CULTURA
Festival leva ao Pelourinho duas gerações de artistas
Em Salvador, vai rolar uma série de apresentações nesta sexta-feira (13)
Por Gláucia Campos*
O Sonora - Festival Internacional de Compositoras vai realizar uma edição inédita neste final de ano. Desde o último 03 até 21 de dezembro, o festival ocupa três macroterritórios da Bahia: Região Metropolitana de Salvador, Chapada Diamantina e Litoral Sul, com 15 shows, oficinas, rodas de conversa e um webinário.
A fase na Chapada rolou semana passada. Em Salvador, vai rolar uma série de apresentações nesta sexta-feira (13), no Largo Quincas Berro D´Água, 19h, com Ana Luísa Barral, Ritta Faromi, Samba de Mestra Aurinda do Prato, Samba de Dona Dalva com Mestra Ana Olga e Any Manuela. Entre os destaques, estão homenagens à Dona Dalva Damiana.
O Festival Sonora nasceu em 2016, como movimento para visibilizar compositoras e produtoras musicais. Agora em 2024, se consolida com novo formato, abrangendo três territórios baianos: Chapada Diamantina, Região Metropolitana de Salvador e Litoral Sul.
O festival surgiu em Belo Horizonte, a partir da hashtag #MulheresCriando, criada por Deborah Mussulini para questionar a ausência de compositoras em festivais musicais. “A resposta foi que elas não existiam. Mas a hashtag viralizou, e mais de 300 compositoras se manifestaram em várias partes do Brasil e do mundo”, contou Ive Farias, produtora executiva do festival. Logo no primeiro ano, o Sonora já acontecia em 50 cidades de três países, incluindo Salvador, onde a compositora Ana Luisa Barral liderou a edição local.
Rede de compositoras
Ana Luisa Barral recordou os desafios e conquistas que marcaram sua trajetória no festival: “Em 2016, quando Deh Mussulini chegou com a ideia, eu já estava engasgada com situações de pouco espaço para mulheres na música autoral. Quando juntei forças com outras compositoras, foi um divisor de águas. Mandei mensagens para mais de 80 mulheres, muitas sem nem publicarem suas músicas. Em poucos meses, vimos um movimento gigante nascer, mulheres emocionadas apresentando suas canções e sendo ouvidas”, contou.
O Sonora cresceu em produções independentes até 2020, quando adotou edições online durante a pandemia. Em 2024, com apoio de editais, inaugurou um modelo unificado, ampliando seu impacto em diversas regiões. “Queremos ir além das cidades-sede e contemplar mais mulheres, promovendo um impacto positivo em todo o território baiano”, afirmou Ive.
Esta edição inicia uma série de homenagens a compositoras baianas. Este ano, celebra Dona Dalva Damiana e Mestra Olinda do Prato, ícones do samba e guardiãs da cultura. “O convite para Dona Dalva surgiu pelo reconhecimento de sua trajetória. Quando presenciamos um encontro dela com Olinda, percebemos a potência daquele momento e decidimos ampliar a homenagem para as duas”, contou Ive.
Dona Dalva, aos 94 anos, será representada por sua filha Olga e neta Anne Manuela, enquanto Mestra Olinda, aos 93 anos, se apresentará ao vivo. Para a cantora e compositora Rita Faromi, essas homenagens são fundamentais: “Dona Dalva é uma grande mestra, guardiã dos nossos saberes ancestrais. Saber que ela abriu caminhos para estarmos aqui fortalece nosso ori e enriquece a nossa existência. Descobri meu caminho para a música no Recôncavo Baiano, inspirada por mulheres como Dona Dalva de Cachoeira, Dona Chica do Pandeiro, Dona Nissinha e tantas outras. Elas abriram caminhos para que eu pudesse ser compositora e acessar esses espaços”.
Para sua apresentação no festival nesta sexta-feira, a cantora disse que pretende levar em seu repertório canções que homenageiam a música de raízes africanas.
“Meu repertório trará um recorte da nossa história contada pelo samba chula, ijexá e outros ritmos da diáspora. As composições falam da chegada do povo africano, seus costumes e tradições, misturados às influências indígenas e à viola machete trazida da Ilha da Madeira, resultando no samba chula”, explicou.
Ana Luisa Barral, que também vai subir ao palco nesta sexta, comentou que seu repertório será inspirado na compositora e instrumentista Chiquinha Gonzaga.
“Ela foi pioneira em lutar pelos direitos autorais. Seu trabalho me influencia diretamente e estará presente no show, que também passeia por outros ritmos do imaginário popular brasileiro, como baião, coco e sambinha”, disse Ana.
Com raízes mineiras e baianas, Ana mescla influências de Minas Gerais, como os acordes do Clube da Esquina, e a percussividade baiana: “Meu trabalho reflete essa fusão. O Sonora me permitiu não apenas tocar, mas ver outras mulheres emocionadas com suas próprias histórias e músicas”.
Impacto e expansão
O novo formato do festival prevê continuidade e crescimento. Segundo Ive, o patrocínio garantido por três anos permitirá ampliar ainda mais as ações. “Queremos contemplar mais mulheres e promover um impacto positivo em todo o território baiano”.
O Sonora se consolida como festival de resistência e inovação, ampliando a visibilidade das mulheres na música e fortalecendo redes de produção e criação em diversas regiões. Com ações formativas, shows e homenagens a matriarcas do samba baiano, o evento reafirma seu compromisso com o fortalecimento feminino na música.
Ive Farias ainda destacou a relevância das ações formativas para o empoderamento das mulheres. “Esses espaços de troca são tão importantes quanto os shows. Muitas mulheres que hoje participam das oficinas nunca tiveram a oportunidade de explorar sua musicalidade. É um momento de fortalecimento e descoberta”, afirmou.
Em 2024, o festival promoveu aulas sobre produção musical com Neila Cardia e Dêssa Ferreira, além de rodas de conversa e oficinas no Vale do Capão. A aula foi gravada e será disponibilizada no YouTube, ampliando o acesso ao conhecimento. “A ideia é que essas mulheres hoje em formação estejam amanhã nos palcos como protagonistas”, complementou Ive.
Sonora – Festival Internacional de Compositoras / Ana Luísa Barral, Ritta Faromi, Samba de Mestra Aurinda do Prato, Samba de Dona Dalva com Mestra Ana Olga e Any Manuela / Sexta-feira (13), 19h / Largo Quincas Berro D’Água / Gratuito
Emp. Beatriz e Ju Maracá + convidada: Ronara Criola / Dia 20.12, 19h
Laiô e Naiara Gramacho + Mestra Guimar da Paixão e Dona Bite de Taboquinhas / Dia 21.12, 19h / Pça. São Miguel, Centro, Itacaré
* Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.
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