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CÊNICAS

‘Hoje é Dia de Rock’ resgata peça histórica

História do espetáculo conta a aventura de uma família do sertão mineiro em busca de novas oportunidades na cidade grande

Por Gláucia Campos*

21/11/2024 - 1:00 h
Uma das principais características de Hoje é dia de Rock é a trilha sonora
Uma das principais características de Hoje é dia de Rock é a trilha sonora -

Misturando a tradição brasileira ao universo pop-rock americano da década de 1950, o espetáculo Hoje É Dia de Rock estreou temporada no Galpão Wilson Mello, no Forte do Barbalho. Dirigida por Daniel Marques, em sua primeira montagem profissional, a peça teve sua primeira apresentação na última sexta-feira, 08, e conta com mais cinco datas: 21, 22, 23, 28 e 29, às 19h.

A história do espetáculo conta a aventura de uma família do sertão mineiro em busca de novas oportunidades na cidade grande, enfrentando os desafios da modernidade. Pedro e Adélia deixam sua cidade natal em Minas com os cinco filhos enfrentando o medo do futuro e a saudade de casa.

Pedro, um clarinetista, tenta se dedicar à música e Adélia sonha com uma vida digna para os filhos. Enquanto isso, cada um dos jovens, por sua vez, explora os desejos e descobertas da adolescência, imersos na chegada de novos símbolos culturais, como músicas e artistas populares na época.

O texto foi escrito nos anos 1970 pelo dramaturgo mineiro Zé Vicente e foi escolhido pelo diretor, Daniel Marques, para ser seu espetáculo de formatura na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “[Zé Vicente] é um dramaturgo pouco montado aqui em Salvador, mas que tem uma escrita muito sensível e que representa uma geração. Eu gosto muito de sentir quando um texto de teatro fala através de uma geração, né?”, pergunta-se Marques.

“Ele faz coro ao pensamento e ao desejo de uma época. Foi um texto escrito no final dos anos 1960 e fala sobre sonhos, sobre a vontade de mudança, de se sentir livre. E como um representante da contracultura, ele escreveu esse texto quando estava exilado em Londres. É um texto de lembranças da sua infância no interior de Minas e da chegada das influências do rock e da cultura pop norte-americana também no Brasil”, explicou.

A admiração pelo texto e pela primeira apresentação da peça em 1971, foi tanta que Daniel decidiu que Hoje é dia de Rock, seria seu primeiro trabalho profissional depois da formatura. Então, foi atrás de começar a pensar como seria sua versão e como trabalhar os personagens: “O espetáculo me comoveu muito pela delicadeza do texto e pela história da Montagem dirigida pelo Ivan de Albuquerque pelo Rubens Corrêa no Teatro Ipanema. Ele tem muito mistério, nós ficamos muito tempo lendo e descobrindo as necessidades e as vontades dos personagens. Trabalhando sempre a partir do verbo, o que cada personagem quer: quer amar, quer correr, quer sair de casa, quer convencer”, acrescentou.

De Milton a Elvis

Uma das principais características de Hoje é dia de Rock é a trilha sonora, que reúne canções que tentam ilustrar canções brasileiras que faziam sucesso naquela época, em especial, em Minas Gerais, como Milton Nascimento, Lô Borges e Saulo Laranjeira. Assim como, as músicas “estrangeiras” que se popularizaram no país por meio do rádio, como os Beatles e Elvis Presley.

Segundo o diretor, a escolha do repertório musical, da mesma forma que as adaptações feitas no texto, teve o propósito de tentar retratar em cena essa dualidade entre a modernidade e a tradição. “Para montar esse texto, quando eu apresentei ele para as pessoas, algumas ficaram encantadas e outras assustadas, perguntando como eu levaria isso para a cena. Porque é um texto muito fragmentado, fomos fazendo adaptação, buscando fazer com que ele não perdesse o mistério parte do efeito dele, mas buscando fazer com que ele tivesse uma uma estrutura que pudesse chegar até as pessoas”, comentou.

Daniel também se preocupou em retratar a influência da cultura estrangeira no Brasil em todos os detalhes além das canções, como a ambientação e o figurino dos personagens. “Tudo isso chegando através do rádio e dos cinemas nas cidades. Isso foi se infiltrando na cultura do brasileiro e a gente foi absorvendo. O Brasil como um país de terceiro mundo e no alvo da expansão cultural de países como os Estados Unidos sofre essas influências. E na peça vemos como que isso foi recebido aqui é algo que o Zé Vicente fala muito”.

Para Mano Leone, produtor e intérprete do personagem Vicente no espetáculo, essa mistura dos símbolos brasileiros com a estética pop rock norte-americana leva uma complexidade maior ainda para a atuação e pro enredo d espetáculo.

“Aprofunda a interpretação, porque no meio do espetáculo a gente pensa de maneira estrutural há uma ruptura, tanto em relação ao texto quanto em relação a encenação. Há um momento lindíssimo, esses personagens que vivem no interior de Minas Gerais começam a entrar no delírio consumista norte-americano dos anos 50 por meio do cinema, do rádio, das músicas, das imagens – e isso faz com que nós, que somos atores, tenhamos que ficar numa corda bamba sempre, há um tensionamento entre o que aqueles personagens eram e que eles são”, relatou o ator.

Mano acrescentou que ele e a toda a equipe estão muito animados com a temporada de apresentações no Galpão Wilson Mello, principalmente pela resposta positiva que tem chegado por parte do público. “Tivemos uma linda primeira temporada no Martin Gonçalves em junho deste ano, em que lotamos as seis apresentações. Então quem não assistiu naquela altura e quem assistiu e gostou pode agora ir nos ver no Galpão”.

Hoje É Dia de Rock / A partir de hoje até sábado (23) e dias 28 e 29 de novembro, 19h / Galpão Wilson Mello (Forte do Barbalho) / R$ 40 e R$ 20 / Vendas: Sympla

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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