TECNOLOGIA E MEMÓRIA
Mercado Modelo será a grande tela para a 5ª edição do festival ‘SSA Mapping’
Evento terá mostras visuais, intervenções e shows musicais acompanhados por VJs
Por Elis Freire*
VJ ou video jockey é o nome pelo qual é chamado o artista que projeta imagens combinadas, modificadas e sequenciadas em uma tela ou espaço. Neste sábado e domingo, dias 12 e 13, o Mercado Modelo, no Comércio, será a tela para apresentações dessa arte que une tecnologia, arquitetura e memória, conhecida como videomapping. Entre amanhã e sexta-feira, o festival oferece uma série de palestras, oficinas e debates.
Na sua 5º edição, o festival, maior do gênero do Nordeste, trará diversas mostras de obras visuais, intervenções em shows das bandas do Igbadu, Aguidavi do Jêje e de Lazzo Matumbi, além de instalações artísticas. Gratuito, o SSA Mapping também ocupa a praça do entorno do Mercado Modelo com feiras e atividades voltadas para as crianças.
“Nascido no universo especializado de arte e tecnologia, o SSA Mapping propõe tornar essa linguagem mais acessível ao grande público, sempre com uma programação inteiramente gratuita. Para isso, apostamos na ocupação criativa de espaços públicos. A cada edição, ocupamos um local diferente da cidade, conectando-nos assim com diferentes territórios e públicos, e apostando na arte como uma ferramenta de valorização do nosso patrimônio, memória e cultura local”, explica Lívia Cunha, diretora criativa e uma das realizadoras do SSA Mapping.
Curadoria mágica
Na mostra principal que acontece ao longo dos dois dias de festival, VJs da Bahia e do mundo vão colocar em diálogo suas artes visuais com a arquitetura do histórico espaço de Salvador, sempre em duplas.
Com curadoria do VJ Spetto, estão entre as duplas formadas o paulista VJ Bang com o baiano VJ Bug (BA), o Coletivo Coletores, formado por Toni Baptiste e Flávio Camargo, ambos artistas de São Paulo com o paraense VJ Indução e artista visual e grafiteira paulista Fixxa Brasil com o soteropolitano VJ Gabiru. “As duplas convidadas são sempre complementares. Às vezes seus discursos são parecidos, às vezes são contraditórios – e aí que reside a boa surpresa! É justamente essa combinação que traz resultados riquíssimos. Eu procuro sempre misturar artistas de locais distintos e esse caldo resultante mostra a riqueza de linguagens gráficas e percepções narrativas que temos dentro de nosso país”, conta o curador da mostra, VJ Spetto.
“Será uma grande experiência mágica. Esse é o poder da projeção, essa é a linguagem do VJ”, afirma.
Sinestesia
A ideia é unir imagens, símbolos e sensações em um momento de sinestesia coletiva. Nesta edição do festival, que chega ao seu quinto ano, uma performance de música-imagem abrirá e fechará cada dia de videomapping.
No sábado, as performances serão de Igbadu – Orquestra de Berimbaus de Mulheres, grupo baiano que reúne mulheres capoeiristas e percussionistas, com as baianas VJs Vic Zacconi e Maribê, e da banda Aguidavi do Jêje com o grupo de de VJs Yow!. No domingo, será a vez do cantor Lazzo Matumbi com a VJ Kelly Pires.
Indicada ao Grammy Latino 2024 na categoria de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa com o seu disco, a banda Aguidavi do Jêje vai levar o seu som afro percussivo ao SSA Mapping. Fundado pela união de músicos e ogãs do terreiro de candomblé Bogum ela traz arranjos sonoros contemporâneos para cantigas e canções populares.
“Aguidavi do Jêje vai mostrar o que ele sabe fazer de melhor: a música original, o canto original e a levada de violão original. Vamos botar o povo para dançar, representando todas as religiões de matriz africana e a nossa cultura”, ressalta o músico e fundador do grupo, Luizinho do Jêje.
