ARTES PLÁSTICAS
MAB recebe exposição do mestre Carybé
Exposição eforça e consagra sua profunda identidade baiana
Por Eugênio Afonso
O pintor, gravador, desenhista, ilustrador e escultor Carybé (1911-1997) sempre foi baiano apesar de ter nascido na Argentina, afinal ser baiano é quase um estado de espírito que o artista plástico soube decifrar muito bem.
Naturalizado brasileiro, não à toa escolheu Salvador para morar e foi íntimo de Jorge Amado e Dorival Caymmi, dois ícones nacionais da mais suprema baianidade.
Então, para celebrar a passagem do artista argentino por estas plagas, o Museu de Arte da Bahia – MAB traz a exposição Carybé e o povo da Bahia. A abertura é hoje, às 19h, e o museu fica no Corredor da Vitória.
A mostra apresenta retratos que promovem a baianidade como identidade cultural e turística do Estado, mesmo diante das desigualdades e tensões sociais e raciais existentes por aqui desde Tomé de Souza.
Para o cineasta Pola Ribeiro, diretor do MAB, expor Carybé é quase uma redundância. “Seu trabalho está por toda a Bahia, mas, ao mesmo tempo, ele é tão grande que tem camadas e camadas que ainda não foram reveladas. Então, é um prazer muito grande entregar para o público o que ele vai encontrar no MAB. Eu diria que o público vai se reencontrar na exposição”.
Quem for ver Carybé e o povo da Bahia vai se deparar com cerca de 268 peças – todas do acervo do museu -, entre desenhos, pinturas, gravuras e esculturas que representam a identidade baiana através do olhar do mestre.
Dessas obras, 227 são desenhos – em nanquim sobre papel –, que compõem um panorama das práticas culturais e laborais das manifestações culturais do povo baiano e que fazem parte da Coleção Recôncavo.
“São desenhos feitos há mais de 70 anos que nunca foram expostos. Uma oportunidade para o público receber um dos artistas mais importantes da Bahia com uma leitura da alma baiana profunda. A ideia é oferecer às pessoas a força que tem o desenho de Carybé”, reforça Pola.
E atento à inevitável mudança de comportamento e comunicação que sempre surge com o avanço da civilização, Pola avisa que o momento agora é o de reimaginar o MAB. “Colocar de volta seu acervo em exposição com as novas narrativas contemporâneas. Ou seja, novos padrões para apresentar as mesmas peças”.
Amor e empatia
Mestre em diversas técnicas artísticas e conhecido pelo traço ágil e dinâmico, Carybé foi da turma da primeira geração modernista da Bahia. Ele tinha uma relação de amor e de profunda empatia e apreço pelos costumes e manifestações culturais do Estado.
Dilson Midlej, professor de História da Arte e membro da comissão curatorial do MAB, diz que o propósito da exposição é exibir o acervo de arte moderna do museu e a expressiva produção de desenhos de Carybé.
“A coleção, ao mesmo tempo em que é uma preciosa interpretação dos tipos sociais, dos costumes e da paisagem de Salvador, também exemplifica a valorização da linguagem do desenho. A exposição ainda coloca em prática o objetivo de diversificar as temáticas e formas de exibições do acervo do museu”, detalha Dilson.
Encomendadas pelo secretário estadual de Educação (1947-51) da época, o escritor e educador baiano Anísio Teixeira, as obras expostas retratam cenas do cotidiano de Salvador, além de manifestações culturais e religiosas, com o intuito de apresentar novas narrativas, ampliando discursos expográficos para incluir contextos históricos, sociais e culturais.
“Anísio Teixeira acolhe o pedido do escritor Rubem Braga, que solicita a concessão de bolsa de trabalho para assegurar a permanência de Carybé e sua família na Bahia”, informa Midlej.
“Atendendo ao pedido, inicialmente Anísio encomenda uma pintura mural para o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, e depois, os desenhos que ilustrarão as edições da Coleção Recôncavo (vistos nesta exposição), que tinham o claro objetivo de divulgação turística da Bahia com a finalidade de promover o desenvolvimento social”, arremata o curador.
Diálogo artístico
Dilson conta, ademais, que os trabalhos de Carybé dialogam com outras 24 obras do acervo do MAB, abrangendo os artistas Franco Velasco, João Francisco Lopes Rodrigues, Rodrigues Nunes, Alberto Valença, Diógenes Rebouças, Emídio Magalhães, Presciliano Silva, João Alves, Pierre Verger, Carlos Bastos e Emanoel Araújo, além de peças de arte popular em cerâmica.
Segundo a comissão curatorial, a proposta da mostra é também desconstruir a abordagem elitista que ignorava a contribuição de indígenas, escravizados e trabalhadores anônimos, trazendo reflexões sobre as origens e significados das peças expostas.
Foram também adicionados à mostra trabalhos de artistas de diferentes períodos – que integram o acervo do museu - para contextualizar melhor os assuntos abrangidos na exposição com o intuito de dinamizá-la.
Carybé e o povo da Bahia deverá permanecer aberta ao público por, no mínimo, seis meses. O MAB é um equipamento gerido pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), uma unidade da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBa).
Exposição Carybé e o povo da Bahia / Museu de Arte da Bahia (MAB) – Corredor da Vitória / Visitação: terça a domingo, das 10h às 18h / Gratuito
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