CULTURA
Leia a íntegra da entrevista com Derico e Sérgio Sciotti
Por Lucas Esteves
Leia a íntegra da entrevista com Derico e Sérgio Sciotti.
A Tarde On Line - É a quarta vez do Duo Sciotti em Salvador e na mesma casa de shows. Como foi a primeira vez?
Derico Sciotti - A primeira vez foi no lançamento do nosso primeiro disco, o "Duo Sciotti", que foi em 2002. A gente gravou ao vivo, saímos em turnê nacional e entramos em contato com a casa, pedimos o espaço e eles foram super atenciosos. Foi muito legal.
A Tarde On Line - Vocês disseram durante o show que há uma dificuldade muito grande de achar lugares para tocar musica instrumental em qualquer lugar do Brasil.
Derico - Não é porque eu sou famoso, porque eu estou na televisão, mas a dificuldade é muito grande. Porque as pessoas não têm esse costume de sair de casa para isso. A casa hoje estava cheia de pessoas a fim de ouvir. Então isso é muito bom. Vieram para curtir o som e saíram daqui felizes, compraram CDs e tudo. Isso é que é o principal.
A Tarde On Line - Como foi juntar o Duo, escolher o repertório e gravar os dois discos?
Sérgio Sciotti - A idéia, na verdade, foi uma conjuntura. A gente tinha o costume de tocar e eventos, feiras. A gente fez o repertório tocando, não foi uma coisa assim "vamos fazer essa música". São músicas que atingem as pessoas. Não é aquela coisa de músico tocar para músico, a gente já está num estágio diferente. A gente curte tocar pras pessoas independente de serem músicos ou não. Então elas acabam resgatando um pouco da própria história.
Derico - Uma menina chegou pra mim agora, comprou o CD e disse "Eu já chorei aqui, ja rí"... pô, é legal isso! Todo mundo se emociona rindo, mas também com as suas lembranças. Meu, isso é difícil pra c*, quem faz isso é Roberto Carlos!
A Tarde On Line - O repertório básico do Duo é de musicas pop nacionais e internacionais com roupagens instrumentais. Isso é uma forma de dizer às pessoas que o pop é uma música de qualidade, que todos podem ouvir sem medo de assumir que gostam?
Derico - Mas é óbvio! E outra coisa, se você rotula, dizendo que é uma música brega, de má-qualidade e coloca como coisa de segundo plano, você esquece que a melodia dela é belíssima. Então quando a gente resgata isso como música instrumental você ouve a melodia e pergunta "pô, que música é essa?". É uma forma de você ouvir com outros ouvidos. Uma música que já está batida na rádio, já foi tocada, regravada.
Sérgio - E a gente adapta mesmo. Supertramp, por exemplo, como é que vai adaptar isso? É uma banda inteira passada para piano e saxofone.
A Tarde On Line - Vocês já estão há 24 anos com a dupla ativa. Como começaram? O que aconteceu de 1982 até hoje?
Derico - Nós somos irmãos, crescemos juntos, estudamos juntos desde moleques. Moramos juntos até os meus 21 anos. Aí paramos um tempo. Ele [Sérgio] foi fazer as coisas dele, eu fui fazer as minhas coisas. E em 82 a gente voltou a trabalhar junto na noite acompanhando cantores. eu no contrabaixo e ele no piano, depois eu fiz Sax e flauta. E a gente começou a resgatar aquele repertório que a gente tinha, sempre voltado para o pop com um lado instrumental. Fizemos muitas feiras, muitas convenções, bares. A gente foi ralando muito até conseguir chegar a um produto e aí gravamos 20 anos depois. Foi todo esse tempo ralando até descobrir o que era legal.
A Tarde On Line - Qual foi a situação mais estranha pela qual vocês passaram nessa época?
Derico - Teve show que não foi ninguém, teve show que a gente é que não foi... (risos)
Sérgio - Na verdade, nessa noite em que não foi ninguém foram cinco pessoas. A gente fez o show assim mesmo, que jeito?
Derico - Mas é legal. A gente faz o show por respeito ao público e também acaba fazendo ensaio. Mas tem também coisas de acompanhar cantor em situações extremamente ingratas como você tocando e gente fazendo xixi no palco. Já chegamos até a tocar com instrumentos quebrados. Essa coisa de chegar para tocar e ter um instrumento qualquer que dão lá pra você usar.
