CULTURA
Masp mostra Edgar Degas além do impressionismo e das bailarinas
Por JORNAL A TARDE
O mestre do impressionismo francês Edgar Degas (1834-1917) ficou conhecido como o pintor das bailarinas e das corridas de cavalo. Mas, muito além disso, Degas foi fundamental para a ponte artística criada entre o século 18 e 19 com seu obsessivo estudo do movimento. Com o intuito de ultrapassar tais estigmas, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) abre a partir da próxima quarta-feira a exposição "Degas: O Universo de um Artista", até 20 de agosto.
Um dos curadores é Romaric Sulger-Buel, ex-adido cultural da embaixada da França no Brasil, responsável por grandes mostras no próprio Masp (sobre Monet, Dalí e Pelé) e outras com a extinta BrasilConnects (Picasso, Paris 1900).
"As pessoas negaram ou ocultaram o lado pioneiro, teórico de Degas para privilegiar uma coisa que era óbvia. Ele se torna subitamente o pintor do óbvio, da beleza de um balé, das corridas de cavalo", disse o curador em entrevista à Reuters, na quinta-feira.
"É verdade que ele foi um grande pintor desses temas. Mas o que interessava não era o cavalo ou a bailarina, e sim a problemática do movimento", disse. "Degas costumava dizer que a única coisa que pode consolar a vida é justamente o movimento."
O curador cita um quadro que estará na exposição de uma corrida de cavalos no qual se pode ver no horizonte uma chaminé de fábrica, como exemplo de como sua atenção estava também voltada para as modernidades da época, escapando assim de sua formação acadêmica.
Há também um retrato da princesa Pauline de Metternich, feito a partir de uma fotografia. Degas, um apaixonado pela fotografia e ele mesmo um fotógrafo, foi o melhor artista a tirar proveito dessa novidade de época, trazendo para suas pinturas ângulos até então inimagináveis e um movimento quase fotográfico.
Como observa a consultora da exposição Ana Gonçalves Magalhães, especialista em Degas, as bailarinas expostas no Masp são vistas como se observadas das coxias, do fosso ou em um ensaio fechado. O mesmo acontece com as famosas banhistas, "retratadas como se ele as olhasse pelo buraco da fechadura", disse Ana.
"Degas tinha uma aproximação maior da poética realista do que a impressionista", disse a especialista. "Apesar de estar envolvido com as exposições de artistas impressionistas, ele não gostava de ser considerado um. Era uma coisa pejorativa dos críticos da época."
COLEÇÃO COMPLETA DE BRONZE
A exposição, que conta também com a curadora Eugênia Gorini Esmeraldo, apresentará 120 obras do artista, entre pinturas, desenhos e esculturas.
Há também o trabalho de pintores que influenciaram sua vida -- como Ingres e Corot -- ou que por ele sofreram influências -- como Picasso e Toulouse-Lautrec.
"Se você quer mostrar a humanidade, os problemas e as buscas do Degas, você tem que saber com quem ele trabalhou, contra quem ele lutou, quais foram seus entusiasmos e o que ajudou ele, como a fotografia", disse o curador Romaric.
Apesar de algumas obras emprestadas por grandes museus internacionais -- como Musée dOrsay (Paris), National Gallery (Londres) e Metropolitan Museum of Art (Nova York) --, o ponto forte da exposição são os trabalhos do acervo do próprio Masp.
O museu paulista é uma das quatro instituições do mundo que possui a coleção completa dos 73 bronzes de Degas, incluindo "Bailarina de 14 anos", única escultura exposta enquanto o artista ainda estava vivo. Todas as esculturas estarão expostas no Masp, espalhadas pelos três núcleos. O primeiro traz a relação do artista com a tradição clássica, enquanto a segunda são os retratos feitos por Degas e colegas. Na parte final, estão as consagradas pinturas das bailarinas, cavalos e banhistas.
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