CULTURA
Filhos falam de Gonzaguinha, que completaria 70 anos
Por Gislene Ramos

Um cronista do cotidiano e das coisas simples. Santos e Silvas que acordam cedo. Gole de café. Trabalho. Salário. Transporte público. Cansaço. Povo brasileiro. Resiste. Luta. E ainda ama. Imagens que permeiam a obra de Gonzaguinha.
Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, ou simplesmente Gonzaguinha, completaria 70 anos de idade nesta terça-feira, 22. Filho de Luiz Gonzaga, o "rei do baião" com Odaléia, cantora do Dancing Brasil, e pai de Amora Pêra, Daniel Gonzaga, Fernanda Gonzaga e Mariana Gonzaga, Gonzaga Jr. nasceu em 1945, no Rio de Janeiro.
Através de mais de 20 discos lançados ao longo da carreira, além de coletâneas e homenagens póstumas, sua obra permanece atual, apesar de sua completude não ser conhecida pelo grande público.
Gonzaguinha pai
Com a primeira esposa, Angela, Gonzaga teve Daniel e Fernanda, esta com apenas 12 anos quando o pai faleceu. Convivendo entre memórias e histórias contadas por familiares, amigos e até mesmo fãs, Fernanda fala sobre a simplicidade do pai e o quanto foi presente: "Ele morava em Belo Horizonte, mas sempre que podia ele estava no Rio. Mesmo com a distância, ele era superpresente. Todas as férias a gente estava lá. Era um pai normal, que brincava, dava bronca", conta.
Prova da intenção de manter a proximidade com os filhos, Daniel revela que começou a trabalhar com o pai aos 8 anos. "Eu fui roadie dele, acompanhei em shows e viagens". Além de um pai presente e que valorizava a simplicidade das relações, Gonzaguinha deixou lições importantes, como conta o filho Daniel: "Uma coisa que sempre me tocou foi a questão da idoneidade, honestidade, integridade, o jeito como ele lidava com as coisas Apesar do nome, sempre foi tudo muito normal entre a gente".
A convivência com a música era diária, segundo Fernanda, o pai não desgrudava do violão. "Ele passava praticamente o dia tocando violão". Daniel, que tinha 16 anos quando perdeu o pai, fala sobre a influência da música com os pais: "O lado MPB da casa era da minha mãe e meu pai escutava de tudo. Eu, como adolescente, escutava muito rock dos anos 1980".
E entre histórias da infância, Fernanda recorda uma das manias do pai: "Ele ficava testando as músicas na gente. Às vezes quando lançava a música a gente já odiava. Colocava a gente pra cantar várias vezes e gravava. Era divertido, mas era chato pois a gente não aguentava mais aquilo", diz, rindo.
Ela também fala sobre o fato positivo de ser filha de uma pessoa pública: "Isso ajuda a gente a não esquecer. Por exemplo, minha mãe que faleceu seis meses depois de meu pai e eu não tenho tanta memória dela. Então isso me ajuda a manter ele vivo. Às vezes, alguém na rua me encontra e fala que conheceu meu pai, que trabalhou com ele e conta alguma coisa".
Obra atemporal
"Independente de ser filha, eu escuto muito as músicas dele. É um artista que me inspira", afirma Fernanda, que conviveu pouco com o pai. "Eu conheci meu pai mesmo depois que ele morreu. Fui conhecendo através das músicas dele, das histórias das pessoas, de amigos próximos, da família, perguntando sobre ele... e é isso que mantém ele tão vivo ainda na minha memória", revela.
Segundo Fernanda, atualmente há poucos compositores fortes e críticos como Gonzaga. "Ele tinha músicas que falavam do cotidiano, muita crítica direta, algumas veladas por conta da ditadura".
Ela ainda cita como exemplo as manifestações de 2013 no país, quando postou na sua página no Facebook trechos da música Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória , dona dos versos "Memória de um tempo onde lutar por seu direito é um defeito que mata". E afirma: "Se você for ouvir hoje uma música que foi composta em 1973, parece que foi feita ontem. A obra dele tem uma força muito grande. E eu acho que é necessário se falar hoje".
Daniel, tão crítico quanto o pai, comenta: "Gonzaguinha fez música numa época onde nos éramos mais inteligentes, a música popular brasileira era muito rica. Não só a música brasileira, como também a mentalidade das pessoas. A obra dele é a nossa história".
E como manda a genética Gonzaga, Amora, Fernanda e Daniel seguiram passos do pai e avô. Após sair do grupo Chicas, onde cantava com a irmã Amora Pêra e mais duas amigas, Fernanda segue carreira solo e em outubro lançará um disco em homenagem ao pai, com regravações do disco Plano de Voo (1975), além de duas inéditas. Já Daniel, segue com seu trabalho e Amora com o grupo Chicas.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes