HQ
Hugo Canuto expande universo de ‘Contos dos Orixás’ em novo projeto
Quadrinista baiano tem viajado pelo mundo enquanto prepara novas histórias 'Orixás’ sem fronteiras
Por Gláucia Campos*
Ao unir a estética das HQs de super-herói às narrativas de tradição afro-brasileira, a serie Contos dos Orixás têm conquistado o público nacional e internacional. O quadrinista baiano Hugo Canuto, autor dos dois volume já lançados, representou recentemente a Bahia em eventos de HQ em Angola, Portugal e Guiana Francesa, e concorreu ao prêmio Ignatz nos Estados Unidos, no qual foi finalista (categoria (Promising new talent). Além disso, o autor também foi indicado em duas categorias do HQMix, o principal prêmio de quadrinhos no país.
Com muitos projetos em andamento, Canuto se prepara para lançar um novo livro de HQ, intitulado A Canção de Mayrube, em dezembro, enquanto já planeja o lançamento de dois novos volumes de Contos dos Orixás para 2025. Para o autor, as premiações são importantes pelo reconhecimento do trabalho e por também proporcionar que as histórias possam alcançar um público maior ainda.
“São importantes, principalmente para um trabalho independente como o nosso. Para mim, é uma satisfação grande como autor baiano poder levar parte da nossa história para a linguagem universal dos quadrinhos e chegar em públicos que não conhecem, não são familiarizados com esse universo. A gente constrói pontes com esse trabalho e acho que o prêmio é uma maneira de reconhecer esse processo. Embora eu sempre diga que o mais importante e o que mais mobiliza é o carinho do público, principalmente das pessoas das religiões de matriz africana, que nosso trabalho reverencia”, comentou Hugo.
Conexões
Além das premiações, em 2024 a série Contos dos Orixás levou o quadrinista para novos territórios. Hugo participou de um turnê internacional que incluiu três países e 13 cidades, além de uma imersão em aldeias indígenas da Amazônia guianense.
A jornada começou na Guiana Francesa, em abril, durante a Festa do Livro de Maripasoula, na Amazônia. Hugo, ao lado dos autores Gidalti Moura e Marília Marz, viajou pelo rio Maroni, visitando aldeias da nação indígena Wayana.
“Nós participamos de um festival itinerante em três aldeias indígenas e fizemos um intercâmbio cultural. Levei meus livros e, em troca, recebi produções literárias deles”, contou.
A turnê seguiu em julho para Portugal, onde participou do Congresso Internacional da Universidade de Aveiro. Porém, foi em agosto, em Angola, que o quadrinista sentiu-se mais próximo de casa.
Convidado para participar dos 20 anos do Festival Luanda Cartoon, ele se tornou o primeiro autor baiano a expor no evento. "Estar em Angola foi como estar na Bahia, foi como estar em casa”, diz ele.
“Falar de orixás e candomblé em um país africano, para um público que também se conecta com essas tradições, foi uma experiência poderosa. As similaridades são imensas, mas também há muitas diferenças, e essa troca cultural foi um presente”, conta.
Além dos encontros com novos públicos, o quadrinista destacou que uma das coisas mais prazerosas de poder apresentar seu trabalho é ver o impacto positivo que causa entre aqueles que não tinham familiaridade com as tradições afro-brasileiras.
“Eu fui com a expectativa de entender como essas histórias seriam recebidas. Falar de orixás e candomblé em lugares onde essas tradições não são tão conhecidas, como na Guiana Francesa, foi desafiador, mas ao mesmo tempo muito recompensador. Ver o interesse das pessoas, especialmente dos jovens, foi incrível. Muitos que antes tinham preconceito começaram a se interessar por essa cultura através da arte”, compartilhou.
Para o autor, a arte tem o poder de quebrar barreiras culturais e preconceitos, isso é algo que ele tem observado em suas viagens e no feedback de leitores ao longo dos anos.
“Mesmo pessoas que não tinham familiaridade com os orixás ou que foram criadas em ambientes com preconceito começaram a se interessar pela cultura através da arte. É como se a arte fosse uma água que penetra devagar e, quando você menos espera, já tomou conta de tudo”, diz ele, orgulhoso.
Novos projetos
A Canção de Mayrube, novo projeto de Canuto com lançamento previsto para este ano, é uma fantasia épica ambientada em uma ilha-continente marcada por disputas e alianças entre diversos povos.
O quadrinista comentou que a história surge a partir de pesquisas e explorações narrativas: “Sempre fui apaixonado por histórias de culturas não europeias, especialmente as do nosso próprio continente", disse.
O enredo acompanha o guerreiro Rudá, que precisa proteger a cidadela de Taloc, situada na fronteira com a misteriosa Floresta Ancestral. Ao lado de seu amigo Enkari e da sacerdotisa Coylur, eles enfrentam uma ameaça que pode destruir todo o reino. Hugo explica que o processo de criação dessa nova saga foi longo e pessoal.
“Fui criando aos poucos, no meu tempo livre. Durante anos, escrevi nos meus cadernos, desenvolvendo personagens, cidades e o próprio território desse universo. Acumulei tanto material que chegou um momento em que eu precisava transformar tudo isso em quadrinhos", conta.
Além de A Canção de Mayrube, o quadrinista anunciou que em 2025 trará novos volumes de Contos dos Orixás – dessa vez com a participação de diversos artistas.
“Temos uma grande novidade para o próximo ano. Reunimos nomes importantes do quadrinho nacional para trabalharmos juntos nos próximos volumes da série. É algo que sempre desejei desde o começo do projeto, e agora teremos novas edições com histórias inéditas, somando visões e talentos nessa jornada, sempre com cuidado e respeito às narrativas afro-brasileiras”, revela. Entre os lançamentos, destacam-se O Raio e o Trovão, que dará continuidade à saga de Xangô, e uma nova história protagonizada por Ogum, Oxóssi e Oxum no Reino das Águas.
“Sempre senti que o caminho era abrir portas para outros autores e autoras contarem essas histórias junto comigo. Há um ditado africano que diz: 'Se você quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado.' E é isso que estamos fazendo. Vamos longe juntos”, conclui o artista.
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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