CULTURA
Grupo de capoeira promove atividades culturais em escola de Salvador
Morada dos Bambas realizou primeiro batizado e troca de cordas do grupo
Por Flávia Barreto*
Mestres e alunos do grupo de capoeira Morada dos Bambas promoveram, neste domingo, 2, uma manhã cultural no Colégio Estadual Luís Viana, no bairro de Brotas. Aberto ao público, o evento foi marcado ainda pelo primeiro batizado dos novos capoeiristas e pela tradicional troca de cordas, cerimônia de graduação dos estudantes do esporte.
O encontro, que segue pela tarde, inclui apresentações culturais, como maculelê, samba de roda e um coral em formato de ladainha de um grupo de idosos. Na ocasião, alunos receberão suas graduações e outros terão suas graduações retificadas.
O grupo de capoeira Morada dos Bambas possui diversos núcleos com aulas gratuitas em Salvador, sendo o principal no Engenho Velho de Brotas. O grupo é composto por membros com formações profissionais variadas, como o contramestre Thales Touro, que é psicólogo, o Mestre Albatroz, enfermeiro, e o Mestre Tocaia, educador físico com pós-graduação em lesões esportivas.
Conhecido como Mestre Arpão, Ary Menezes Passos tem uma longa trajetória, que começou em 1986. Idealizador do projeto, contou com a ajuda do irmão para realizar seu sonho. Em sua história com a capoeira, Mestre Arpão se tornou deficiente após sofrer um acidente, mas utilizou a expressão cultural como principal motivação para sua recuperação.
"A capoeira é tudo que a boca come, a capoeira é luta, esporte, é interação, é vida. Por exemplo, eu sofri um acidente e fiquei um ano em cima da cama, literalmente, sem poder levantar. Depois, passei seis a oito meses em uma cadeira de rodas. Quem me levantou foi a capoeira, meus alunos, os alunos do grupo, outros professores, outros mestres. Eles diziam: 'mestre, vamos até o senhor para dar aula.' Incrível, eu dava aula de cadeira de rodas com eles, e isso me trouxe uma nova energia. Se não fosse por isso, estaria na cama até hoje”, diz.
Como um esporte ancestral, a capoeira traz as raízes do povo negro, integrando também aspectos de religiosidade em seu contexto. Mestre Arpão enfatiza a importância de conhecer suas origens:
“As pessoas que não conhecem suas histórias, não têm suas raízes centralizadas. Precisamos preservar essa historicidade. É importante pegar um aluno na escola e dizer: 'olha, sua raiz vem de lá. Vem da ancestralidade da capoeira, dos negros, dos escravos, das senzalas’. E fizemos essa mistura de gerações que chamamos hoje de povo brasileiro.”
O mestre falou ainda sobre os objetivos do grupo Morada dos Bambas. “A nossa maior missão é uma nova construção, um novo pensamento capoeirista. Morada dos Bambas é isso: união, qualidade de vida, brincadeira, alegria, valores, cultura, estudo, porque nós cobramos estudo da criança”, completa.
Idosos também gingam
Psicólogo e contramestre, Thales Cardoso, mais conhecido como Touro, iniciou sua história na capoeira em 1994. Idealizador e responsável pelo projeto "Idosos Também Gingam", ele explica a importância da inclusão dos idosos no esporte e como isso pode contribuir para a valorização da autoestima e a saúde.
“Eu dava aula para crianças e adolescentes, e alguns desses adolescentes se tornaram adultos e continuaram treinando comigo. Certo dia, eu estava na sala da guarda municipal quando uma senhora entrou, informando que estava com depressão e queria fazer atividade física, mas as turmas estavam cheias. Naquele momento, achei que deveria haver uma oportunidade de incluir aquela senhora em uma atividade. Sugeri, então, um projeto com capoeira para idosos”, contou.
“Desde então, as turmas vêm crescendo cada vez mais. A capoeira traz diversos benefícios para os idosos, tanto físicos quanto cognitivos. Hoje, já sabemos que a prática de atividade física pode evitar diversas doenças mentais, como a depressão e o Alzheimer”, explica.
Alunas do projeto do contramestre, as idosas Edelfrides Oliveira e Gilda Bittencourt falam sobre a escolha de entrar na capoeira.
“Eu queria alguma coisa para me expressar, para mover tudo”, disse Edelfrides.
Já Gilda procurou a prática esportiva para melhorar a saúde após ter sido diagnosticada com obesidade.
“Capoeira é qualidade de vida […] Eu não lavava mais banheiro de cima a baixo, agora eu lavo banheiro de cima a baixo. Eu tenho mais disposição para fazer as coisas. Ontem mesmo, eu fiz uma faxina geral na minha casa, deixei a casa toda em ordem, subo e desço. Então, para mim, a capoeira é tudo. Eu me sinto realizada, é uma nova família”, afirmou ela, que é moradora do bairro de Santa Mônica.
Juventude na roda
E se a prática da capoeira para os idosos está sendo cada vez mais difundida, entre os jovens, ela já é um sucesso. Aldy Menezes Passos, mais conhecido como Mestre Tocaia desde 1982, fala como o Morada dos Bambas contribui para o desenvolvimento das crianças e adolescentes na comunidade.
“A capoeira é rica em possibilidades. Ela atua tanto no campo motor, tanto no campo psicológico da criança, porque elas ficam entusiasmadas em fazer coisas boas, fazer movimentos, fazer tudo que a capoeira tem de oferecer para a criança. E é um atrativo muito bom, porque a criança, além de se divertir, aprende uma luta, uma dança, uma cultura, um esporte.”
Darlene Behrens Correia, moradora do bairro Engenho Velho de Brotas, mãe da aluna Aimê Vitória, de 12 anos, enxerga a capoeira como uma transformação social, um resgate dos jovens que estão à mercê da criminalidade nas comunidades. Darlene completa falando sobre as disciplinas que a capoeira vem favorecendo à sua família.
“Capoeira ensina disciplina, atividade física, que é importante, pegar condicionamento, interação, tempo ocupado.”
Durante a manhã, o evento contou com aproximadamente 300 pessoas no espaço para a celebração dos capoeiristas. As atividades seguem pela tarde.
*Sob supervisão de Bianca Carneiro
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