LITERATURA
Escritora mexicana premiada Brenda Rios lança primeiro livro no Brasil
Tudo vive no meio da terra (Villa Olívia Editora) tem edição bilíngue
Por Eugênio Afonso
Detentora dos prêmios Estatal de Poesía María Luisa Ocampo (2018) e Nacional de Poesía Ignacio Manuel Altamirano (2013), a renomada ensaísta e escritora mexicana Brenda Rios, 49, está em Salvador para o lançamento do seu primeiro livro no Brasil.
Tudo vive no meio da terra (Villa Olívia Editora), em edição bilíngue, tem noite de autógrafos amanhã, às 15h, na Cervejaria ArtMalte (rua Feira de Santana, 354, Rio Vermelho). O livro é uma coletânea de poemas inéditos, dividida em duas partes que transitam entre dois polos centrais: a ideia do paraíso e do amor.
Na primeira, o leitor acompanhará a chegada de uma estrangeira em uma ilha tropical. A segunda metade é composta de um diálogo ficcional e poético com o gaúcho Caio Fernando Abreu (1948 - 1996), escritor brasileiro admirado por Brenda.
A autora garante que a obra apresenta uma visão crítica do que nos é vendido como paraíso. “Eu não pretendia falar sobre paraísos em geral, mas quando penso em alguns em particular, como o conceito de ilha, trópicos, paraíso terrestre, percebo que é algo visto/descrito de fora, mais de um ponto de vista antropológico do que de nossos próprios territórios. Uma ilha é todas as ilhas, se pensarmos nisso. Uma praia, todas as praias. Foi isso que eu quis dizer, poeticamente”, ressalta Brenda.
Para a escritora, o amor é o paraíso mais prometido. “Há muita propaganda e sempre compramos o que nos é vendido, não é mesmo, quem não quer ser amado? Margaret Atwood (O Conto da Aia) diz que a ideia de ser amado é a maior ilusão, e renunciar a ela é ter nossa liberdade”.
“Chegar a uma praia virgem, sem turistas, é o paraíso. Os frutos caem por vontade própria e há uma preguiça humana e uma preguiça da própria natureza. O problema é quando todos nós recebemos o mesmo folheto, somos milhares de turistas em poucos metros quadrados e todos estamos procurando a experiência única que mudará nossas vidas”, alinhava Rios.
Cartas de amor
A autora confessa que para chegar a Caio Fernando Abreu, precisou passar por Clarice Lispector. “Minha dissertação de mestrado foi sobre ela. E quando li em uma entrevista que alguém se referia a ele como o ‘herdeiro sensível’ de Clarice, quis lê-lo. Gosto muito de sua inteligência sensível. Sinto-me conectada a isso. E, bem, gosto de pensar que tento seguir essa linha, mesmo que seja só tentar”.
Ela conta ainda que se sentiu muito comovida ao ler o livro de cartas de Caio.
“Eu queria fazer poemas narrativos que falassem do difícil tema: amor não correspondido. Falo sobre mim e ele, converso com ele como todos nós conversamos com aqueles que não estão aqui. O mundo dos vivos é visitado pelo outro mundo, o dos mortos. Machado de Assis disse que o livro era uma forma de fazer contato com os mortos”, lembra.
Quanto à sua relação com o Brasil, Brenda revela que já amava o País mesmo antes de conhecê-lo.
“Porque eu tinha estudado muitos autores brasileiros: Machado de Assis, Guimarães Rosa, Rubem Fonseca, a própria Clarice. Meu primeiro contato foi no Rio, onde passei dois dias sem entender nada. Eu tinha estudado português e me senti enganada. Imagine, andei e comi em lugares sem entender nada”, conta.
“No terceiro dia (como uma gênese) minha cabeça se abriu e eu ouvi, entendi e falei. Isso foi há muitos anos (2011), quando se sabia ainda menos sobre literatura brasileira fora do Brasil do que hoje. Agora, felizmente, há muito mais traduções e o país não parece mais tão distante”, complementa a escritora.
Ensaísta contemporânea
Lima Trindade, um dos editores da Villa Olívia, afirma que ficou atraído pela literatura de Brenda Rios porque ela é uma escritora com grande expressividade.
“Se insere no perfil que interessa à editora, que é dar um destaque maior a poetas contemporâneos em atividade. Ela é uma ensaísta brilhante e tem interlocução com outros países de língua hispânica”, comenta Lima.
Ainda segundo Trindade, a editora não se interessa necessariamente por autores muito conhecidos, mas sobretudo por aqueles que estão pensando o mundo e tenham um pouco de rebeldia.
“Ela é uma intelectual que sempre se desafia a fugir do óbvio, dos padrões. A poesia de Brenda foge aos chavões, mas ao mesmo tempo trabalha com os clichês da sociedade, como a literatura pop, com humor fino”, detalha Trindade.
Mas mesmo com todo o talento e reconhecimento – sobretudo no universo dos países de língua espanhola –, Brenda sabe que viver somente de literatura no México é, assim como no Brasil, inviável.
“Os escritores vivem da combinação de empregos: professor, editor, tradutor, revisor. Caso contrário, é impossível. Todos os meus amigos estão passando por um momento terrível com relação a dinheiro. Precisamos sair dessa situação e fazer o que sabemos fazer”, finaliza a autora de Tudo vive no meio da terra.
Minibio
Brenda Rios nasceu em Acapulco, no México, em 1975.
É ensaísta, poeta, escritora e tradutora. Ministra oficinas de escrita criativa em diferentes cidades mexicanas.
Seus livros mais recentes são Olvidar a nadie (2023); Hombres de verdad (2022); La luz artificial de las cosas (2021), Ensayo (2020) e Raras, ensayos sobre el amor, lo feminino, y la voluntad creadora(2019).
Outros livros de sua autoria podem ser adquiridos em poesiamexa.wordpress.com e laflecharoja.com.mx.
Lançamento do livro Tudo vive no meio da terra / 09 de novembro / 15h / Cervejaria ArtMalte (Rua Feira de Santana, 354, Rio Vermelho)
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