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29/11/2023 às 10:00 - há XX semanas | Autor: Matheus Calmon

CULTURA

Fernando Sampaio reflete sobre dificuldades na carreira por ser baiano

Ator aborda o cenário dinâmico e em constante evolução das produções audiovisuais

Imagem ilustrativa da imagem Fernando Sampaio reflete sobre dificuldades na carreira por ser baiano
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"Ser baiano me põe numa prateleira onde me sinto descriminado". A declaração é do ator baiano Fernando Sampaio, que tem passagens em produções da Record, SBT e Globo. Em conversa com o Portal A TARDE, ele reflete sobre o cenário dinâmico e em constante evolução das produções audiovisuais, a metamorfose das narrativas visuais, a mudança estética, mas uma transformação cultural.

Em um país tão diverso como o Brasil, o papel das representações na tela desempenha um papel crucial na construção de identidades e na quebra de paradigmas.

Fernando Sampaio aborda aspectos relacionados à sua trajetória e à representação de pessoas negras na indústria audiovisual brasileira. Ele aborda a complexidade da sua identidade, destacando ser baiano e como isso pode afetar sua percepção e oportunidades na indústria.

Além disso, aborda questões de discriminação e preconceito que enfrentou ao longo de sua carreira, seja relacionado ao seu sotaque, cor de pele ou escolhas artísticas.

Confira a entrevista completa.

Considerando o cenário atual e o histórico das produções e da própria história, como você avalia hoje a presença e estereotipagem de atores negros na televisão e produções audiovisuais?

A representação de atores negros na televisão e produções audiovisuais tem mostrado avanços significativos, mas ainda há muito espaço para melhorias. Historicamente, houve estereotipagem e sub-representação desses atores, mas nos últimos anos tem havido um aumento na visibilidade e em papéis mais diversos e complexos para pessoas pretas. Contudo, persistem desafios em relação à equidade de oportunidades, representatividade autêntica e eliminação de estereótipos arraigados. É um processo em evolução, onde progressos são notáveis, mas há necessidade contínua de maior inclusão e diversidade na indústria audiovisual.

Como você avalia a sua própria trajetória na arte? Já enfrentou algum tipo de discriminação ou preconceito na sua carreira?

Eu me julgo um cara de sorte, a arte me abraça, me reconhece e me inclui. Mas sim, já sofri preconceito pelo meu sotaque e hoje sofro porque o perdi, graças a Deus que ele está pedido dentro de mim e se me revirar posso encontrá-lo. Sou a mistura mais enraizada da nossa raça, sou filho de um homem preto e de uma mulher branca que é neta de indígenas, quem sou eu? Eu sou brasileiro e minha mistura me faz um homem pardo, se eu fosse retirar minha certidão de nascimento hoje e me perguntassem qual sua cor? Eu não diria o que eu disse até hoje em todos os censos que respondi: Sou Pardo. Eu diria, sou preto, na minha infância eu era chamado de cabo-verde por ser preto de cabelo liso, eu diria preto pois me percebo dentro de uma palheta onde minha cor firmou-se para o tom claro da cor preta. Quem determina essa escala de cor? Quem pode dizer que sou pardo, branco ou preto? Quantos baianos temos hoje no ar, quantos baianos temos hoje no cenário do audiovisual com força de representatividade? Ser baiano me põe numa prateleira onde me sinto descriminado.

Acredita que houve uma mudança de perfil na representação de atores negros na televisão brasileira nos últimos tempos?

Mudança!? Vejo uma grande tentativa de “corrigir” essa descriminação. Mas houve um tempo onde tínhamos pessoas gordas em personagens de destaque e até protagonistas e era dito que estava quebrando um “erro” por não escalarem pessoas gordas por não cumprirem as exigências de um “padrão” que o audiovisual “pede”. Onde estão as pessoas gordas em papéis de destaque na tv!? Onde estão os sotaques diversos do nosso país? Onde estarão as pessoas pretas, quando eles acharem que já “corrigiram” um erro histórico? É corrigível todo tipo de preconceito que sofremos por sermos quem somos!?

