Influência da Bahia marca presença em novo álbum de Marcelo D2

Entre encruzilhadas, sonoridades e corpos encantados nas ruas, Marcelo D2 promove o encontro entre o rap e o samba em seu 9º álbum solo, Iboru, que acaba de chegar às plataformas digitais de música.

Convocando referências à ancestralidade, o malandro divino aparece transitando entre a vida mundana nas quebradas e as religiões de matriz africana nos terreiros. Rap e samba, juntos, se sacralizam e profanam, eliminando exclusões com a sabedoria do ritmo.

Nas 16 faixas de Iboru - que sejam ouvidas nossas súplicas, cavaquinho, coro, percussão e metais dialogam harmoniosamente com os graves eletrônicos do rap. A mistura aconteceu junto com um mergulho de D2 na sua própria história, em um reencontro com as religiões de matriz africana a partir do falecimento de sua mãe, Paulete Peixoto, em 2021.

"Eu venho de família de candomblé e era um projeto de vida buscar a minha ancestralidade. Com o falecimento da minha mãe, isso só se aprofundou. Me iniciei no ifá e essa retomada me deu um conforto muito grande nesse processo", conta D2.

De todas as faixas do disco, doze são de autoria do próprio cantor. Iboru incorpora samplers de Romildo e Monarco em homenagens póstumas aos compositores da Mocidade Independente de Padre Miguel e Portela. E conta com participações de artistas como Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Alcione, Mumuzinho, B. Negão, a banda Metá Metá e Mateus Aleluia.

"Ouvi Tincoãs a vida toda. Nunca imaginei que pudesse gravar com Seu Mateus. Quando Kiko (Dinucci) me mandou essa música (Kalundu, sexta faixa do álbum), a gente ficou pensando que ela pedia uma voz ancestral, uma voz de uma entidade forte. Aí pensamos em Seu Mateus e ele foi muito querido. Além da participação nessa música, ele é muito influente nesse disco. A música da Bahia tem uma influência forte no álbum, de Seu Mateus a Nelson Rufino, do samba à Baianasystem", explica Marcelo.

O disco traz também composições de nomes de diferentes gerações do samba, incluindo Moacyr Luz, Diogo Nogueira, Marcelinho Moreira, João Martins, Inácio Rios, Arlindinho e Marcio Alexandre, além de Zeca Pagodinho e Xande de Pilares.

História e arte

Luiz Antônio Simas, historiador e escritor, é parceiro de Marcelo D2 em uma composição do álbum, Povo de fé. Além disso, assina também a letra de Pra curar a dor do mundo, última faixa do disco.

Com mais de 20 livros publicados, entre eles O corpo encantado das ruas e Samba de enredo, história e arte, Simas tem o subúrbio do Rio de Janeiro como ponto de conexão com Marcelo D2. Na praça da Bandeira, zona norte da cidade, D2 começou sua história com o grupo Planet Hemp, no Garage Art Cult. Também na praça da Bandeira, Simas tomou os seus primeiros porres com mestres do samba, como Wilson Moreira (1936-2018).

Acionando linguagens diferentes, a literatura e a música, Simas e D2 constroem narrativas que contam a história de um futuro ancestral, que abre caminhos para o protagonismo do subúrbio, dos terreiros, do Brasil em que o samba dança com rap.

Agora, juntos, nos botecos, na religião (Simas é babalaô na linha do ifá cubano) e na música, reelaboram o malandro divino, apontando para frente sem deixar de olhar para trás. "Como se fosse uma flecha, quanto mais puxa pra trás, mais joga pra frente. Isso pra mim é muito importante, olhar para trás", conclui Marcelo.

O álbum Iboru, que sejam ouvidas nossas súplicas está disponível em todas as plataformas digitais de música desde o último dia 14. Por enquanto, o artista não tem previsão de show em Salvador.