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ESCOLA DE SAMBA

Manto tupinambá leva ancestralidade para desfile

Povo tupinambá, do sul da Bahia, é um dos que primeiro tiveram contato com os colonizadores

Por Grazy Kaimbé*

01/03/2025 - 0:30 h
Imagem ilustrativa da imagem Manto tupinambá leva ancestralidade para desfile
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“A vontade do manto [tupinambá] vai prevalecer”. Este trecho do samba-enredo da Acadêmicos do Tucuruvi traz para o Carnaval paulista a força ancestral de um povo indígena, que conseguiu um feito histórico no Brasil: o retorno de uma peça levada por europeus no século 17 e exposta em museus estrangeiros há mais de 400 anos.

O povo tupinambá, do sul da Bahia, é um dos que primeiro tiveram contato com os colonizadores. A sua história de luta e resistência, simbolizada pelo manto, será retratada na madrugada deste domingo (2), no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo.

A cacica Jamopoty Tupinambá percorreu mais de um dia na estrada para participar da homenagem ao seu povo e ao manto, considerado uma entidade sagrada. Ela destacou o novo significado que a peça trouxe à luta por reivindicação de direitos, como a demarcação da terra indígena, entre os municípios de Ilhéus, Una e Buerarema.

Jamopoty reforçou ainda a história do processo de repatriação do manto, ainda no ano 2000, iniciado por sua mãe, Amotara Tupinambá. A matriarca chegou a ter o contato com a peça durante uma mostra cultural em São Paulo, intitulada Redescobrimento, que trouxe acervos de museus europeus.

“É um momento importante para nós, tupinambás”, disse Jamopoty. “Nós mostramos para o mundo que somos sobreviventes de vários massacres. Estamos aqui resistindo com toda a nossa força, e chega o manto para nos fortalecer mais ainda”.

“O governo tem uma dívida histórica e precisa pagar demarcando nosso território. Vamos para a avenida [do Sambódromo do Anhembi] com a força de Amotara e do manto sagrado. Todos os encantados e o nosso grande ancião [o manto] mostram a nossa luta”, acrescentou.

O vice-presidente da Tucuruvi e diretor de Carnaval, Rodrigo Delduque, afirma que a proposta do samba-enredo foi abraçada por todos da escola, que aceitou de forma unânime o tema: ‘Assojaba – A Busca pelo Manto’.

“É um tema hoje pertinente, que muitos não conheciam. Através do Carnaval, a gente busca unir a força com os nossos povos para que isso se torne uma força ainda maior e que os outros mantos tupinambás também possam voltar para o Brasil, de onde nunca deveriam ter saído”, frisou Delduque.

Célia Tupinambá, pesquisadora indígena e liderança do povo Tupinambá, também participou da elaboração do enredo. Ela estaca que houve um esforço da equipe para compreender a simbologia do manto e diferenciá-lo de outras figuras espirituais, como o pajé e a majé. "Eles quiseram entender bem esses elementos para garantir uma representação respeitosa", afirma.

Além disso, artistas indígenas ligados ao boi-bumbá foram convidados para colaborar na ornamentação dos carros alegóricos, e oficinas foram realizadas para ensinar a técnica da trama do manto.

A escola de samba

A Acadêmicos do Tucuruvi é uma escola de samba de São Paulo, fundada em 1976, no bairro do Tucuruvi, na zona norte da cidade. Desde sua fundação, a Tucuruvi já passou por diversas divisões do Carnaval, consolidando-se como uma das principais escolas do Grupo Especial paulista.

Seu primeiro grande destaque veio em 2011, com o enredo ‘O Xente, o Xique, o Xique-Xique. A Voz do Sertão Nordestino’, que exaltava a cultura do Nordeste. Nos últimos anos, a agremiação tem apostado em enredos com forte apelo cultural e social.

Além da Acadêmicos do Tucuruvi, outras escolas de samba de São Paulo levarão temas sobre a Bahia para o Carnaval de 2025. A Mancha Verde apresentará o enredo ‘Bahia, da Fé ao Profano’, inspirado na série documental de Gastão Netto, destacando o sincretismo religioso e a convivência entre o sagrado e o profano nas tradições baianas.

Já a Colorado do Brás homenageará o Afoxé Filhos de Gandhy, com o enredo ‘Afoxé Filhos de Gandhy no ritmo da fé’, exaltando a história do grupo fundado em 1948 por estivadores de Salvador e reconhecido como o maior afoxé do mundo. Essas escolas trarão para o Sambódromo do Anhembi a riqueza cultural, a religiosidade e a ancestralidade do povo baiano.

A volta do manto

O manto tupinambá retornou ao Brasil em 11 de julho de 2024, após quatro séculos na Europa. Sua chegada, realizada de forma sigilosa, causou desentendimentos com os indígenas, que esperavam uma recepção cerimonial.

A peça, levada por holandeses por volta de 1644, permaneceu no Museu Nacional da Dinamarca até ser devolvido. O processo de devolução foi articulado por instituições dos dois países, incluindo a Embaixada do Brasil na Dinamarca, o Museu Nacional e lideranças tupinambás da Serra do Padeiro e de Olivença, no sul da Bahia, a 450 km de Salvador. Em 10 de setembro, cerca de 200 indígenas marcharam até o Museu Nacional do Rio de Janeiro para um encontro histórico com a peça. Divididos em pequenos grupos, puderam vê-la em uma sala preparada especialmente para a ocasião.

Feito principalmente com penas de guarás, o manto será exposto ao público apenas em 2026. Até lá, o museu desenvolverá protocolos especiais para sessões exclusivas aos indígenas. Além do exemplar doado ao Brasil, através de uma carta feito pelo Cacique Babau, outros mantos tupinambás estão fora do Brasil, no Museu de História Natural da Universidade de Florença (Itália), no Museu das Culturas, em Basileia (Suíça), no Museu Real de Arte e História, em Bruxelas (Bélgica), no Museu du Quai Branly, em Paris (França), e na Biblioteca Ambrosiana, em Milão (Itália).

Desde a invasão portuguesa, artefatos indígenas foram levados para a Europa, onde passaram a integrar coleções europeias. Esse processo continuou ao longo dos séculos, resultando na dispersão de diversos itens culturais indígenas em museus estrangeiros.

Para garantir o acesso dos povos indígenas a esses bens, tanto em acervos nacionais quanto internacionais, foram estabelecidas diretrizes e protocolos específicos. A iniciativa é conduzida pelo Grupo de Trabalho (GT) de Restituição de Artefatos Indígenas, criado em 2023. "O manto vai ser cantado, entoado na avenida com todos os seus sonhos, com todos os seus desafios, e para continuar a existir. Espero que as pessoas curtam, se divirtam e ganhem essa dimensão do que é a busca pelo manto", finaliza Célia.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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