MÚSICA
Festival Radioca chega à 8ª edição com missão de apostar em música nova
Serão quatro apresentações no sábado, 2, e quatro no domingo, 3
Por Maria Raquel Brito*
No próximo fim de semana, os apaixonados por música têm um encontro marcado no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM). É o Festival Radioca, que chega à sua 8ª edição com dois dias de música boa, contemporânea e plural.
Serão quatro apresentações no sábado, 2, e quatro no domingo, 3. O Radioca mantém nesta edição o costume de ter artistas baianos e também de outros estados, apostando em inovação, diversidade e no lema da festa, “a música que você ainda vai ouvir”.
No sábado, sobem no palco a banda baiana Fogo Pagô e a sergipana Cidade Dormitório, além de Bebé, cantora paulista que se apresenta pela primeira vez em Salvador, e um encontro inédito entre Giovani Cidreira, Jadsa e Josyara. No domingo, é a vez do rapper carioca BNegão, com seu trabalho solo, do soteropolitano Vírus, e da estreia da banda paulista Sophia Chablau & Uma Enorme Perda de Tempo em terras nordestinas e da primeira chegada da cantora sergipana Anne Carol na capital baiana. Tudo isso acompanhado por um espetáculo à parte: a vista da Baía de Todos os Santos.
De 2015 para cá, o Radioca já acumula 75 shows de artistas de 16 estados e todas as regiões do Brasil, sem repetir atrações. E o público se joga de cabeça na chance de conhecer novos sons e vozes: antes mesmo das atrações serem divulgadas, o primeiro lote de ingressos sempre se esgota.
Para Carol Morena, uma das curadoras do evento, um dos orgulhos do festival é essa relação de fidelidade estabelecida com os espectadores. “[Nós construímos] um público que se relaciona com o festival, não só com os artistas que tocam lá. A ideia é que as pessoas estejam lá para ver algo que ainda não conhecem, e a gente tem um trabalho de curadoria muito dedicado nessa seleção. É uma resistência continuar a fazer isso, conseguir captar recursos e fazer o festival com uma boa estrutura”, diz.
A escolha dos artistas é fruto de um processo longo e árduo nos bastidores. Existem duas diretrizes principais: a diversidade sonora e o ineditismo. O resultado são nomes que vão do rap ao rock, e que nunca se apresentaram no festival ou estão trazendo seu trabalho a Salvador pela primeira vez.
Um deles é o multiartista Vírus. Nascido e criado no subúrbio ferroviário de Salvador, ele une em seu trabalho música, poesia e arte visual. Para ele, que acompanha o Radioca como espectador há muito tempo, estar no palco agora é motivo de celebração – e veio no momento certo. Isso porque o show marca o encerramento de Sankofa, trabalho lançado por ele em 2023, e o início da próxima fase do artista.
“Nós elaboramos um show exclusivo para o Radioca, com Sankofa e o início do próximo trabalho. Estou muito ansioso para mostrar o show em que a gente tem trabalhado ultimamente”, antecipa Vírus, antes de deixar um lembrete: ele é um dos primeiros a se apresentar no domingo – então cheguem cedo.
Não é só o público que sai ganhando com os artistas escolhidos. Animado, Vírus conta que estar no mesmo palco que o rapper BNegão é uma conquista à parte. “Ele é uma referência atemporal de escrita, poesia, música e rap para mim. Estar na mesma line up que ele foi uma surpresa e uma realização também, de pensar: ‘poxa, estou do lado das minhas referências’”, diz.
Assim como BNegão, a cantora Bebé vem de terras sudestinas para o Radioca. A artista paulista de 20 anos chega a Salvador pela primeira vez com frio na barriga e um show fresquinho para os soteropolitanos. Ela, que tem como referências musicais nomes que já passaram pelo palco do festival, como Ana Frango Elétrico e Tuyo, diz estar confortável para ser 100% de si mesma no evento.
