CULTURA
Escola de Teatro em Barreiras é pioneira na formação de jovens
Construção das turmas acontece em diálogo com o ensino público da cidade
Por Elis Freire*

Equipamento artístico-pedagógico de formação continuada. Cada uma dessas palavras conta um pouco da proposta da Escola Municipal de Teatro de Barreiras, projeto gerido pela Secretaria de Cultura e Turismo do município. Pioneira no Estado da Bahia na formação em teatro de jovens da rede municipal e adultos, a escola oferece curso livre de teatro, oficinas de dança, acrobacia e circo em uma troca contínua com a população barreirense.
Fruto de muita pressão dos produtores culturais e artistas da cidade de Barreiras - localizada no oeste da Bahia - a Escola Municipal de Teatro (ESMUTE) se tornou realidade por meio de lei assinada em dezembro de 2016. Com sete anos de atuação, ela cumpre um papel importante de valorização da arte e cultura na cidade, segundo alunos e colaboradores.
“A escola de teatro é pioneira na Bahia. Não existe outra cidade que tenha uma escola municipal de teatro como esta. Queremos inspirar outras regiões e outras cidades com políticas públicas de arte e cultura para criar uma rede e fortalecer esse coletivo”, ressalta Danilo Lima, professor de Artes Cênicas da ESMUTE.
“É muito importante termos essa escola de teatro porque ela nos permite estar em contato direto com a arte. O valor do teatro é inegável, por complementar a formação cultural, além de incentivar a busca por conhecimento e reflexão. Isso faz do teatro uma das ferramentas fundamentais para a educação e para o desenvolvimento pessoal, social e cultural do ser humano”, conta Ana Carmem Matos, aluna do curso noturno de teatro.
A construção das turmas acontece em diálogo com o ensino público da cidade. Com pelo menos 75% das turmas matutinas e vespertinas de teatro formadas por alunos das escolas municipais de Barreiras - entre 12 e 15 anos - a ESMUTE também oferece turmas noturnas para jovens e adultos do EJA - Ensino de Jovens e Adultos - bem como para a população em geral.
Diálogo com a população
A formação vai para além dos muros da escola, com mostras artísticas abertas à população e oficinas diversas para o público, com acrobacia, circo e dança.
Parcerias com serviços públicos, como o CAPS - Centro de Atenção Psicossocial - reforçam o papel social que a escola possui na garantia do acesso à arte, cultura e lazer.
“Nosso objetivo é que esse equipamento cultural, que é artístico-pedagógico, se aproxime do público para que artistas e comunidade externa voltem a frequentar as peças de teatro. Temos uma política de formação continuada com oficinas para o público e parcerias com instituições como o SESC. Tudo isso vem sendo uma forma de aproximar a comunidade barreirense da escola com atividades culturais e críticas”, afirma Danilo, graduado em Artes Cênicas pela Ufba e Especialista em Estudos Contemporâneo em Dança.
“Para nós, não interessam apenas as aulas, mas que tenham atividades de fruição dessa arte na cidade para a comunidade observar que é possível colocar na rotina o hábito de ir ao teatro”, completa.
Além de Danilo, compõem a equipe pedagógica Egídio Junior (promotor cultural), João Victor Soares (mestre em Artes Cênicas), Osmar Mendes Junior (arte-educador) e Ramon Sousa (licenciando em teatro). Durante a formação, que dura dois anos de estudo técnico amplo, os alunos têm contato com todos os professores.
Técnicas teatrais diversas são abordadas em aulas que permitem o desenvolvimento de relações interpessoais e discussão de temas sociorraciais importantes. Estudos negros referenciados, discussão e crítica de arte, história do teatro são alguns dos temas presentes nos módulos formativos.
No ano passado, por exemplo, os alunos realizaram uma mostra cênica intitulada Insurgência Negra, abordando a importância da contribuição negra para a história do país.
“O teatro me proporciona vários benefícios, como autoconhecimento, interesse pela leitura, interação entre as pessoas, criatividade, e elevação da autoestima. Por meio da arte, as pessoas conseguem expressar suas necessidades e suas crenças. Então, eu acredito que devemos buscar mais valorização para que, mais à frente, possamos nos orgulhar da luta pela arte e cultura”, comenta Ana Carmem, aluna da ESMUTE há um ano e meio.
“O teatro ajudou bastante na minha ansiedade e depressão. Ele é importante para desenvolver o entendimento no que eu faço. A formação crítica me dá poder para influenciar, com minhas palavras, pensamentos e diálogos”, ressalta Reinaldo Carmo da Silva, aluno da escola desde 2018 e que pretende seguir a carreira de ator.
Barreiras para a arte
Dificuldade de formação de público, falta de verba e infraestrutura adequada são alguns dos problemas enfrentados pela Escola Municipal de Teatro de Barreiras ao longo desses 7 anos. Residindo em um espaço temporário com salas incipientes, o projeto segue em luta por uma maior valorização da arte na cidade.
“Faltam, no Oeste da Bahia, políticas públicas para a classe artística, seja de dança, teatro, audiovisual. São necessárias propostas continuadas e não efêmeras. A gente identifica muito essa falta no nosso dia a dia” afirma Danilo.
“Termos uma escola de teatro é um bom começo, mas ela não tem a estrutura adequada. Precisamos de mais investimentos em prol dos alunos e da comunidade. Eu acredito que, aqui em Barreiras, cultura e arte deveriam ser bem mais valorizadas porque nós temos uma cultura vasta e artistas maravilhosos, mas sem visibilidade”, explana Ana Carmem. “Falta divulgação na televisão, rádio e em outros meios de comunicação”, completa Reinaldo.
*Sob a supervisão do editor Eugênio Afonso
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