SHOW EM SALVADOR
Laila Garin revive Elis Regina e desafia o Brasil do esquecimento
No ano em que Elis faria 80 anos, a cantora e atriz baiana traz a Salvador show intimista
Por Eugênio Afonso

Desde que ganhou quase todos os prêmios, e, por tabela, projeção nacional – com o musical sobre a vida de Elis Regina (1945-1982) – Elis, A Musical –, há 12 anos, a cantora e atriz baiana Laila Garin tem sido considerada uma das melhores intérpretes da obra da Pimentinha, tida por muitos como a maior cantora brasileira de todos os tempos.
Com a carreira atrelada à de Elis desde então, a baiana traz a Salvador o espetáculo Laila Garin canta Elis. As apresentações acontecem sexta-feira, 9, e sábado, 10, às 20h, e domingo, 11, às 18h, no Teatro Sesc Casa do Comércio.
Ao lado da pianista carioca Claudia Elizeu e da violoncelista, igualmente carioca, Thaís Ferreira, Garin montou um show feminino e intimista em que revisita clássicos da cantora gaúcha com o intuito de homenageá-la exatamente no ano em que a intérprete de Romaria completaria 80 anos.
A ideia do show, segundo Laila, é cantar e ouvir obras-primas de uma geração que revolucionou a música popular brasileira e que, por isso mesmo, tem formatado grande parte de nossa identidade.
“Reacender nossa memória, já que parte de nosso País tem memória curta e se tornou orgulhoso da própria ignorância. Reafirmar valores que estão se perdendo. E ter um momento de comunhão com meus conterrâneos, na cidade onde nasci e me formei”, pontua a cantora.
Para Thaís, o propósito de Laila Garin canta Elis é levar para as pessoas uma parte do repertório de Elis que todos conhecem, mas com uma formação diferente. “Uma versão quase acústica, mas os arranjos que a Claudia escreveu fazem com que você sinta o palco cheio”, comenta a violoncelista.
Esta é a primeira vez que a musicista vem à capital do dendê. “Eu não conheço Salvador e tô doida pra sentir a energia daí. Minha participação vai ser como sempre me proponho. Muito amor, muita vontade de tocar com Laila e Claudinha. Esse repertório me emociona, e em Salvador acredito que a energia vai ser incrível”, admite Thaís.
Com relação à carpintaria cênica, Laila avisa que o espetáculo é simples, foi criado na pandemia, não tem cenário nem figurino específico, mas que, no entanto, “as músicas se bastam, já que Elis foi uma pescadora de pérolas, em se tratando de repertório”.
E por falar em seleção musical, pérolas do cancioneiro da Baixinha, como Fascinação, Reza, Upa Neguinho, Dois pra Lá, Dois pra Cá, Arrastão, Como Nossos Pais, estarão presentes no espetáculo, para gáudio dos fãs.
Sem didatismo
Visto por mais de 380 mil pessoas, o espetáculo que projetou Laila é um divisor de águas em sua trajetória artística. “O musical marcou minha carreira, mudou minha vida e minha relação com o público”.
Depois disso, a atriz já participou de outros projetos, mas reconhece que Elis sempre retorna à sua vida. “Depois do musical, criei um show com minha antiga banda (Laila Garin e A Roda) com o repertório de Elis e revezava com os shows do álbum da banda. Agora, com o retorno do musical em 2023 e com os 80 anos de Elis, ela volta. Elis, para mim, é injeção de vida”.
Em Laila Garin canta Elis, a cantora optou por dar destaque a uma fatia musical da vida da Pimentinha. “A obra dela é tão vasta, apesar do pouco tempo de vida, que tínhamos que fazer um recorte. Mas não tem nenhum compromisso didático em contar uma parte da história. São músicas que nos tocam, que fazem sentido ainda hoje ou nos trazem alguma memória”.
Influenciada pela portentosa geração de Gil, Milton, Caetano e Moraes, a baiana diz que também ouve muito Egberto Gismonti e a cabo-verdiana Mayra Andrade. “Amo as trilhas de Antônio Pinto, Phillip Glass, amo Lenine e Chico César. Aliás, temos um disco juntos [O Canto de Macabéa ou a Hora da Estrela]”.
E mesmo depois de Elis ter partido para outra esfera há mais de 40 anos – num triste janeiro de 1982 –, Laila acredita que a nova geração que valoriza a MPB não só a conhece como gosta dela.
“Até hoje, vídeos viralizam com suas frases provocantes. Foi uma mulher à frente do seu tempo. E em tempos de extrema direita, fundamentalismo, individualismo, inteligência artificial, terceirização de tudo, do capitalismo comendo tudo, os valores que Elis evoca se tornam necessários”, finaliza a artista.
Laila Garin Canta Elis / 09, 10 e 11 de maio / sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h / Teatro Sesc Casa do Comércio / Plateia: Inteira: R$ 180, Meia: R$ 90 e Mezanino: Inteira: R$ 140, Meia: R$ 70
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