MÚSICA
Fim de semana: Roberto Mendes leva o ‘Samba Antes do Samba’ à CAIXA Cultural
Projeto também traz um formato inédito
Por Grazy Kaimbé*
“Se eu não fosse santamarense, eu seria baiano ou brasileiro”, brinca Roberto Mendes. Devoto do samba e de Santo Amaro, o violonista homenageará as origens do gênero no Recôncavo Baiano em três apresentações na CAIXA Cultural neste fim de semana.
O projeto também traz um formato inédito que une viola, violão, baixo, tambores e bateria: "O violão é um instrumento de percussão de cordas, algo que pouca gente sabe. Ele é frequentemente tratado como um instrumento harmônico, adaptado pela clave de som do piano, mas originalmente ele tem uma essência mais percussiva, quase como um trombone sensorial. Quando desenvolvo minha técnica, penso nele dessa forma: um instrumento de percussão”, diz.
Para ele, essa é uma oportunidade única do público conhecer Santo Amaro com um olhar diferente e artístico. O repertório dos shows contará com canções que fará o público se conectar às raízes do samba do Recôncavo. Além de faixas do álbum Na Base do Cabula (2019), ainda se ouvirá Só se vê na Bahia (1996) e Filosofia Pura (1983), de sua parceria com o professor, poeta e compositor Jorge Portugal, também filho de Santo Amaro.
“O repertório foi escolhido para explorar as diferentes variantes da chula, como o ijexá, que traz um caráter bem particular. O ijexá, que já foi muito cultuado na região do Recôncavo, mas aqui apresentamos uma interpretação que carrega traços bem soteropolitanos, com um canto que remete às raízes de Salvador”, comenta Roberto.
Além de uma seleção clássica, Roberto estará muito bem acompanhado por Gustavo Caribé, no baixo, Tedy Santana, nos tambores, Marcos Bezerra, no violão, e Iuri Passos na percussão/bateria. “É algo muito especial tocar com essa galera, vai ser um show único. Rico e cheio de emoção”, pontua Roberto.
O samba raiz
O samba antes do samba é fruto de mais de três décadas de pesquisa de Roberto sobre as origens do gênero e suas variantes, com destaque para a chula, estilo surgido no século XIX em comunidades rurais do Recôncavo e com raízes no norte de Portugal.
“Este projeto remete à ideia de que o samba teria nascido na Bahia, mas eu acredito que cada lugar tem seu próprio samba. O samba de Santo Amaro é o de Santo Amaro, enquanto o samba do Rio é o do Rio. A música brasileira nasce em várias regiões, do trabalho, do cotidiano, do que cada povo vivencia”, diz.
Artista consagrado, Roberto também já lançou um documentário e dois livros sobre o tema. O documentário mostra os processos de formação que impulsionam o ritmo. O filme mostra ainda que Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo da Bahia, é elemento essencial entre os que compõem o gênero. E o livro destaca ainda mais cada detalhe do gênero musical.
“Todos estes trabalhos são frutos da minha essência em Santo Amaro. Lá é mais do que um lugar para mim, é memória, história, é o coração do que faço. Talvez o público não conheça este lugar que carrego dentro de mim, mas espero que, ao ouvir as músicas, o publico consiga sentir essa conexão” afirma.
O show ainda destaca o encontro histórico entre o batuque cabula e as violas machete três quartos no século XIX, que deu origem ao canto violado, um marco na música brasileira. “Será um momento muito especial. Tem coisas que eu nem consigo expressar aqui, mas que vou falar no palco. É lá que vou compartilhar todo o carinho que sinto pela terra onde nasci, pelas memórias que carrego e pela cultura que me moldou. Santo Amaro e seu entorno sempre serão parte de tudo o que faço, e espero transmitir isso através da música”, conclui.
“O Samba Antes do Samba” / Amanhã e sábado (30) às 20h e domingo (1º) às 19h / CAIXA Cultural (Rua Carlos Gomes 57, Centro) / R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada para cliente CAIXA e todos os casos previstos em lei)
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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