“Tenho muitas conexões, artistas que admiro em Salvador e caminhos para abrir nessa cidade. Lys Ventura, Hanifah e Alt Niss estarão comigo nessa, e eu mal posso esperar”, afirma. “Me imagino anos atrás, na minha cidade, admirando a cena musical que acontecia; tudo isso me deu coragem para me expressar também. Quando olho para trás, consigo ter noção do imenso valor que isso tem para meu eu do passado”.
A apresentação acontece meses após o lançamento de Salve-se, segundo álbum de Bebé, em que ela passeia por diferentes estilos musicais, do jazz ao funk.
O som da Bahia também marcou presença entre as inspirações para o disco. “O pagode baiano e sua divisão rítmica, por exemplo, sempre foram uma referência. Circular por outros ambientes me enriquece e me dá bagagem para o futuro, o que significa muito para mim. Meu foco no meu trabalho é sempre romper e desvincular os padrões do que é a música popular brasileira”, conta a artista.
No sábado, três nomes já familiares ao festival se juntam para um encontro inédito, unindo suas vozes e composições num repertório com músicas autorais e de outros artistas. Giovani Cidreira e Josyara se apresentaram na 2ª edição do Radioca, em 2016, e Jadsa, na 3ª, no ano seguinte. Conterrâneos, contemporâneos e amigos, eles já compuseram e gravaram juntos, mas a parceria nunca havia chegado aos palcos antes.
Giovani Cidreira descreve o primeiro show no Radioca como uma das suas experiências mais inesquecíveis como artista. Quando recebeu o convite para a apresentação conjunta com Jadsa e Josyara, não pensou duas vezes. “Eu acho que se não fosse o Radioca, talvez a gente não topasse. Acho que existe uma comunicação, um afeto muito forte entre nós e as pessoas que fazem o festival. São pessoas que nos ajudaram em determinados momentos de nossas carreiras, que colaram conosco, conversaram, sempre nos acompanharam. Vai ser uma das trocas mais legais que a gente vai ter, com certeza", garante o artista.
Resistência
Em meio a cancelamentos de eventos musicais por todo o Brasil, o anúncio desta edição do Radioca veio apenas dois meses antes do festival. Foi o ano em que a realização mais demorou a ser confirmada, por falta de patrocinadores.
“A gente estava já bolando planos para entender o que fazer para marcar esse ano, para não deixar de fazer o festival. (...) Nunca foi fácil, mas este ano foi mais difícil”, conta Carol Morena. O patrocínio veio aos 45 minutos do segundo tempo, em uma parceria com a cervejaria Amstel. O evento também tem patrocínio do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda.
Morena, que realiza festivais desde 2006, associa as mudanças à apropriação dos festivais pela indústria. “A gente percebeu que depois da pandemia, a indústria começou a entender que esse poderia ser um bom modelo de negócio, só que, às vezes, não atrelado ao conceito que a maioria dos festivais têm, que é apresentar novos artistas. Então vimos acontecer o que chamamos de ‘festividade de agência de publicidade’”, argumenta.
As “festividades de agência de publicidade” são eventos que já começam com recursos enormes e tendem a repetir atrações, explica a curadora. “As empresas que patrocinam preferem, obviamente, patrocinar um festival enorme, com atrações internacionais e super conhecidas, a patrocinar festivais de base que estiveram sempre ali”.
Para quem trabalha com música, então, o momento é de reinvenção e de entender as demandas de um público que se renova. E disso o Radioca entende bem. “Tem períodos que está funcionando melhor, períodos em que está ruim, outros em que o festival quase não acontece. Estamos agora no período difícil, mas como nunca foi fácil, vamos continuar fazendo o que sabemos fazer”, afirma Morena.
8º FESTIVAL RADIOCA / Sábado (02) e domingo (03), 16h às 22h / Sábado: Giovani Cidreira, Jadsa e Josyara (BA) + Bebé (SP) + Cidade Dormitório (SE) + Fogo Pagô (BA) / Domingo: BNegão (RJ) + Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo (SP) + Anne Carol (SE) + Vírus (BA) / Museu de Arte Moderna da Bahia / R$ 90 e R$ 45 / Passaporte dois dias: R$ 150 e R$ 75 / Vendas: Sympla / Classificação: 18 anos
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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