CULTURA
Gravado antes e durante a pandemia, Atiça traz a banda Eddie em grande forma
Por Isadora Melo*
Era janeiro de 2020 e a banda pernambucana Eddie lançava o lado A do mais novo álbum, Atiça. Diante de um cenário pré-pandêmico, aparentemente tudo caminhava numa empolgante normalidade, e a expectativa era gravar o lado B em março. Eis que o mundo virou de cabeça para baixo: a pandemia se instaurou e, somada ao isolamento, plantou no vocalista Fábio Tummer uma estranha inspiração.
Foi a partir desta necessidade de movimento em um mundo parado que nasceu uma das músicas mais marcantes do lado B. A partir daí as produções foram se desenrolando. “Com todas as medidas sanitárias cabíveis, gravamos em isolamento cada faixa com muito amor e esperança”, diz. E é assim, com cuidado, dedicação e celebração aos mais de 30 anos de estrada, que Eddie apresenta orgulhosamente a peça que faltava no quebra cabeça: o lado B de Atiça, disponível em todas as plataformas de streaming desde o dia 28 de maio.
A canção mencionada anteriormente é sublime, reflexiva e intensa, e é a nona das dez músicas presentes no oitavo álbum, recém lançado. Intitula-se Copa dos Edifícios, e sobre esta marcante composição, o vocalista conta: “É uma música que me emociona muito, porque ela fala de um período da pandemia em que a gente estava muito isolado, e eu passava bastante tempo no apartamento, em Recife, olhando as ruas bem vazias lá de cima, experimentando esse sentimento sublime de ‘o que é que tá acontecendo?’, ‘será que a gente vai poder se reencontrar?’. Ainda naquela ressaca de perder um ritmo de vida”.
Apesar de terem experimentado em voo rasante o salgado gosto do isolamento, o Eddie não se deixou vencer pela tristeza, e trouxe no ensolarado lado B uma mistura perfeita entre a musicalidade nordestina e as mais diversas pulsões culturais internacionais. Dentre as referências, pode-se notar um tanto de frevo, sons carnavalescos, punk rock oitentista e dance music da década de noventa. “Conseguimos unir de maneira natural vários elementos musicais que não costumam se misturar. Apesar de distintos, soam muito bem encaixados – não como uma ‘colcha de retalhos’”, pontua Tummer.
João Gilberto e Ramones
O grupo já teve distintas formações, e hoje conta com Fábio (voz e guitarra), Alexandre Urêa (percussão e voz), Andre Oliveira (trompete, teclados e sampler), Rob Meira (baixo) e Kiko Meira (bateria). Apesar de ter vivenciado diferentes fases com diversos músicos, o vocalista afirma: “Ninguém nunca ‘saiu’ do Eddie. O Eddie apenas se multiplicou”.
Recheados de faixas brilhantes em tom de desabafo sincero, o oitavo álbum da banda foi gravado no Fruta Pão Records por Homero Basílio, mixado por Tostoi, Leo D. e Buguinha Dub – também responsável pela masterização. Além destes grandes nomes por trás da produção, conta também com participações especiais como a de Sofia Freire, Isaar, Ganga Barreto e Orquestra Henrique Dias. A escolha por não seguir um gênero pré-definido está no DNA da banda desde o princípio, e não poderia ser diferente no novo lançamento: “A nossa banda é antiga, mas está sempre em renovação. O Atiça é muito importante para marcar esta trajetória, porque afirma a personalidade da banda. A nossa escolha é sempre seguir o caminho da união de diversas referências para criar uma essência única com novos elementos, novas texturas... enfim, uma nova experiência!”. A fim de definir este caldeirão de sabores, Fábio brinca: “Estamos entre João Gilberto e Ramones”.
Tocando as músicas com maturidade, mas sem perder o frescor, o novo álbum é um prato cheio de sensações, e oferece margem para que todos identifiquem sus histórias a partir das músicas.
“Só temos como saber o que são as músicas a partir da perspectiva do ouvinte. Sempre deixo as composições como portas abertas, prontas para receber o ouvinte”, afirma.
Transitando entre desabafos sensíveis e fortes críticas sociais, Atiça finaliza-se com um suspiro de esperança: Aurora dos Novos Tempos abre uma janela para o ar do otimismo circular nos ambientes fechados pelo medo.
Eddie no mundo
A banda, que espalhou suas sementes ao redor do planeta, coleciona histórias internacionais. “Fiquei surpreso em notar que Atiça está sendo muito bem recebido na Rússia! Não é a primeira vez que fincamos nossa bandeira em outros países”, conta Fábio.
O primeiro álbum da banda foi gravado em Massachusetts, Estados Unidos, numa fazenda que já serviu de estúdio de gravação para grandes nomes do rock n’ roll, como Soundgarden e Aerosmith. “Até os Roling Stones deram um pulo por lá, ensaiando para turnês” lembra, com entusiasmo.
Com formação diferente, já fizeram shows na europa. “É interessante levar nossa regionalidade para países europeus, que estão habituados a consumir um outro tipo de conteúdo. Essas histórias e experiências de vida nos impulsionam a fazer sempre mais”.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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