CULTURA
Matheus Nachtergaele: das artes plásticas ao cinema
Por Bruno Porciuncula

Quando assistiu ao primeiro filme na vida, "Marcelino Pão e Vinho", Matheus Nachtergaele, com apenas 8 anos, se impressionou com o cinema. A história da criança que cresceu entre doze frades franciscanos o comoveu a tal ponto que o pequeno chorou por alguns dias. Mal sabia que, alguns anos mais tarde, seria ele emocionando outras crianças, e também adultos em filmes como "Central do Brasil", "O Auto da Compadecida" e, agora, em "Trinta", longa que estreia nesta quinta-feira, 27, nos cinemas baianos.
Trinta conta a história de Joãosinho Trinta, maranhense que saiu de sua cidade natal, São Luís, para tentar realizar o sonho de ser bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e acabou se tornando o carnavalesco mais conhecido do País. "Acho que foi um personagem desafiador. Fui de coração aberto, mas com medo, claro, porque ele é o pai do Carnaval carioca. Tinha uma responsabilidade", contou o ator, em entrevista por telefone.
Antes de assumir o papel, Nachtergaele não conhecia muito sobre a vida do carnavalesco, "apenas o que todo mundo sabe sobre ele". E a descoberta foi recompensadora. "Nordestino, homossexual, foi para o Rio naquela época tentar ser bailarino e acabou virando diretor de ópera. Ele foi do erudito para o popular e matou um leão por dia", afirmou, destacando que, por ser de teatro, sempre o admirou. Eles se encontraram apenas uma vez, antes das filmagens começar. O papo entre eles durou três horas.
O ator, que fez balé para o papel, chega a colocar Joãosinho no mesmo patamar de famosos diretores teatrais como o inglês Peter Brook e os brasileiros Antunes Filho e José Celso Martinez Corrêa e o "responsabiliza" por ter transformado a folia carioca em espetáculo. "O Carnaval entrou para a agenda das grandes manifestações de teatro do mundo", disse.
Ator na retomada
Ainda estudante de artes plásticas em São Paulo, no final da década de 80, Matheus começou a ter contato com artistas de diversas áreas, inclusive do cinema, já que a FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) tinha o curso sobre a sétima arte. Com a convivência, veio a vontade de fazer teatro e entrou para o curso do diretor Antunes Filho em 1989. Algum tempo depois, entrou para o grupo Teatro da Vertigem. "Quando fiz 'O Livro de Jó', fui convidado para fazer meu primeiro filme, 'O Que é Isso Companheiro?'. Aceitei e não parei mais. Nem procurei o cinema, ele que me chamou", brincou.
O lançamento do filme, em 1997, aconteceu quando o cinema nacional começava a voltar a receber a atenção devida do público brasileiro. O longa, inclusive, concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro - um ano depois, Central do Brasil, também com Nachtergaele, concorria na mesma categoria da premiação hollywoodiana. "Tive a honra de ser ator no momento em que o cinema brasileiro se refazia. Fui um espectador e um participante muito privilegiado. Não consigo separar minha trajetória com a da retomada", disse. Naturalmente, o cinema se tornou uma das grandes paixões de Matheus. "É onde eu tenho colocado mais energia na vida", reconheceu.
E os personagens são marcantes como João Grilo, em "O Auto da Compadecida"; Jeca Tatu, no filme sobre Mazaropi; Cabeção, em "Cidade de Deus", e agora Joãosinho Trinta. Todos têm coisas em comum: a simplicidade. "Eles são homens de tipo físico muito comum, mas que de pessoas comuns não têm nada. São bem complexos. Mas acho que é meu tipo que vai bem para pessoas brasileiras, não sei explicar", afirmou.
2015 com mais cinema
Com 31 filmes na carreira, Nachtergaele se prepara para lançar mais três longas em 2015: "Sangue Azul", "Big Jato" - baseado no livro de Xico Sá - e "Mãe Só Há Uma". Ele ainda é contratado da Rede Globo, mas ainda não tem nenhuma novela ou minissérie em vista.
Os trabalhos como ator acabam deixando de lado a faceta diretor de Matheus. Tendo escrito e dirigido apenas um filme, o elogiado "A Festa da Menina Morta" (2008) Nachtergaele está escrevendo mais um trabalho, mas com calma. "Gostei muito de dirigir, mas sou um ator com muita atividade. Gosto também de fazer tudo com bastante calma", disse.
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