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DEBUTANTE À FRANCESA

‘Festival Varilux de Cinema Francês’ completa quinze anos

Festival tem momentos como a homenagem a Alain Delon e apresentação do fenômeno de crítica e bilheteria ‘O Conde de Monte Cristo’

Por João Paulo Barreto*

05/11/2024 - 2:00 h
‘O Conde de Monte Cristo’
‘O Conde de Monte Cristo’ -

Começa nessa quinta-feira, e segue até o dia 20 de novembro, mais uma festa brasileira dedicada ao cinema francês. Trata-se do Festival Varilux que, em 2024, alcança sua décima quinta edição. Em cartaz em 60 cidades do Brasil, com mais de 110 salas de cinema e trazendo 19 filmes para as telas, o Festival Varilux de Cinema Francês estará, também, presente em Salvador nas telas do Circuito Saladearte e do Cine Glauber Rocha.

Na homenagem deste ano está um dos maiores ícones da França, o ator Alain Delon, que faleceu em agosto, aos 88 anos de idade. O ator, símbolo da junção exata de beleza e talento dramático, vai ter exibido um dos seus clássicos, o impactante O Sol por Testemunha (1960), primeira adaptação cinematográfica de The Talented Mr. Ripley, livro magnético que Patricia Highsmith lançou em 1955.

Com direção de René Clément, o filme traz Delon ainda aos 25 anos, em seu começo de carreira, mesmo sendo este já o seu sexto trabalho (o ator atuou em cinco longas entre 1957 e 1959). No filme, Delon interpreta o psicopata Tom Ripley, que ficaria bem mais popular para as gerações recentes com a adaptação da obra de Highsmith por um inspirado Anthony Minghella, mas com um insosso Matt Damon em 1999. Na construção de Alain Delon, uma presença afiada na mescla de sedução, carisma, beleza e psicopatia vai destruindo o entorno do personagem central. Com um dos finais mais impactantes que o cinema francês já concebeu, o filme de Clément, definitivamente, é uma cereja no topo do bolo para a programação dessa festa de debutante do cinema francês, que representa os quinze anos do Festival Varilux.

Emmanuelle e Christian Boudier, organizadores e curadores do Varilux, comentam a escolha de Alan Delon para simbolizar o festival desse ano, em sua 15ª edição. “Delon era, sem dúvida, uma pessoa complexa e controversa. Ele inspirou toda uma geração de cineastas como Luchino Visconti, Jean-Pierre Melville e René Clément, deixando um legado de 88 filmes como ator", pontuam. Sobre a escolha do filme de Clément, os diretores gerais do festivam explicam a seleção. "Escolhemos apresentar o filme cult O Sol por Testemunha pela originalidade de seu roteiro , escrito por Paul Guegauff, roteirista de Claude Chabrol, e pela incrível direção de fotografia de Henri Decaë, o mesmo de Os Incompreendidos, de Truffaut. Também porque o filme é atemporal, como atestam os recentes remake e série (na Netflix)”, celebram Emmanuelle e Christian.

Épico grandioso

Outras camadas de recheio dessa guloseima cinéfila destacam O Conde de Monte Cristo, épico com quase três horas de duração que adapta com grandiosidade o clássico secular do francês Alexandre Dumas através das mãos de Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière.

Ambos, inclusive, escreveram o roteiro de outro épico de capa e espada, a dualogia Os Três Mosqueteiros - Parte I: D'Artagnan e Os Três Mosqueteiros - Parte Ii: Milady.

Ao dirigir O Conde de Monte Cristo em uma versão cuja fidelidade ao material original de Dumas se destaca de modo palpável e meticuloso, dessa vez, porém, a dupla encarou um desafio ainda maior do que a da escrita. O contar da saga de vingança de Edmond Dantès (Pierre Niney), que retorna dos mortos para corrigir uma injustiça calculada por seus inimigos e que lhe tirou sua vida, apresenta em um filme um desenho grandioso de direção que une de maneira acachapante um bom texto, atuações, e que, juntamente à trilha sonora de Jérôme Rebotier, surpreende o espectador por em nenhum momento parecer redundante, mesmo diante de sua longa duração.

Foco nos refugiados

Outra obra que merece destaque e a atenção especial do espectador que vai marcar presença no Circuito Saladearte e no Cine Glauber Rocha a partir de quinta é Apenas Alguns Dias, filme dirigido por Julie Navarro e baseado no livro de Marc Salbert, que co-assina ao lado da diretora o roteiro. Na história, Arthur, um jornalista musical cuja vida é envolta por uma bolha do bon vivant solteiro em Paris e por questões de pouca importância diante de problemas reais que assolam refugiados em solo francês, se vê envolvido com uma ong que ajuda pessoas que escaparam de países em guerra e estão na França tentando seguir em frente com suas vidas.

O escriba, assim, cede seu apartamento e passa a dedicar seu tempo a ajudar o cozinheiro Daoud, que fugiu da guerra no Afeganistão, passando por vários países, até chegar à Europa, isso enquanto os aspectos burocráticos e legais da imigração são resolvidos. Daí o título do filme. O encontro, inicialmente sem qualquer sintonia entre os dois personagens, gera momentos cômicos que a diretora Julie Navarro trabalha bem. Gradativamente, no entanto, o filme passa a focar nos aspectos mais dramáticos da vida do seu coadjuvante, levando o público a perceber como os supostos problemas da vida de Arthur não são justos de lhe tirar o sono em momento algum diante da barra de ser alguém que precisa fugir de seu solo para conseguir permanecer vivo.

Thriller acachapante

Outro destaque do Varilux deste ano é um em que se torna difícil não se sentir impactado. Trata-se de O Sucessor, filme de Xavier Legrand que adapta livremente o romance de Alexandre Postel. Ao abordar a história de Ellias Barnès, um bem sucedido estilista que precisa superar a ausência de qualquer relacionamento com o pai ao saber da morte repentina do mesmo, o filme nos convida a uma espiral labiríntica pela mente do homem na série de decisões erradas que tomara ao sair de Paris e chegar ao Canadá, onde vivia seu progenitor.

Diante de um roteiro bem engendrado que constrói um crescente gradativo de tragicidade, na qual, sem qualquer artifício barato de manipulação, como jump scares, e focando somente na ótima atuação de seu protagonista, Marc-André Grondin, O Sucessor se torna uma grata surpresa de Xavier Legrand, que já havia dirigido o excelente Custódia, filme que foi destaque na edição de 2018 do Varilux.

Programação completa em https://variluxcinefrances.com/2024/

*O jornalista viajou ao Rio de Janeiro a convite do Festival Varilux

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Festival Varilux de Cinema Francês

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