Acompanhados por obras visuais comandadas por VJ Gabiru e a artista visual Lee Quick, do Duo Yow!, as relações de sentido estarão em movimento nas vigas e marquises do Mercado Modelo. Em evidência, a origem africana das manifestações sônicas e culturais da banda.
“Nós estamos fazendo um diálogo pensando na simbologia que o Aguidavi traz. Eles vêm do terreiro do Bogum, então as visualidades são desse universo de simbologias que estão ligadas ao culto dos voduns”, conta o VJ Gabiru.
O fundador do Aguidavi do Jêje celebra essa possibilidade de enxergar a musicalidade do seu grupo em imagens, principalmente em um local como o Mercado Modelo.
“É uma emoção muito grande, porque é um lugar tão respeitado, tão antigo e com uma história tão importante na Cidade Baixa. Então vai ser um momento de muita alegria estar naquele lugar encantado e histórico. E essa intervenção visual vai ser uma coisa interessante, ter a imagem junto vai ser espetacular”, comenta Luizinho.
Memória de um espaço
O Mercado Modelo é um local que carrega uma memória histórica marcante para a cidade de Salvador, onde desembarcaram pessoas escravizadas, e que hoje funciona como um ponto de troca cultural, de forma que os artistas vão trabalhar em torno dessas relações. Realizado durante o Dia das Crianças, este também será um tema guia.
“Considerando a edificação escolhida este ano, preparamos ainda uma série de homenagens voltadas para culturas e personagens que dialogam com o Mercado, fazendo tributo a movimentos de resistência e figuras marcantes do imaginário coletivo do Centro Histórico e Comércio, como Bule-Bule, Cuíca de Santo Amaro, Jayme Fygura e Articulação do Centro Antigo", explica a curadora e realizadora Lívia Cunha.
Com um trabalho que vai neste caminho de refletir sobre o espaço de projeção, o VJ Gabiru também estará presente com a obra visual Capital. Participante de todas as edições do SSA Mapping, o VJ e artista visual propõe pensar como o capital movimenta a capital da Bahia, Salvador.
“Capital é um diálogo entre arte urbana e o videomapping que trata da nossa capital e do capital. É uma abordagem sobre essas questões e uma viagem visual sobre alguns aspectos da formação da nossa cidade. Esse processo de poder mapear uma estrutura arquitetônica para fazer a essas intervenções urbanas é muito interessante e o Mercado Modelo está presente com a história desse lugar sobretudo, porque o mapping une tecnologia e memória”, explica Gabiru.
VJ Spetto também brinca com essa relação em intervenção que acontece nos dois dias de festival no Monumento Mário Cravo, em frente ao Elevador Lacerda. O fogo que já consumiu quatro vezes a região do Mercado Modelo é o mote.
“O Monumento tem uma história de resistência. Já foi consumido pelo fogo e voltou. Aliás, o fogo é a tônica daquele local do Mercado Modelo. O simbolismo por trás dele ser refeito nos indica que a arte renasce, resiste e protesta, mesmo sob condições adversas ou destruidoras. A arte é forte. Ela é como a fênix, o pássaro mitológico que renasce das cinzas, cada vez numa versão mais forte”, explica Speto.
Ao longo das suas edições, o festival SSA Mapping já ocupou a Praça Municipal, projetando imagens sobre o Palácio Rio Branco, o Campo da Pólvora e o Fórum Ruy Barbosa, o Arquivo Público da Bahia e a Igreja do Bonfim. Nestas quatro edições, mais de 500 artistas visuais se apresentaram para mais de 30 mil pessoas.
Idealizado e produzido pela Baluart Produtora e Agência Ilimitado, o festival SSA Mapping tem patrocínio do Nubank, com realização através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura e Governo Federal.
5º SSA Mapping / A partir de amanhã até domingo (13) / Mercado Modelo, Praça Maria Felipa, Casa das Histórias de Salvador / Gratuito / Mais informações: ssamapping.com.br
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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