CULTURA
Franciel Cruz lança livro de crônicas do futebol na segunda
Lançamento será no Clube da Assalba, em Itapuã
Por Chico Castro Jr.

Demorou, mas finalmente o sumo-sacerdote da chibança e da dança de rato vai lançar seu segundo livro – o primeiro desde o cultuado Ingresia: Chibanças e Seiscentos Demônhos (2018), um sucesso editorial que já esgotou algumas tiragens. Desta vez, ele dirige sua pena da galhofa e do afeto para o ludopédio que tanto ama: Tá pensando que tudo é futebol? Reminiscências e Contradições já sai com 542 cópias pré-vendidas e tem lançamento com direito a baba e churrasco de bode nesta segunda-feira (21), no Clube da Assalba, em Itapuã.
Na verdade, mais do que falar de futebol, este torcedor “doente” pelo Vitória versa em suas 49 crônicas sobre tudo o que cerca o esporte – principalmente a sua real razão de ser, que é a torcida. Curiosamente, ele o compara a uma “espécie de retomada de uma partida que foi interrompida”. Motivo: ele perdeu quase todos os textos já prontos, depois que seu computador deu um pau lá nele.
“Então, eu tive que fazer aquele trabalho de Sísifo, de chamar cada um dos textos das pessoas, das histórias, de volta às minhas memórias e reconstituí-las. Então, este é um livro em que eu proponho um debate sobre o futebol para além das quatro linhas. Tem questões relacionadas ao racismo, à luta das mulheres pelo direito de jogar bola, à impunidade – enfim, um retrato do Brasil, porque, conforme já disse o sociólogo Gabriel Cohn, só vai entender esse país aquele sociólogo que tiver as calças esgarçadas no cimento das arquibancardas”, afirma.
“Eu não sou sociólogo, não tenho a pretensão de entender o país, mas quero dar esta contribuição para que a gente possa rir, chorar, se emocionar com esse elemento que é constitutivo da nossa identidade, pois mesmo quem não curte o futebol é atravessado por ele, para usar uma linguagem moderna”, acrescenta Franciel.
Começa bailando
Inconformado com os rumos que o esporte nacional tem tomado neste século, Franciel faz de suas crônicas uma ode não exatamente ao lendário jogador Garrincha (a quem teve a felicidade de ver em campo, quando criança), mas ao que ele representava: a imprevisibilidade do drible, à magia perdida pelo esporte, que nos últimos anos viu aumentar o vigor físico dos atletas, enquanto a emoção diminuiu.
“O jogo de bola e a vida se transformaram em uma espécie de corrida de cavalos. Além da correria cartesianamente desabalada, o VAR/photochart passou a decidir a peleja por um dedo mindinho ou por um nariz de vantagem”, diz.
“Atualmente, se substituiu a imprevisibilidade pela máquina de calcular. Tudo passou a ser milimetricamente computado, quantificado. E, nas cabines de rádios, nas (mal) ditas redes sociais e em outros lugares insalubres, pontificam os cabeças de planilha”, observa o cronista torcedor.
Por conta de tudo isto, Franciel faz de suas crônicas um manifesto pelo futebol que dança, que improvisa. “Do ponto de vista conceitual, é um livro que realmente é uma tentativa de chamar pra dança, pro baile, para o improviso e sair da história da calculadora dos cabeças de planilha”.
Ao longo de suas páginas, Franciel lança mão das ‘Reminiscências e Contradições’ anunciadas no subtítulo do livro. “Eu começo relembrando a primeira vez que vi Garrincha, eu o vi em campo lá em Irecê (cidade natal do autor), e termino com a história de Tom e Tote. Tom torce para o Bahia e Tote, para o Vitória, e eles têm uma disputa pela liberdade de um passarinho. E Garrincha, como todos sabem, ganhou esse apelido, justamente porque parecia com a garrincha, o passarinho”.
“Então eu começo bailando e tento fechar o livro voando, deixando a linha aberta. Relembro, enfim, parceiros da noite, como o (ator) Wilson Melo, a gente bebia e discutia sobre futebol. Enfim, eu choro relembrando do racismo que estava incrustrado em minha própria família, uma denúncia dura para mim, mas necessária. É um livro que me tocou profundamente, eu espero que as pessoas também fiquem tocadas”, conclui.
Lançamento do livro ‘Tá pensando que tudo é futebol?’/ Segunda-feira (21), 10h07 / Clube da Assalba (Rua da Ilha, Itapuã)
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