CÊNICAS
Fause Haten faz ‘Eu Sou um Monstro’ na Sala do Coro
Espetáculo é baseado em um episódio bizarro da vida do pintor britânico Francis Bacon
Por Chico Castro Jr.
Estilista consagrado e de vasta experiência, o paulistano Fause Haten tem se dedicado às artes cênicas desde 2006, emplacando espetáculos de sucesso como A Feia Lulu (2014) e Lili Marlene, Um Anti Musical (2017), escrevendo, dirigindo e atuando. Eu Sou um Monstro, seu solo mais recente, volta à cartaz em Salvador de hoje até domingo na Sala do Coro do Teatro Castro Alves.
O espetáculo, no qual ele atua, escreveu o roteiro e dirige, é baseado em um episódio bizarro da vida do pintor britânico Francis Bacon (1909-1992), que Haten tomou conhecimento após assistir um documentário sobre a vida do artista: na véspera da abertura de uma importante exposição, Bacon e sua agente encontram o namorado do pintor morto e decidem “não achar” o corpo para não atrapalhar o grande dia.
No palco, Haten, utilizando-se de técnicas de teatro, performance, vídeo e artes plásticas, discute a partir de que ponto deixamos nossa humanidade de lado e nos tornamos “monstros”.
“Fiquei meio em choque com esse relato. Enfim, acabei escrevendo um conto a partir disso. E aí comecei a colocar ali todos esses questionamentos desse artista que pinta esse namorado, que retrata essa imagem, que aí um dia vai pra essa exposição, sabendo que o namorado está morto, sem poder falar sobre isso”, conta Haten em entrevista ao jornal A TARDE.
“Enfim, um monstro da pintura e uma atitude que talvez seja monstruosa. E aí o espetáculo reflete um pouco sobre tudo isso”, acrescenta.
Multidisciplinar, Haten responde também pela cenografia do espetáculo, composta por imagens com fotos-performances da exposição do “artista”. As imagens são elaboradas com o rosto do próprio Fause, acrescido de diferentes materiais, como fitas, cordões e adesivos.
“O espetáculo, na realidade, desconstrói a forma do teatro. É uma experiência que o público vive junto comigo, um espetáculo delicado, íntimo, feito para 30 pessoas, onde o espectador, enfim, é levado nessa viagem desse artista, desse dia, enfim, em que ele vive esse momento da morte do namorado e como ele reage a tudo isso”, descreve.
Amor e ódio
Em seu périplo, o artista se “desnuda” diante do público, revelando sua face monstruosa, jogando com a dualidade de ser, ao mesmo tempo, um artista amado, admirado e um monstro.
“Eu acho que ninguém sabe como lidar com as diferenças dentro da gente, né? A gente tem o amor e a gente tem o ódio, e a gente vive tentando equilibrar isso. E esse espetáculo fala um pouco sobre isso, sobre essas questões do ser humano, então este é um espetáculo que não só interessa muito aos artistas, mas toca as pessoas todas, cada uma, à sua maneira”, afirma Haten.
Paulistano apaixonado por Salvador de longa data, ele tem apartamento na cidade desde 2004, passando a viver entre São Paulo e a capital baiana desde 2018. “E para mim é muito significativo me apresentar na Sala do Coro, no TCA, que é um teatro que eu adoro, um espaço onde eu já vi artistas que admiro muito e poder estar lá hoje para mim é muito importante”, conta.
“Abri um ateliê em Salvador no ano passado justamente para poder trabalhar aqui, para poder ter uma influência da cidade nas minhas obras. Comecei a fazer esculturas, pinturas. É uma cidade que me inspira muito e me faz muito bem”, conclui.
Eu Sou um Monstro / A partir de hoje até domingo, 20h / Sala do Coro do Teatro Castro Alves / R$ 80 e R$ 40 / Vendas: Sympla e bilheteria TCA
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