VISUAIS
Exposição homenageia jornalista e político Cosme de Farias
Mostra Cosme de Farias – 150 anos está aberta no Arquivo Público da Bahia
Por Maria Raquel Brito*

Rábula, político, educador, jornalista e também um filho do subúrbio de Salvador. Títulos não faltam para descrever Cosme de Farias (1875 - 1972), soteropolitano que se dedicou à defesa das causas populares na Bahia e completaria 150 anos em 2025. Para celebrar sua trajetória e manter vivo seu legado, foi aberta na última quinta-feira a exposição Cosme de Farias – 150 anos, no Arquivo Público da Bahia, que fica aberta à visitação somente até o próximo dia 16.
A mostra é composta por obras feitas especialmente para a exposição por artistas soteropolitanos, tendo como objetivo homenagear essa figura que, além de atuar na defesa dos direitos dos mais pobres, teve papel destacado nas áreas de educação, imprensa e assistência social. Para evidenciar ainda mais quem foi Cosme de Farias, a exposição conta também com material informativo sobre sua vida.
Segundo Creusa Carqueija, uma das organizadoras da exposição e neta de Cosme de Farias, a mostra nasceu do desejo de manter vivo o legado do advogado. Em 2022, quando a morte do rábula completou 50 anos, ela fez um apelo a alguns artistas: que não esquecessem quem ele foi. Assim, juntou alguns nomes e começou a confeccionar a homenagem.
“A manutenção da memória e legado de Cosme de Farias para as futuras gerações é inestimável, à medida que estamos falando de um homem negro, pobre, suburbano, que venceu os limites da pobreza, do racismo e da exclusão social e tomou-se um defensor sem igual no combate ao analfabetismo, um advogado exemplar, um jornalista respeitado e um político ímpar, sem ter tido a oportunidade de ter acesso aos bancos da ciência. Esse exemplo para as futuras gerações, em especial, a negra, é de um valor inestimável”, defende Creusa, que organizou a mostra ao lado de Carmen Sacramento, Adalton Silva e Zeu Lobo.
Entre os artistas participantes estão Bel Borba, Raimundo Santos Bida, Menelaw7, Wagner Santos e Ricardo Miranda, além de registros fotográficos de Anízio de Carvalho. O tributo também inclui a execução do Hino a Cosme de Farias, composto e musicado pelo artista Zeu Lobo.
Para Wagner Santos, participar da exposição é motivo de orgulho. O artista plástico tem três obras na mostra: Como rábula, No 2 de Julho e Campanha contra o analfabetismo. Todas confeccionadas a partir de pesquisas junto com Creusa sobre os trabalhos de Cosme de Farias em favor dos mais humildes.
“É uma honra fazer parte dessa homenagem ao grande homem que tanto fez pela sociedade menos favorecida da Bahia e deixou um grande legado de luta e perseverança, de que todos somos capazes de fazer grandes feitos através da educação, respeito e igualdade para todos. E que o grande ensinamento deixado por Cosme de Farias através de seus exemplos possam refletir na vida de cada um de nós e das futuras gerações”, diz.
Em "O Farol dos Oprimidos", obra de Menelaw Sete que integra a exposição, ele utiliza tonalidades escuras e referência Os Comedores de Batata de Vincent Van Gogh, refletindo o descaso social em um contexto baiano. ”Fazer parte da exposição é trazer de volta ou despertar o grito de Major Cosme de Farias para o caos atual na política e outros segmentos concretados no mundo contemporâneo. Essa mostra acende um alerta para os menos favorecidos que muito o Major defendeu e amparou no seu punho com a sua caneta, que servia como espada para defender esse povo esquecido”, afirma o artista.

Filho pródigo de Salvador
Cosme de Farias dedicou a vida à defesa das pessoas mais pobres. Tendo apenas formação primária, tornou-se advogado provisionado – rábula, ou seja, advogava mesmo sem a formação acadêmica – e defendeu gratuitamente milhares de clientes sem condições financeiras ao longo da carreira.
Em 1915, fundou a Liga Baiana contra o Analfabetismo, organização que funcionou até a década de 1970, publicando cartilhas e mantendo escolas para a população mais carente. Também teve uma longa carreira política, sendo eleito deputado estadual em 1914 e exercendo vários mandatos como vereador e parlamentar.
Cosme de Farias atuou ainda como jornalista em diversos jornais de Salvador entre 1894 e 1972, escrevendo para veículos como Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Diário da Bahia, Gazeta do Povo, A Bahia e Diário da Tarde.
Falecido em 1972, ocupava uma cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia, deixando um legado de dedicação à educação e aos direitos dos menos favorecidos.
Por seus feitos nas mais diferentes áreas enquanto vivia, Cosme de Farias foi homenageado ao nomear um bairro de Salvador, presente no endereço de quase 40 mil soteropolitanos. Além do profissional, porém, havia também um filho, pai e avô.

Creusa que o diga: ao falar do avô, ela rememora um homem firme e incisivo na defesa da justiça, mas doce e gentil com quem lhe cercava. Com um carinho evidente, lembra de tudo, desde a recusa do avô por bebidas geladas e a preferência por apreciar tudo em temperatura natural, ao gosto por palavras cruzadas.
“Quando precisava pedir um favor, tinha um hábito marcante: entregava um presente singelo, como um sabonete ou uma caixinha de talco, embrulhado com simplicidade, mas adornado com uma fita verde e amarela, símbolo de seu amor incondicional pelo Brasil. Para ele, criticar o país era inadmissível. Cosme de Farias sabia cultivar carinho e atenção aos detalhes. Conhecendo o meu gosto por goiabada cascão, fazia questão de me presentear com a iguaria acompanhada de queijo de cuia. Esse traço afetuoso refletia sua essência: um homem inteligente, sagaz e bem-humorado, mas, acima de tudo, movido pela bondade e pela luta contra as injustiças”, descreve.
Exposição Cosme de Farias – 150 anos / Até 16 de abril / Visitação de Segunda a quinta-feira, das 9h às 16h e sexta-feira, das 9h às 14h / Arquivo Público da Bahia (Ladeira Quintas dos Lázaros, 50 - Baixa de Quintas) /Entrada gratuita
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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