz Meneses

Em seu primeiro dia em Salvador, o grupo refletiu sobre a cultura e o impacto social, oportunidades e os desafios para as políticas públicas do setor. O Secretário de Cultura de Salvador, Pedro Tourinho, destacou o fato de um evento do tipo ser o primeiro realizado na Casa das Histórias.

“É um evento super importante para a gente analisar e discutir e debater o papel também da nossa identidade da cultura de Salvador, inserida numa cultura ibero-americana. Então, tem muito debate político, muita formação política a ser trabalhada em cima disso e cultural. A OEI é uma ONG dos estados ibero-americanos que tem apoiado a prefeitura, tem sido uma parceira em desenvolvimento de diversos projetos e tem isso aqui em Salvador, primeiro evento também aqui no prédio da Casa das Histórias”.

O secretário também apontou o desafio de desconstruir o pensamento colonial na sociedade. “Quando pensamos em cultura ibero-americana, temos um grande desafio pela frente, que é pensar de forma decolonial. Nós temos a obrigação de desconstruir esses alicerces de pensamento, de opressão, com os quais nós fomos construídos”.

Público e reinvidicações

Em conversa aberta ao público no primeiro painel com o tema "Diversidade Cultural e Interculturalidade: Reimaginando a Cultura Ibero-Americana", que abordou entre diversos temas, a curadoria de arte, José Eduardo Ferreira, um dos fundadores do Acervo da Laje, reiterou que um dos principais do trabalho de curador em Salvador é o atrito com o poder. 

"Para a curadoria ser efetiva é preciso mexer no poder, porque o poder é quem manda e se a curadoria não estiver ligada com a governança, pode ter a proposta mais decolonial possível, ela não avança. Se a curadoria não é circular, ela é realizada em um nome e estamos cansados de nomes hegemônicos fazendo curadoria para nós e a curadoria agora é um campo de disputa e toda comunidade tem que ter pessoas para se colocar nesse papel e nesse lugar também", explicou. "Eu digo que é nosso professor", completou um dos participantes do painel, Marcelo Campos, Curador-chefe do Museu de Arte do Rio (BRA).

"Engravidadora de sonhos", como se descreve, Maria Flor Guerreira, mestranda em Dança na UFBA, de 54 anos, finalizou a conversa aberta ao público no segundo painel com o tema "A Gestão Cultural sob uma Perspectiva Afrodescendente", com uma mensagem de esperança e reflexão.

"A gente foi escravizado por aqui e por aqui a gente também se aquilombou. Como indígena, também estou nessa luta por sustentabilidade. O recado que eu deixo para vocês é: 'não vamos nos separar não'. O colonizador nos separou. O que nos une e nos movimenta são as palmas dos pés e das mãos e as nossas são todas iguais, e é isso que nos leva pra frente ou nos recolhe, precisamos enxergar essa igualdade para sobrevivermos, porque a natureza não sobrevive sozinha", relembrou.

O segundo e último dia do encontro acontece nesta sexta-feira, 12, no Auditório do Arquivo Público Municipal. Os interessados em participar dos fóruns abertos ao público devem fazer o registro clicando aqui.

Confira a programação desta sexta:

15:00 – 15:30 Abertura institucional

15:30 – 16:00 Diálogo aberto: Apresentação do Relatório "Biodiversidade e o direito de participar na vida cultural"

Maider Maraña, Diretora da Fundação Baketik. (ESP)

Moderadora: Mónica García, OEI (ARG-ESP)

16:00 – 16:45 Diálogo aberto: "Cultura e impacto social"

João Alegria, Secretário-Geral da Fundação Roberto Marinho (BRA)

Reinaldo Gomes, Diretor-Geral da Revista Traços (BRA)

Nilzete Santos, fundadora da Afrotours Bahia. (BRA

Moderação: Manuel Gama. Consultor, Universidade do Minho, Portugal (POR)

16:45 – 17:45 Painel "Cultura e sustentabilidade de forma transversal: desafios e práticas"

Eduardo Saron, Presidente da Fundação Itaú (BRA)

Gemma Carbó, Diretora do Museu da Vida Rural da Fundação Carulla e Presidenta da ConArte Internacional (ESP)

Luis Valle, Diretor da TRIVIUM estratégias em cultura e turismo (ESP)

Marcus Faustini, Gestor Cultural e ex-secretário de cultura do Rio de Janeiro (BRA)

Moderação: Bruno Maccari, Plataforma Formar Cultura (ARG)

17:45 – 18:15 Diálogo com o público

18:15 – 19:00 Conferência de encerramento

Tiganá Santana, Cantante, poeta e produtor musical (BRA)

19:00 Saudações institucionais e coquetel de encerrament

Para participar dos fóruns é necessário registrar-se neste link.

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