Imagem ilustrativa da imagem Fernando Sampaio reflete sobre dificuldades na carreira por ser baiano
| Foto: Arquivo Pessoal

Já ouvi muitas vezes: “Você tem a cara da Record, fica difícil te escalar por sempre te remeterem a produção religiosa, não estarei eu sofrendo uma intolerância religiosa por atuar em novelas com cunho religiosos e olha que nem é a fé que professo, eu sou ecumênico, eu vejo Deus em tudo e em todos o meus iguais. Hoje encontro Deus e converso com ele na cachoeira, numa caminhada numa mata, numa conversa ao redor de uma fogueira… hoje consagro e canto pra Deus com todo meu ser através de estudos da expansão da consciência. E será que por dizer que não chego a Deus pelo caminho que muitos chegam eu serei descriminado!? Hoje em dia é ser você e clamar aos céus: Deus me livre desses horrores.

Nos últimos anos, o perfil na representação de atores negros na televisão passou por mudanças e tivemos, por exemplo, "Vai na Fé" com maioria negra. Qual sua expectativa para a presença de atores negros na televisão?

Minha expectativa e que não precisemos soltar foguetes quando um ator preto for escalado para viver um protagonista, minha expectativa é ver seres humanos entregues a arte, seres humanos gordos, anões, todos que de verdade se entregam a esse ofício com consciência e ardor. Vejo muita gente decorar o texto e se acharem atores, vejo um monte de pessoas que querem o glamour de tudo isso e não os espinhos que pisamos todos os dias… em fim. Quero que chegue o dia em que o protagonismo preto, pardo, de um ator nordestino não seja algo escandaloso por sua raça, credo, cor ou limitações por terem traços especiais que possam ser julgados. Eu olho pra todos e vejo um outro eu e no dia que olharmos pra todos nossos iguais como outros eus, celebraremos as conquistas desses profissionais por seus dons, talentos e entregas e não por misericórdia.

Como a representatividade na televisão e demais produções pode influenciar positivamente a sociedade em termos de aceitação e combate ao preconceito?

A representatividade na televisão e em outras produções desempenha um papel crucial na moldagem da percepção social ao apresentar uma diversidade de experiências e perspectivas. Ao mostrar uma gama mais ampla de histórias e personagens, especialmente de grupos minoritários, cria-se empatia, compreensão e humanização, reduzindo estereótipos e preconceitos. Isso promove uma sociedade mais inclusiva, onde as pessoas se sentem representadas e valorizadas, contribuindo para o combate ao preconceito e para uma maior aceitação da diversidade em todas as suas formas.

Na sua opinião, quais mudanças ainda são necessárias na indústria brasileira para garantir uma representação mais diversificada?

Para garantir uma representação verdadeiramente diversificada na indústria brasileira, é fundamental uma mudança estrutural e cultural profunda. É preciso romper com padrões estereotipados que por muito tempo limitaram a variedade de narrativas e personagens nas telas. Isso requer uma conscientização coletiva para rejeitar estereótipos, oferecer oportunidades equitativas e valorizar a autenticidade das experiências diversas.

A indústria precisa acolher e apoiar talentos de diferentes origens étnicas, raciais, culturais, de gênero e orientações sexuais, proporcionando espaços para que suas vozes sejam ouvidas e suas histórias contadas de maneira autêntica. Isso não deve ser apenas uma representação superficial, mas sim a inserção genuína e significativa de diversas perspectivas em todas as etapas da criação audiovisual: desde roteiro, direção, elenco até produção e distribuição.

Além disso, a conscientização dos tomadores de decisão sobre a importância da diversidade é crucial. Isso significa implementar políticas inclusivas, programas de capacitação e ações afirmativas para garantir que a diversidade não seja apenas uma ideia, mas sim uma prática incorporada em todos os níveis da indústria.

É imprescindível que o público também se envolva, demandando e apoiando produções que abracem a diversidade, incentivando uma mudança de paradigma na forma como consumimos entretenimento. Todos nós, como espectadores, temos um papel fundamental ao escolhermos e valorizarmos obras que reflitam e celebrem a riqueza da pluralidade cultural do Brasil. Ao fazer isso, estaremos contribuindo para uma indústria mais inclusiva, que reconhece, respeita e celebra a beleza da diversidade humana em sua totalidade.

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Cultura dramaturgia Fernando Sampaio

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