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LITERATURA

Historiadora analisa produção de Caetano no exílio

Momento é também uma oportunidade para discutir a importância histórica e musical dos álbuns Caetano Veloso

Por Israel Risan*

29/11/2024 - 4:00 h
Imagem ilustrativa da imagem Historiadora analisa produção de Caetano no exílio
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Em It’s a Long Way – O Exílio em Caetano Veloso (Garota FM Books, 224 páginas, R$ 79) com lançamento neste domingo (01), a historiadora Márcia Fráguas analisa a produção musical de Caetano Veloso durante o período de seu exílio, que se estendeu de 1969 até 1972. O evento acontece na Livraria do Glauber (Cine Glauber Rocha), com uma conversa entre a autora, o crítico literário Antônio Marcos Pereira e a advogada e mestranda Sarah Mirella, ambos da Universidade Federal da Bahia

O momento é também uma oportunidade para discutir a importância histórica e musical dos álbuns Caetano Veloso (1971) e Transa (1972), que marcaram o período de adaptação e reinvenção do artista no exterior. O exílio de Caetano e Gilberto Gil, em 1969, foi uma das consequências mais visíveis do regime militar. Com a prisão dos dois músicos e a pressão política imposta, ambos foram forçados a deixar o país, vivendo em Londres até 1972. O trabalho de Márcia Fráguas revisita a produção musical do cantor neste período, buscando entender como a experiência do exílio impactou sua produção artística.

A ideia de escrever sobre o exílio de Caetano surgiu durante a graduação de Fráguas em História pela Universidade de São Paulo (USP). "No final da minha graduação, percebi que não havia nenhum trabalho de fôlego sobre a obra do exílio de Caetano até aquele momento. Eu já tinha interesse em pesquisar canção popular, e achei que seria interessante olhar para esse passado recente, com um olho no presente", explica. Essa motivação se tornou a base para sua dissertação de mestrado, que deu origem ao livro.

A obra propõe uma análise dos álbuns lançados pelo artista entre 1969 e 1972: Caetano Veloso (1969), Caetano Veloso (1971) e Transa (1972), este último gravado em Londres. Para a autora, esses discos representam momentos distintos da experiência do exílio. "Os álbuns do período descrevem um arco. O disco de 1969 traz as dificuldades de gravação em prisão domiciliar, enquanto o de 1971 é a adaptação ao estrangeiro", comenta a autora. A análise das letras e sonoridades desses álbuns busca evidenciar como Caetano lidou com a saudade e o distanciamento cultural, que o forçou a se reinventar.

A pesquisa de Fráguas também destaca a transformação da poética de Caetano, que passou a cantar também em inglês. "O exílio é uma condição paradoxal, de inadequação espaço-temporal permanente e também de ordem cultural e linguística", explica. Esse processo de adaptação à nova realidade levou Caetano a experimentar novas formas de composição, incluindo a utilização do violão, que foi incorporado aos discos apenas após o seu exílio, devido à restrição imposta pelos militares no Brasil.

Para a autora, o exílio de Caetano, paradoxalmente, foi um momento de expansão criativa. "Caetano transformou a dor e o distanciamento em arte. Mesmo em um momento de profunda tristeza, ele estava produzindo intensamente e gerando obras que se tornaram marcos da música popular brasileira", reflete. Isso se confirma na análise do Transa, que, embora tenha sido composto em um período de sofrimento pessoal, se destaca pela inovação sonora e pela carga emocional.

A adaptação da dissertação de mestrado para o formato de livro representou um desafio para a autora. "A edição de Chris Fuscaldo foi muito competente em manter a agilidade do texto sem a formatação acadêmica cheia de referências e notas de rodapé. Isso permitiu que a obra fosse acessível a um público mais amplo, sem perder a profundidade acadêmica", afirmou Fráguas. Ela acredita que o livro, embora voltado para um público geral, também é relevante para pesquisadores e estudiosos da música brasileira.

Panorama fraturado

O processo de escrita também contou com a contribuição de outros especialistas, como o professor Leonardo Davino, que escreveu o prefácio do livro. "Os olhares de Leonardo Davino e Sheyla Diniz complementam e ampliam para o grande público o sentido do que busquei tratar no livro", afirma a autora. A crítica de Davino, que também foi membro da banca de defesa da dissertação de Fráguas, ajudou a moldar a versão final da obra.

Fráguas acredita que o evento de lançamento será uma oportunidade para um diálogo mais profundo sobre o contexto histórico do exílio de Caetano Veloso e sobre o impacto desse período na música brasileira. "Tenho a alegria de ser recebida no Glauber por dois pesquisadores da UFBA que admiro, para um bate-papo sobre o livro", disse Fráguas.

Ela também destaca o papel do movimento Tropicalista e como o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil fraturou o panorama cultural brasileiro. "O AI-5 incide sobre essa geração de artistas como um trauma. Muitos se exilaram, outros foram presos, torturados, ou se recolheram", comenta. Essa fratura é um dos pontos centrais do livro, que busca reconstruir o impacto político e artístico do golpe militar, especialmente sobre o movimento que, mais do que inovador, foi também um reflexo das tensões sociais e políticas da época.

O título – It’s a Long Way – faz referência à ideia de travessia e ao longo processo de adaptação de Caetano no exílio. "Na minha leitura, estes álbuns descrevem um arco que vai da dificuldade do exílio até a superação emocional", explica. Esse "long way" reflete o longo caminho de Caetano, tanto no sentido físico quanto no psicológico, durante o período, que, para ele, se tornou uma experiência de renascimento artístico. A obra ainda reflete sobre o impacto do trabalho do artista no cenário cultural e como ele transformou a adversidade em uma obra essencial para a compreensão da música popular do país.

It’s a Long Way – O Exílio em Caetano Veloso / Lançamento: domingo (01), 18h / Bate-papo com a autora, Antonio Marcos Pereira e Sarah Mirella / Livraria do Glauber (Cine Glauber Rocha, Pça. Castro Alves)

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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