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LITERATURA

Marilene Robatto reúne memórias e fazeres artísticos em livro

Marilene Robatto é pedagoga, professora, artista visual e agora, aos 86 anos, escritora

Por Maria Raquel Brito*

20/11/2024 - 5:40 h
Marilene Robatto
Marilene Robatto -

Marilene Robatto coleciona ocupações: é pedagoga, artista plástica pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e professora de arte e educação artística. Agora, aos 86 anos – ou melhor, ‘68 espelhados’, como gosta de dizer –, mais uma entra para a lista, com o lançamento de seu primeiro livro Canto de Saber: Releituras.

Colecionando experiências em sala de aula desde que se formou como professora aos 17 anos, ela reuniu e ressignificou essas vivências nas páginas do livro. Esses aprendizados chegarão oficialmente ao público às 19h desta quinta-feira (21), quando será celebrado o lançamento de Canto de Saber, no Salão Rubi do Wish Hotel da Bahia.

Este era o item que faltava para que Marilene completasse a tríade cunhada pelo poeta e jornalista cubano José Martí de coisas que todo ser humano deve fazer durante a vida: ter um filho, plantar uma árvore e ler um livro. Ao longo de oito capítulos, a mais nova escritora reúne memórias de diferentes momentos da própria vida, da infância em Alagoinhas aos conhecimentos da vida adulta.

“A minha formação não é em Letras, não entendo nada de Letras, então o livro foi escrito, como se diz no jargão popular, com a cara e a coragem, me sentindo vidraça para receber as pedradas. Mas eu sou muito crítica e a minha criticidade começa comigo mesma. Então, eu peguei fragmentos de memória e comecei a escrever, sem aquela preocupação da linearidade. Tem momentos aos 2 anos de idade e, logo depois, aos 20, aos 40…”, conta.

A despreocupação com a cronologia linear tomou forma através da metodologia rizomática: Marilene fragmentou, organizou e reorganizou os acontecimentos de forma intencional, criando sua própria narrativa. Cada momento descrito contou com o mecanismo literário mais adequado. Ao descrever esse processo nas páginas iniciais de Canto de Saber, ela diz que “carnavalizou” sem medo a própria realidade, usando poemas, paráfrases e intertextualidades das mais diferentes formas.

Ressignificar e reencontrar

O processo de escrita de Canto de Saber começou há mais de dez anos. A ideia de escrever um livro era inebriante: “eu tenho a coragem necessária para fazer isso?” era o questionamento constante na mente de Marilene Robatto. Então, decidiu começar a escrever memórias num computador, pouco a pouco, mas deixou para lá. Ainda estava incerta.

Quem a ajudou a mudar de ideia foi a professora Lícia Beltrão, que pediu à escritora que lhe enviasse os escritos que mantinha nos arquivos empoeirados do computador. Se encantou com o teor do livro e as escolhas de composição feitas por Marilene, e logo começou a incentivar que ela continuasse escrevendo.

“Eu pude materializar o livro por conta de Lícia. Eu não acreditava, tinha poucos capítulos, não tinha achado ninguém douto que me desse segurança que eu não estaria publicando um lugar-comum. Não gosto de lugar-comum, eu sou artista, gosto da singularidade e do novo. Lícia Beltrão deve ser enaltecida como aquela que fez com que eu tirasse as letras das teclas enferrujadas de um computador jurássico”, conta.

Lícia, que costumava chamar o livro de “As astúcias de Marilene”, ficou com a responsabilidade de escrever o posfácio. Tomou o convite como uma honra de alto nível. “Ter sido uma das primeiras leitoras de seu livro já seria o suficiente para falar de privilégio, de distinção, da concessão feita a mim pela escritora... Isso, no entanto, se alargou e, escrevendo o posfácio, minha presença se mantém materializada, cunhada no livro, ampliando a dimensão desse privilégio, da distinção, da concessão que me foi feita por Marilene”, afirma a professora.

Com o apoio de Lícia, Marilene Robatto decidiu concluir a obra. A escrita feita em diferentes momentos evidencia o que a autora traz em um dos capítulos: só existe ressignificação a partir da experiência. Se apropria do “re” do filósofo Edgar Morin para reler e renovar fragmentos da memória anos ou décadas depois de vivenciá-los. E, com os aprendizados de hoje, surgem as novas reflexões e abordagens.

“Ao meu ver, a experiência é o somatório do cronos, que é o tempo, com o fazer, porque se você passar uma vida contemplativa, só tem a maturação. Aos 86 anos, eu me considero experiente. Me inspirei em Hegel: ‘a coruja de Minerva só abre as asas ao entardecer’. Eu sou a coruja, o crepúsculo vespertino já chegou e eu hei de abrir as asas para ressignificar o meu presente”, declara.

Multimodal

Interdisciplinar desde que se entende por professora, Marilene unia conceitos da pedagogia e de Belas Artes em sala de aula, e testava, em suas turmas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, as mesmas metodologias que utilizou dando aulas para o jardim de infância, como o cantinho do saber do título.

Essa mescla de conhecimentos não ficou de fora em sua estreia literária. Muito pelo contrário: composto pela fusão de diferentes linguagens, Canto de Saber: Releituras conta com textos em prosa, poemas e, no início de cada capítulo, ilustrações feitas pela própria autora. As cores vivas e traços fortes conversam e complementam as temáticas exploradas por ela nas páginas seguintes.

Esse aspecto foi reforçado por Beltrão. “[No posfácio], ofereci ao virtual leitor um espaço a mais de reflexão e informações, talvez adicionais. No caso, sublinhei mais um aspecto peculiar do livro: a sua multimodalidade, ou seja, ser composto pela combinação de diferentes linguagens – a verbal, escrita e oral, a imagética e a cromática, que juntas promovem a geração de sentidos que se ampliam”, diz.

No lançamento do livro, haverá uma exposição das nove ilustrações, que serão disponibilizadas aos leitores por meio de um QR Code, para que possam emoldurar, transformar em papel de parede do celular ou em quadros para decorar as paredes de casa.

A participação dela nas ilustrações foi um incentivo do filho, o designer gráfico Luciano Robatto, que faleceu em agosto deste ano. Luciano, que desenvolveu a capa do livro, vai receber uma merecida homenagem durante o lançamento, que contará também com música ao vivo e um recital interpretado pela atriz Tina Tude.

Desde que perdeu o filho, ela tem tentado seguir em frente ao dar outros sentidos à dor, sempre ressignificando. “Mesmo assim, diante disso, eu estou tentando não me resignar. Eu pego a resignação e vou ver sua etimologia. O “re” é fazer outra vez, o “signi” é dar sentido. A morte de meu filho está me ajudando a me resignar, ou seja, dar novo sentido a essa circunstância”, conta.

Lançamento do livro "Canto de Saber: Releituras" de Marilene Robatto / Amanhã, 19h / Salão Rubi, WISH Hotel da Bahia (Av. Sete de Setembro, 1537)

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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