CULTURA
Mariene de Castro saúda as mulheres que ajudaram a criar e consolidar
‘Dona da Casa’ é a reafirmação da sua profissão de fé
Por Gláucia Campos*
Neste domingo (8), dia de Nossa Senhora da Conceição e Oxum, Mariene de Castro vai apresentar seu novo show, intitulado Dona da Casa, na Conha Acústica do Teatro Castro Alves, às 19h.
O espetáculo traz a proposta de homenagear a cultura popular, como as rodas de samba e, em especial, as sambadeiras, e conta com um repertório de sambas que se tornaram icônicos na voz da cantora.
A data escolhida para o evento carrega forte simbolismo: o dia de Nossa Senhora da Conceição, no calendário católico, e de Oxum, no Candomblé, religião praticada pela cantora. Essas figuras e o dia 8 de dezembro têm um significado importante na vida de Mariene: “Essa data na verdade foi um presente de Oxum. Liguei para Rose Lima, diretora do Teatro Castro Alves e ela me falou que tinha surgido essa data, algo muito inusitado pois não tinha mais pauta para esse ano. Mas como minha mãe Carmen fala: ‘ninguém segura as águas’. Aceitei de imediato o presente e aqui estou. Só tenho que agradecer”, diz a artista.
Segundo a artista, a inspiração para o show partiu de um desejo de celebrar não só o samba de roda, mas grandes nomes de mulheres que colaboraram para a consolidação e popularização do ritmo e influenciaram na formação da artista. O nome do espetáculo remete à força feminina que rege o cotidiano dessas mulheres, simbolizadas em figuras como Edith do Prato, Dona Dalva Damiana e Rita da Barquinha, a quem Mariene dedica grande parte do projeto.
“A Dona da Casa é a festa do matriarcado. Saúdo as mulheres ribeirinhas, sambadeiras, ganhadeiras, que labutam pelo sustento de sua casa e ainda assim colocam suas saias rodadas e sambam com o riso escancarado e aberto, com seu canto esganiçado de labor”, exorta. “Esse projeto reverencia as rodas de samba do recôncavo da Bahia. Sou filha e neta dessas mulheres. Dona Edith do Prato, que foi quem me ensinou a tocar prato. Dona Nicinha, Rita da Barquinha, Dona Dalva, Dona Cadu, Mestra Aurinda do Prato e tantas mulheres que abriram os caminhos para que eu chegasse até aqui”, explicou.
Um legado de cultura
O samba de roda do Recôncavo Baiano é considerado patrimônio cultural imaterial do Brasil, recebeu o título em 2004 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Catalogado no Livro de Registro das Formas de Expressão do Instituto, o samba de roda baiano é descrito como “uma expressão musical, coreográfica, poética e festiva das mais importantes e significativas da cultura brasileira”. Além de ser apontado como a raiz do samba carioca.
Em A Dona da Casa, Mariene traz a proposta de conectar o passado ao presente e reforça a importância de preservar o samba como patrimônio cultural. Esse objetivo foi o guia do processo de curadoria da cantora, que pretende dar voz às suas origens e raízes culturais. “Eu canto para acender nossa história, para manter viva a memória da cultura do nosso povo. Também para celebrar a resistência das mulheres que vieram antes de mim e para honrar a força de nossa ancestralidade afro-indígena. Faço isso porque sinto no meu coração que essa é minha missão”, disse.
Essa força, segundo a artista, está presente em cada detalhe do espetáculo. “Debaixo das saias rodadas das sambadeiras há sonhos e lutas. O giro da roda, o ritmo das palmas, tudo é sagrado. É isso que quero compartilhar com o público. Quero que as pessoas sintam a força da resistência feminina e se lembrem de que nossas histórias, nossos cantos e nossas lutas nos fizeram chegar até aqui”, acrescentou.
O público pode esperar uma noite repleta de emoção com sambas de roda e canções que marcaram a trajetória de Mariene. O espetáculo promete emocionar e ser um convite para celebrar a ancestralidade, a força feminina e a beleza do samba. “Escolhi músicas que representam minha história e a força da cultura popular. É uma forma de manter viva a memória e a história do nosso povo”, concluiu.
Sobre Mariene
A relação de Mariene de Castro com o palco começou cedo. Nascida em Salvador, a artista iniciou sua trajetória aos cinco anos, participando de espetáculos de dança no Teatro Castro Alves. Durante a adolescência, integrou o grupo Timbalada, de Carlinhos Brown, e realizou seu primeiro show solo em 1996, no Pelourinho.
O talento de Mariene foi moldado desde a infância por sua paixão pela dança e pelo ambiente musical de sua família. Aos 12 anos, descobriu seu timbre em aulas de música, o que marcou o início de sua jornada musical.
Ela consolidou sua presença nos principais palcos de Salvador, como a Concha Acústica do Teatro Castro Alves, apresentando trabalhos que destacavam suas raízes e influências musicais.
A baiana alcançou notoriedade nacional ao gravar seu primeiro álbum, Abre Caminho, em 2004, vencedor do Prêmio TIM de Música como melhor disco regional. Reconhecida por sua autenticidade, foi convidada por Beth Carvalho para participar do CD/DVD Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia (2006).
Em 2008, levou sua música para a Espanha e marcou presença em trilhas sonoras de filmes como Ó Paí, Ó. Com a voz singular e um estilo que mescla tradição e modernidade, Mariene firmou-se como uma das grandes intérpretes da música brasileira.
Lançou seu segundo álbum, Santo de Casa – Ao Vivo, em 2010, com lotação esgotada no Teatro Castro Alves.
A artista segue encantando o público com seu talento e aprofundando sua conexão com o samba e a cultura afro-brasileira, consolidando sua posição como uma das principais vozes do cenário musical contemporâneo.
Mariene de Castro: Dona da casa / Amanhã (08), 18h / Concha Acústica do Teatro Castro Alves / Ingressos entre R$ 80 e R$ 120 / Vendas: Sympla
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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