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ARTES CÊNICAS

Espetáculo inédito que celebra o feminino, a ancestralidade e a força da tradição oral

Espetáculo estreia no próximo dia 14 no teatro Cambará - Casa Rosa

Por Eugênio Afonso

06/03/2025 - 5:00 h
Imagem ilustrativa da imagem Espetáculo inédito que celebra o feminino, a ancestralidade e a força da tradição oral
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Acabou o Carnaval oficial, de 2025, em Salvador. O que resta agora de folia é refugo desta festa interminável que deixa a população eufórica, privilegia a música e determina quando as outras manifestações artísticas, como o teatro, por exemplo, podem começar a ter espaço novamente.

Desde então, muitos espetáculos estão na fila para estrear ou mesmo reestrear. Um deles é Monocontos – Elas Fantasiam o Tempo, que no dia 14 de março, às 20h, entra em cartaz no teatro Cambará, da Casa Rosa (Rio Vermelho).

Porém, um dia antes (13), a partir das 19h, também no Cambará, tem sessão de autógrafos do livro que dá sustentação à peça – Monocontos: histórias para ler e encenar, do dramaturgo baiano Elísio Lopes Jr. (Torto Arado – O Muscial) –, e logo em seguida, somente para convidados, acontece a pré-estreia do espetáculo. Com direção de Ridson Reis (Esqueça) – cria do Bando de Teatro Olodum –, e dramaturgia original do próprio Elísio, a temporada desta peça inédita do Coletivo Meio Tempo vai até 30 de março, somente às sextas-feiras, sábados e domingos.

A ideia da montagem é propor uma experiência sensorial e inclusiva, ativando as memórias e sentidos do público. A tessitura dramatúrgica é calcada na experiência de três fiandeiras do destino que alinhavam histórias e reverenciam suas ancestralidades e o feminino, verdadeiros fundamentos do espetáculo.

Para Reis, o propósito da encenação é dar voz a essas mulheres reais e fictícias. “Através da perspectiva de vida de três atrizes pretas que, de alguma forma, são referenciadas nessas mulheres, nas Dandaras, Terezas, Luísas que viveram e deixaram um legado para a sociedade como um todo”.

“O que costura os monólogos da peça são as moiras, as três mulheres que fiam o destino dos seres humanos, segundo a mitologia grega. Uma é responsável pela vida, outra pelo tempo, e a outra pela morte. A gente selecionou, do livro, oito histórias de mulheres pretas, reais ou fictícias”, alinhava o diretor.

Parceiro de Elisio, Ridson conta também que gosta muito dos textos, livros e roteiros que o encenador baiano escreve. “Eu acredito muito na forma como ele pensa as palavras e como elas são ditas pelos personagens. Então, poder recortar esse livro e montar histórias importantes na minha construção, enquanto cidadão e artista, é de uma felicidade muito grande. Poder dar a minha contribuição para a vida desses personagens, como diretor geral desse projeto, é de uma felicidade ainda maior”.

Tradição griô

Em cena, três atrizes negras – Dani Souza, Naira da Hora e Shirlei Silva – representam narradoras que guardam e transmitem histórias ao longo de gerações. É um momento de escuta, de contar e partilhar saberes inspirado na tradição oral do griô (guardião da cultura popular africana).

A soteropolitana Shirlei, 33, vive Dona Lalá, uma fiandeira imortal que conseguiu experimentar o sabor de como é estar do outro lado. “Ela volta um tanto amargurada, um tanto sentida, doída. Vejo a Lalá como uma mulher que queria muito viver o amor, e no momento em que ela pôde vivê-lo, enquanto mortal, o amor a machucou, não foi cuidadoso. Mas é uma mulher que ama muito suas irmãs, seus filhos, e principalmente a vida como escolha”.

Para a atriz, o espetáculo é uma importante contação de histórias, principalmente por não perder a densidade do tema que carrega. “Trazendo monocontos de mulheres tão importantes, mas sob outra perspectiva, com elas falando sobre suas próprias lutas, suas próprias vidas”.

Ela lembra ainda da importância da oralidade para manutenção, preservação e apreensão da ancestralidade. “Por mais que a gente tenha escrito, que consiga catalogar, sem oralidade a gente não consegue fazer a linha ancestral da forma que deveria. A gente aprende, entende, conta, reconta a partir da oralidade. A gente só continua se a gente sabe da nossa história, se a gente mantém e cria referências em cima dela”, defende Shirlei.

Poder da oralidade

A narrativa do espetáculo se dá ao redor de uma árvore de macramê, elemento central do cenário e também base para os figurinos. O público se posiciona em formato de arena, convidado a entrar nesse terreiro de memórias e histórias.

Segundo Naira, 37, Monocontos mostra a delicadeza e complexidade do viver através dessa analogia com o tecer. “Mostrar a vida como fios confere ao espetáculo uma beleza poética e estética que só estando na plateia pra sentir de verdade”.

“Minha personagem é Fia, uma moira, assim como as irmãs, que, de tanto tecer histórias e vidas, viu nascer em si a vontade de estar do outro lado do fio, do lado que vive, que desfia, que se embola”, arremata a atriz.

E, assim como Shirlei, Naira acredita que a ancestralidade preta só está viva e potente graças ao poder da oralidade. “A nossa história começa a ser registrada na literatura, da forma correta, pelas mãos dos nossos somente após séculos do processo violento que forja o nosso país”.

Segundo ela, a história de pessoas pretas e indígenas precisou ser contada e recontada, durante anos, pelos mais velhos, que muitas vezes não eram sequer alfabetizados. “Repetindo histórias antigas e descobrindo formas de contar através da oralidade para que o nosso povo não sucumbisse aos delírios do colonizador, que teve por tanto tempo a história registrada apenas por sua ótica supremacista”, finaliza a atriz.

Monocontos – Elas Fantasiam o Tempo é também Roquildes Júnior na trilha sonora – utilizando instrumentos como balafon, cabaça e kalimba –, Arismar Adoté na direção de movimento, e Guilherme Hunder, que responde pelo figurino.

O espetáculo foi contemplado pelo edital Gregórios – Ano III, com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador, e da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura, Governo Federal.

Monocontos – Elas Fantasiam o Tempo / 14 a 30 de março / Teatro Cambará - Casa Rosa (Rio Vermelho) / Sexta e sábado 20h - Domingo 19h / R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) / à venda no Sympla

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