DANÇA
Grupo carioca Cia. Suave chega à cidade com o espetáculo ‘Zona Franca’
O passinho na encruzilhada
Por Gláucia Campos*
![Imagem ilustrativa da imagem Grupo carioca Cia. Suave chega à cidade com o espetáculo ‘Zona Franca’](https://cdn.atarde.com.br/img/Artigo-Destaque/1300000/1200x720/Grupo-carioca-Cia-Suave-chega-a-cidade-com-o-espet0130611300202502052008-ScaleDownProportional.webp?fallback=https%3A%2F%2Fcdn.atarde.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F1300000%2FGrupo-carioca-Cia-Suave-chega-a-cidade-com-o-espet0130611300202502052008.jpg%3Fxid%3D6546377%26resize%3D1000%252C500%26t%3D1738840950&xid=6546377)
A Companhia de Dança Suave, sob direção da coreógrafa Alice Ripoll, estreou ontem (5) o espetáculo Zona Franca na Caixa Cultural, seguindo em cartaz até domingo. Essa é a primeira vez do grupo na cidade. Além do espetáculo, o grupo carioca vai realizar uma oficina de passinho e promover rodas de conversa com o público.
A companhia, que já conta com dez anos de trajetória, tem no passinho uma de suas principais referências, combinando essa linguagem das danças urbanas com influências do teatro, danças afro e afro-contemporâneas. Para Alice Ripoll, a chegada a Salvador é a realização de um desejo antigo.
“Sempre quisemos trazer esse espetáculo para a Bahia. É um trabalho muito brasileiro, que fala sobre as danças urbanas do Brasil, mas também tem influência de outras danças populares. A Bahia é como um mini Brasil dentro do Brasil, então o grupo sempre teve esse desejo de se apresentar aqui", afirma a diretora.
A oficina será ministrada na tarde de hoje, das 15h às 16h30, para dançarinos profissionais ou estudantes de dança. A aula é ministrada por dançarinos que apresentam a técnica e exercícios usados para desenvolver a linguagem da Cia. Foram ofertadas 25 vagas, com inscrições gratuitas.
Criado no período da pandemia, Zona Franca reflete sobre os desafios enfrentados pelos artistas e as escolhas que moldam suas trajetórias. Alice Ripoll destaca que a ideia do espetáculo surgiu do impacto da crise sanitária e política no setor cultural. “Nos perguntamos como aqueles artistas estavam, quais seriam as possibilidades dali em diante. O campo das artes foi muito afetado, com o fim do Ministério da Cultura na época. Se o país escolhesse novamente um governo assim, talvez o grupo não conseguisse se sustentar. Quantos outros artistas precisariam abandonar suas carreiras? Essas reflexões inspiraram o espetáculo", explica.
A diretora comentou que por se tratar de um espetáculo de dança contemporânea, a abordagem e a forma como o conceito das encruzilhadas se materializa no palco é mais abstrata. Os dançarinos fazem uso dos elementos presentes em cena, como balões de festa, para trabalhar algumas reflexões: “Os balões trazem a ideia de impulsos de mudança, são estourados em momentos específicos, gerando transformações na cena, como se fossem impulsos de mudança. Eles também remetem à celebração, como os rituais de passagem no Ano Novo ou nos aniversários", pontua Alice.
A força do passinho
Desde sua fundação, a Companhia Suave tem no passinho um elemento essencial de pesquisa. A dança, nascida das comunidades cariocas nos anos 2000, envolve movimentos rápidos e coordenados com as pernas e pés, trazendo elementos do break, frevo, samba e capoeira.
“A companhia surgiu de um projeto que propunha um diálogo entre a dança contemporânea e uma técnica de dança urbana. Escolhi trabalhar com o passinho e criamos Suave, nosso primeiro espetáculo. Essa fusão entre passinho e dança contemporânea se tornou o carro-chefe do grupo. No segundo e no terceiro espetáculo, incorporamos outras técnicas, como teatro, voz, contato e diferentes estilos de dança, mas o passinho segue como uma linguagem muito presente, pois é a origem da companhia", conta Ripoll.
Zona Franca é a continuidade de uma pesquisa iniciada em montagens anteriores do grupo, Suave e Cria, que também exploraram a relação das danças urbanas e populares do Brasil com a contemporânea. ”O passinho, por exemplo, é tradicionalmente utilizado em batalhas, mas no nosso espetáculo ele aparece em outros contextos. Isso faz parte da nossa leitura contemporânea da dança”, disse.
Alice também comentou que a evolução dessa pesquisa reflete também o amadurecimento dos dançarinos que trazem outras perspectivas para construir o espetáculo. “Muitos integrantes estão no grupo desde o início. Durante esses 10 anos, houve um amadurecimento profissional significativo. Quando começamos, alguns tinham 18 ou 19 anos. Hoje, eles têm mais experiência, participaram de outros projetos e trouxeram novas influências para a companhia, como dança afro, teatro, pole dance e até técnicas do TikTok. Essas vivências externas foram incorporadas ao trabalho. A principal evolução ao longo dos anos foi o aumento da liberdade. Buscamos expandir nossos limites, explorando cenas mais teatrais e desafios artísticos. Tanto eu, como diretora, quanto os dançarinos, temos buscado mais liberdade criativa para inventar e transformar”, acrescentou.
Mundo afora
O espetáculo já passou por outras cidades brasileiras e por diversos países, como França, Áustria e Estados Unidos. Ripoll comentou que a carreira internacional da companhia começou desde o primeiro espetáculo: “Na estreia, tivemos curadores estrangeiros no festival no Rio, e desde então realizamos turnês anuais pela Europa e outros países. Isso tem sido fundamental para a manutenção do grupo”.
Apesar do reconhecimento internacional, a artista lamentou a dificuldade de conseguir circular com os espetáculos no Brasil. “Manter um grupo de 10 pessoas no Brasil é extremamente difícil, especialmente contando apenas com as políticas públicas nacionais. Não temos patrocínio continuado, o que dificulta o aprofundamento do trabalho [...] Apesar do suporte financeiro internacional, nosso trabalho é criado no Brasil, feito por brasileiros, aborda manifestações culturais brasileiras, e ainda assim é mais visto no exterior. Mas todas as vezes que nos apresentamos no Brasil temos uma receptividade muito boa", conclui Alice.
Zona Franca, da Cia. Suave / De hoje até domingo (9), 20h – exceto domingo, às 19h / CAIXA Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes 57, Centro) / R$ 30 e R$ 15 / Vendas: Sympla / Classificação indicativa: 16 anos
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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