CULTURA
Festival Radioca estreia documentário que celebra casas de show
Com o fechamento das casas de show desde março do ano passado por conta da pandemia da Covid-19, a cena artística de Salvador se encontra, há quase 18 meses, sem a presença do público. Diante das dificuldades, tanto financeira quanto cultural, enfrentadas durante esse período pela indústria musical da cidade, o Festival Radioca lança o Rede Radioca – NoSSAs Casas Doc Show.
Composto por dois episódios, que serão transmitidos neste sábado, 28, e domingo, 29, no canal do YouTube do Radioca, o documentário apresentará as histórias de quatro espaços soteropolitanos reconhecidos pelo incentivo à cena musical da primeira capital do Brasil.
O festival é conhecido por trazer novos nomes da música brasileira contemporânea, desde 2005, para Salvador. Só que neste novo formato apenas artistas baianos integram o projeto. As performances serão intercaladas com a exibição das narrativas sobre a Casa da Mãe (Rio Vermelho), Mercado Iaô (Ribeira), Senzala do Barro Preto (Curuzu) e Teatro Gamboa (Aflitos).
“As casas de shows são relevantes para o cotidiano da produção da música. Esses espaços são de extrema importância para a profissionalização e desenvolvimento dos artistas, cantores e bandas como um todo”, conta a curadora do Radioca, Carol Morena.
A diversidade musical foi a diretriz mantida pela curadoria. Neste sábado (28), a partir das 17h, o público poderá assistir às bandas Ilê Aiyê e MiniStereo Público e à cantora Manuela Rodrigues performando nesses espaços.
Ao final do primeiro episódio, será realizada uma festa virtual no Zoom, às 19h, com os DJs El Cabong, Sica, Mauro Telefunksoul e Jadsa. Os ingressos para participar podem ser retirados gratuitamente no sympla.com.br/radioca.
Já no segundo dia de exibição, as bandas Taxidermia, TrapFunk&Alivio e A Trupe Poligodélica completam a programação. “A gente pensou no que está acontecendo de mais interessante e relevante na música. Óbvio que não dá para colocar todo mundo porque nós temos uma produção muito boa e plural, então seis vagas acabam sendo pouco, mas, ao mesmo tempo, os artistas conseguem ter diferenças entre si, principalmente no quesito sonoridade”, explica Carol. As atrações contemplam os estilos afros, MPB, rock psicodélico, rap, trap e punk.
Espaços de (re)conhecimento
As escolhas das atrações também rememoram e provocam novos encontros com os locais. Enquanto o Ilê Aiyê se apresenta em casa, na Senzala do Barro Preto, a banda A Trupe Poligodélica estreia na Casa da Mãe.
“Foi importante ver a Senzala com os donos da casa porque, por mais que eles aluguem o espaço para outros eventos, estar lá com eles tem um impacto diferente. O Ilê no seu lugar tem uma energia muito própria, eles estão à vontade, se sentindo bem e tranquilos. Mas, ao mesmo tempo, a gente provoca descobertas como a Trupe, que é uma banda de Juazeiro que só esteve na Casa da Mãe, do Rio Vermelho, apenas rapidinho, como público. Então tem algumas bandas nesse processo de conhecimento do local”, conta Morena, que também assina a coordenação geral de produção.
Para a cantora Manuela Rodrigues, a relação com o Teatro Gamboa é de proximidade. “Ele é muito importante como memória para a cena cultural de Salvador e já me apresentei muitas vezes lá. Voltar agora foi incrível porque estava me apresentando sozinha, apenas com o piano, e agora pude trazer meu novo show”, diz Manuela. Com mais de 20 anos de carreira, a cantora trará ao palco o show Grito, mostrando suas faces de instrumentista e compositora, apenas com interpretações autorais.
Além dessas uniões, os espaços são testemunhos da heterogeneidade firmada pelo Radioca. Localizados em diferentes bairros de Salvador, as casas de show contam histórias da cultura do território, como influenciam e são influenciadas pelo local e seus moradores.
No Curuzu, por exemplo, a Senzala do Barro Preto abriga atividades sociais, como a Escola Mãe Hilda, que oferece apoio educacional a alunos do ensino fundamental. Enquanto o Teatro Gamboa, inaugurado em 1974 no Largo dos Aflitos, impulsiona os artistas independentes que não estão integrados ao circuito de massa.
“Isso enriquece a gente por conta da narrativa, mas também dá esse panorama que Salvador não é só um espaço, um bairro, uma casa de show, queremos colocar o holofote em regiões diversas da cidade. O Radioca tem um alcance muito interessante hoje, então eu acho que esse filme é feito para a cidade”, afirma Carol.
Apoio à memória
Contemplado pela Lei Aldir Blanc, o projeto Rede Radioca – NoSSAs Casas desenvolveu outras atividades, como uma edição especial do podcast Radiocast e um programa de formação online com oficinas, palestras e debates para o desenvolvimento da cena musical baiana.
O documentário integra a campanha #EuAbraçoNoSSAsCasas. O movimento busca a doação de valores, entre R$ 10 e R$ 1 mil, por meio do portal radioca.com.br/nossascasas. O montante arrecadado será repassado integralmente para os espaços contemplados no filme.
“A gente quis trazer uma história por trás, pelo conteúdo além dos shows, então essa memória dos espaços é muito importante, ainda mais neste momento de incertezas com a pandemia. Esse formato é uma contribuição para a cidade e a cultura como um todo”, acredita Carol Morena. O documentário ficará disponível online, no canal do YouTube do Radioca.
*Sob supervisão do editor Eugênio Afonso
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