CULTURA
Lençóis ganha exposição do artista plástico Artur Soares
Por Eduarda Uzêda

O artista visual Artur Soares realiza exposição de gravuras na Soar Galeria de Arte, em Lençóis, distante cerca de 315 quilômetros de Salvador. O espaço, idealizado por ele e aberto de maneira presencial recentemente, abriga mais de 35 peças.
Entre elas, as que retratam personagens conhecidas, como Bule Bule, Riachão, Zumbi dos Palmares, Mateus Aleluia, Dedinho do Pandeiro, Nêgo Bispo, Guardião Guajajara e Gilberto Gil.
A mostra também exibe a obra Odu, feita em pedra com relevo policromado e pigmentos minerais, retratando um opô ifá, tabuleiro de adivinhações do candomblé. O trabalho foi produzido para a capa da Revista Odù: Contracolonialidade e Oralitura, coletânea que reúne mais de 30 autores, entre mestres e mestras do saber, lideranças indígenas, sacerdotes e artistas.
“A Galeria Soar é um espaço dedicado a ser referência em artes visuais na Chapada Diamantina e agora está recebendo minha segunda exposição individual”, afirma Soares, que foi professor do ateliê de gravura da Bahia no Museu de Arte Moderna, por três anos até o advento da pandemia, em março de 2020. Foi quando decidiu retornar de vez para Lençóis, onde moram seus pais e parentes.
O artista informa que na mostra o público também conhecerá a coleção de camisetas estampadas com gravuras figurativas de personalidades populares. A galeria funciona das 17h às 21 horas e segue todos os protocolos de segurança referente à higienização e ao controle do número de pessoas a fim de evitar aglomeração.
Artur, que vem se especializando em gravura desde que se formou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, em 2017, fala da sua preferência pela arte. “Gravar é salvar o essencial, lapidar a matéria até o estado de matriz por meio do gesto escultórico de entalhe. Abro os sulcos por onde a luz se fará presente após a impressão”, diz.
Gravura em pedra
Acrescenta que por meio desta arte ele reduz a matéria “até que ela revele seu máximo potencial plástico no contraste entre cheio e vazio”. Soares pontua que “a escolha da gravura de alto-relevo é uma consequência natural do legado que trago do meu pai Everaldo Soares, que me ensinou a entalhar sobre as pedras da região”.
E complementa: “Transporto para meu trabalho a inspiração cromática dos rios, e as texturas das pedras agregado ao conhecimento de anatomia que aprendi na Escola de Belas Artes”.
Ele, que desenvolve pesquisa de mestrado com inovações no universo do repertório gráfico, focando a arte da gravura em linóleo, madeira, metal e a ardósia da Chapada, informa: “Estou escrevendo uma dissertação sobre a origem de uma gravura em pedra 100% brasileira, nordestina e baiana: a itagravura (ita em referência ao radical tupi que quer dizer pedra).
No final do ano passado, Artur teve seu projeto Ilustres na Pedra, criado para retratar personagens relevantes da história e da cultura local, aprovado em edital da prefeitura de Lençóis. “Quero compartilhar com esta comunidade o que aprendi na academia”, destaca o jovem artista.
Com este pensamento, ele quer promover o diálogo entre as artes visuais, a poesia, a música, a dança e a performance, valorizando os artistas da região, que é rica em cultura, mas que é mais reconhecida pelo potencial turístico em virtude de suas belezas naturais.
Prêmios
Artur Soares, em 2015, foi ganhador do Prêmio Ibema de Gravura com a obra Virtudes do Tato e, em 2017, foi selecionado para a exposição 30 Anos do Museu Casa da Xilogravura, de Campos do Jordão (SP).
Em 2019, o artista foi um dos vencedores do Concurso de Artes Gráficas do Goethe Instituto de Porto Alegre, onde realizou exposição de gravuras retratando personagens abolicionistas, como Luiz Gama e Luiza Mahim, e da história recente, como Marielle Franco e mestre Moa do Katendê.
Ele conta que, além de nomes históricos e que se destacaram pelo trabalho realizado, como Marielle e Moa, ele quis também homenagear artistas que ainda estão vivos, como Nêgo Bispo, escritor e militante piauiense, de grande expressão no movimento social quilombola e nos movimentos de luta pela terra.
Bispo atualmente é membro da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (Cecoq-PI) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
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