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28/10/2024 às 8:00 • Atualizada em 28/10/2024 às 14:25 | Autor: Gláucia Campos*

HQ

Hugo Canuto expande universo de ‘Contos dos Orixás’ em novo projeto

Quadrinista baiano tem viajado pelo mundo enquanto prepara novas histórias 'Orixás’ sem fronteiras

Com muitos projetos em andamento, Canuto se prepara para lançar um novo livro
Com muitos projetos em andamento, Canuto se prepara para lançar um novo livro -

Ao unir a estética das HQs de super-herói às narrativas de tradição afro-brasileira, a serie Contos dos Orixás têm conquistado o público nacional e internacional. O quadrinista baiano Hugo Canuto, autor dos dois volume já lançados, representou recentemente a Bahia em eventos de HQ em Angola, Portugal e Guiana Francesa, e concorreu ao prêmio Ignatz nos Estados Unidos, no qual foi finalista (categoria (Promising new talent). Além disso, o autor também foi indicado em duas categorias do HQMix, o principal prêmio de quadrinhos no país.

Com muitos projetos em andamento, Canuto se prepara para lançar um novo livro de HQ, intitulado A Canção de Mayrube, em dezembro, enquanto já planeja o lançamento de dois novos volumes de Contos dos Orixás para 2025. Para o autor, as premiações são importantes pelo reconhecimento do trabalho e por também proporcionar que as histórias possam alcançar um público maior ainda.

“São importantes, principalmente para um trabalho independente como o nosso. Para mim, é uma satisfação grande como autor baiano poder levar parte da nossa história para a linguagem universal dos quadrinhos e chegar em públicos que não conhecem, não são familiarizados com esse universo. A gente constrói pontes com esse trabalho e acho que o prêmio é uma maneira de reconhecer esse processo. Embora eu sempre diga que o mais importante e o que mais mobiliza é o carinho do público, principalmente das pessoas das religiões de matriz africana, que nosso trabalho reverencia”, comentou Hugo.

Imagem ilustrativa da imagem Hugo Canuto expande universo de ‘Contos dos Orixás’ em novo projeto
| Foto: Divulgação

Conexões

Além das premiações, em 2024 a série Contos dos Orixás levou o quadrinista para novos territórios. Hugo participou de um turnê internacional que incluiu três países e 13 cidades, além de uma imersão em aldeias indígenas da Amazônia guianense.

A jornada começou na Guiana Francesa, em abril, durante a Festa do Livro de Maripasoula, na Amazônia. Hugo, ao lado dos autores Gidalti Moura e Marília Marz, viajou pelo rio Maroni, visitando aldeias da nação indígena Wayana.

“Nós participamos de um festival itinerante em três aldeias indígenas e fizemos um intercâmbio cultural. Levei meus livros e, em troca, recebi produções literárias deles”, contou.

A turnê seguiu em julho para Portugal, onde participou do Congresso Internacional da Universidade de Aveiro. Porém, foi em agosto, em Angola, que o quadrinista sentiu-se mais próximo de casa.

Convidado para participar dos 20 anos do Festival Luanda Cartoon, ele se tornou o primeiro autor baiano a expor no evento. "Estar em Angola foi como estar na Bahia, foi como estar em casa”, diz ele.

“Falar de orixás e candomblé em um país africano, para um público que também se conecta com essas tradições, foi uma experiência poderosa. As similaridades são imensas, mas também há muitas diferenças, e essa troca cultural foi um presente”, conta.

Além dos encontros com novos públicos, o quadrinista destacou que uma das coisas mais prazerosas de poder apresentar seu trabalho é ver o impacto positivo que causa entre aqueles que não tinham familiaridade com as tradições afro-brasileiras.

“Eu fui com a expectativa de entender como essas histórias seriam recebidas. Falar de orixás e candomblé em lugares onde essas tradições não são tão conhecidas, como na Guiana Francesa, foi desafiador, mas ao mesmo tempo muito recompensador. Ver o interesse das pessoas, especialmente dos jovens, foi incrível. Muitos que antes tinham preconceito começaram a se interessar por essa cultura através da arte”, compartilhou.

Para o autor, a arte tem o poder de quebrar barreiras culturais e preconceitos, isso é algo que ele tem observado em suas viagens e no feedback de leitores ao longo dos anos.

“Mesmo pessoas que não tinham familiaridade com os orixás ou que foram criadas em ambientes com preconceito começaram a se interessar pela cultura através da arte. É como se a arte fosse uma água que penetra devagar e, quando você menos espera, já tomou conta de tudo”, diz ele, orgulhoso.

Imagem ilustrativa da imagem Hugo Canuto expande universo de ‘Contos dos Orixás’ em novo projeto
| Foto: Divulgação

Novos projetos

A Canção de Mayrube, novo projeto de Canuto com lançamento previsto para este ano, é uma fantasia épica ambientada em uma ilha-continente marcada por disputas e alianças entre diversos povos.

O quadrinista comentou que a história surge a partir de pesquisas e explorações narrativas: “Sempre fui apaixonado por histórias de culturas não europeias, especialmente as do nosso próprio continente", disse.

O enredo acompanha o guerreiro Rudá, que precisa proteger a cidadela de Taloc, situada na fronteira com a misteriosa Floresta Ancestral. Ao lado de seu amigo Enkari e da sacerdotisa Coylur, eles enfrentam uma ameaça que pode destruir todo o reino. Hugo explica que o processo de criação dessa nova saga foi longo e pessoal.

“Fui criando aos poucos, no meu tempo livre. Durante anos, escrevi nos meus cadernos, desenvolvendo personagens, cidades e o próprio território desse universo. Acumulei tanto material que chegou um momento em que eu precisava transformar tudo isso em quadrinhos", conta.

Além de A Canção de Mayrube, o quadrinista anunciou que em 2025 trará novos volumes de Contos dos Orixás – dessa vez com a participação de diversos artistas.

Imagem ilustrativa da imagem Hugo Canuto expande universo de ‘Contos dos Orixás’ em novo projeto
| Foto: Divulgação

“Temos uma grande novidade para o próximo ano. Reunimos nomes importantes do quadrinho nacional para trabalharmos juntos nos próximos volumes da série. É algo que sempre desejei desde o começo do projeto, e agora teremos novas edições com histórias inéditas, somando visões e talentos nessa jornada, sempre com cuidado e respeito às narrativas afro-brasileiras”, revela. Entre os lançamentos, destacam-se O Raio e o Trovão, que dará continuidade à saga de Xangô, e uma nova história protagonizada por Ogum, Oxóssi e Oxum no Reino das Águas.

“Sempre senti que o caminho era abrir portas para outros autores e autoras contarem essas histórias junto comigo. Há um ditado africano que diz: 'Se você quiser ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado.' E é isso que estamos fazendo. Vamos longe juntos”, conclui o artista.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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Tags:

Contos dos Orixás hugo canuto

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