Sérgio - Acompanhando um cantor da Jovem Guarda antigo eu fui tocar uma vez e não tinha piano. Era um circo. Então eles me deram uma escaleta, aquelas que você coloca na boca e sopra. O baterista montou a caixa (um dos tambores da bateria) no meio das pernas porque não tinha tripé e tocou do jeito que deu.
A Tarde On Line - Vocês tocam vários instrumentos e tocaram tudo do segundo disco do Duo. Quem começou isso? Os pais de vocês? É uma família totalmente dedicada à música?
Derico - O Sérgio toca teclado, bateria, canta. Eu toco sax, flauta, clarineta, contrabaixo, guitarra, violão, piano um pouquinho. A minha mãe é pianista, o meu tio é pianista. A família toda é de músicos. a gente começou com cinco anos de idade. A gente tinha um projeto de tocar todo mundo junto. O nosso outro irmão, o Guto, também toca. A gente tentou fazer um trabalho de composição junto com o meu pai, mas não foi pra frente. O nome do projeto era "entre parentes". É muita gente na família que toca. Tios, irmãos, primos. Nem dá pra contar quantos no total.
A Tarde On Line - Derico é mais conhecido como músico do sexteto do Jô. Como conseguiu entrar para o grupo?
Derico - Estou lá há 17 anos. Fui convidado. Era um quarteto e o Jô queria um saxofonista para transformar o grupo em quinteto e me chamaram. Fui lá gravar um programa que já ia ao ar logo imediatamente. Não houve teste. E o Jô curtiu, teve até dança. Tudo o que eu tinha direito.
A Tarde On Line - Como é passar pelas situações que o Jô proporciona para o sexteto, como se vestir de mulher ou servir de cobaia para as invenções dos convidados do programa? Vocês não têm nenhum problema?
Derico - O Jô faz uma onda de "usar" a gente nas situações. Ele aproveita a oportunidade de ter ali seis elementos, cada um com uma característica diferente, e todos à disposição, pra usar para as coisas dele. Então ele pensa uma coisa louca e fala "Eu tenho seis caras doidos que topam". Então vambora! E aí saem aqueles e-mails loucos, a gente travestido. E no meu site tem as fotos de tudo isso. E ele nunca colocou a gente em fria. Nunca brigamos nem nos irritamos com essas coisas que ele faz. E enquanto ele quiser, nós estamos ali.
A Tarde On Line - Como é a rotina de gravações? Quanto tempo leva para gravar todos os programas que vão ao ar durante a semana? Como conciliar tudo isso também com os shows da dupla, compromissos do sexteto e outros projetos pessoais?
Derico - Gravamos segunda, terça e quarta para a semana inteira, são dois programas por dia. E de quinta a domingo é o tempo que a gente tem para fazer as viagens com o meu irmão na divulgação do CD e também uma outra banda minha chamada "Derico e o Sindicato do Jazz", que também viaja. O sexteto faz pouca coisa, não é uma agenda muito cheia. O meu irmão tem a escola de música dele, que ele mesmo gerencia. Eu tenho uma produtora, um programa de rádio, tenho dois livros já editados e estou escrevendo o terceiro. E tenho um site na internet (www.derico.com.br) que eu também gerencio.
A Tarde On Line - E ainda dá aulas?
Derico - Não, aí eu tive de escolher uma coisa para encerrar, que foi dar aulas. Ensinei durante 25 anos da minha vida, dos 11 aos 36. Mas aí não dá, é muita sacanagem com o aluno porque eu não tenho tempo. E aí ficar remarcando, remarcando... Não é justo.
Sérgio - Ser músico no Brasil é uma coisa muito complicada. É muito difícil a música. Especialmente para mim, que sou um músico que vem na "rabeira" do Derico, que pelo menos já está na mídia. 50% do que nós somos hoje é por causa dele estar na mídia. Se não fosse ele aparecer no programa, ser músico do sexteto, a gente estaria até hoje tocando em churrascaria, em feira, igual como era há vinte anos.
Derico - Fazemos uma média de 80 shows por ano. Praticamente todos no fim-de-semana. A agenda do ano inteiro está praticamente marcada.
Sérgio - Tem muito cantor famoso que não tem essa quantidade de shows agendados. Isso nos dá essa sensação mesmo da importância que tem a mídia, de estar presente nela.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes