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CULTURA

Mês da Consciência Negra do Teatro Vila Velha segue até dezembro

Programação especial vai até o próximo dia 8

Por Maria Raquel Brito*

27/11/2024 - 5:00 h
Olinda Beja
Olinda Beja -

Ao longo de novembro, o Teatro Vila Velha celebrou a Consciência Negra com uma programação rica e internacional, combinando as raízes de artistas do Brasil, Colômbia, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Mas as atividades do Vila em homenagem à cultura negra não ficarão só neste mês: se estendem até dezembro, e ainda tem muita coisa pela frente.

Os eventos, espetáculos e atividades formativas integram o Vila Ocupa o MAB (Museu de Arte da Bahia), programa que leva a programação do Vila para espaços culturais por toda a cidade. Com o teatro passando por uma reforma, os encontros do Novembro Negro do Vila se dividem entre o MAB e o MAM (Museu de Arte Moderna da Bahia).

A programação especial vai até o próximo dia 8, entre espetáculos, debates e shows. Até o dia 29, acontece a residência "Memórias Afrodiaspóricas do Sul Global", no MAM, das 10h às 13h, orientada pelo coreógrafo colombiano Rafael Palácios. As inscrições são gratuitas, via formulário on-line na bio do Instagram @teatrovilavelha.

Na residência, parceria inédita do Vila com o Centro de Danza y Coreografía del Valle del Cauca La Licorera, Palácios promove a força da dança e da música como manifestações da afrodiáspora e de resistência, num processo de “descolonização do corpo” através de técnicas afro-colombianas e afro-brasileiras. O coreógrafo defende que a dança é uma das principais forças que os negros de todo o mundo têm conseguido preservar e desenvolver. “A dança é um saber ancestral, uma disciplina que nos permitiu resgatar a humanidade negada em tempos de escravatura, promovendo o tecido comunitário, estratégias de rebelião e lutas identitárias. A dança negra emerge de contextos sociais para celebrar as lutas de resistência contra as opressões políticas, o colonialismo e o racismo estrutural que ainda nos assombra. É por isso que é essencial não permitir que as nossas manifestações culturais sejam despojadas de sentido pelo consumismo e pelo capitalismo racista e patriarcal”, diz.

A mostra da residência será no próximo sábado (30), às 16h, também no MAM. Segundo Palácios, o laboratório permitirá que o público reflita e partilhe o caminho que tem traçado, individual e coletivamente. “Será um encontro humano, capaz de criar novas narrativas de fraternidade, para que as vozes negras do Sul global sejam ouvidas através de movimentos sociais de origem afro que se encarnam e se convertem em dança”.

Resistência e identidade

Também no dia 29, acontece a estreia do espetáculo Esse Caminho Longe, no MAB. Com textos da escritora santomense Olinda Beja e da dramaturga portuguesa Lígia Soares e direção de Marcio Meirelles e Graeme Pulleyn, o espetáculo conta a história de uma mulher que foi afastada da sua terra natal quando criança e sua luta para regressar e reencontrar aquilo que perdeu, sua identidade, a essência do seu ser.

Música ao vivo e vídeos se juntam às três personagens em cena, duas mulheres negras e uma branca, para conduzir o público a uma história de sofrimento, empatia e recomeço. “Tanto eu quanto o Graeme usamos essa polifonia, essas várias linguagens em nossos espetáculos, então foi natural colocar. Usar o vídeo, por exemplo, não como efeito, mas como parte da narrativa. Tem textos que são falados pela própria Olinda ou por pessoas que participaram do pós-independência em São Tomé, contando a história de luta. Muitos vídeos contam histórias, outros são imagens, outros são cenários… É como se fossem vários instrumentos tocando uma harmonia”, conta Márcio Meirelles, dramaturgo, gestor cultural e diretor artístico do Vila Velha.

Esse Caminho Longe segue em cartaz até o próximo dia 8, às 19h às sextas-feiras e sábados e 17h aos domingos. Os ingressos custam entre R$ 20 e R$ 40, e podem ser adquiridos através do Sympla ou na bilheteria do museu. A montagem surgiu do encontro de Pulleyn, dramaturgo luso-britânico, pelo recital em que Olinda Beja conta essa história, que tem como base sua própria vida. Perguntou se ela teria interesse em ter sua obra transformada num espetáculo e logo começou a trabalhar, convidando Marcio e Lígia Soares para embarcarem na adaptação. O resultado estreou em novembro do ano passado, em Portugal.

Celebrando Olinda Beja

Nascida na cidade de Guadalupe, cidade de São Tomé e Príncipe, Olinda Beja foi levada ainda menina para Portugal. Lá, iniciou seus estudos e se empenhou em defender suas raízes. Hoje, tem poemas e contos traduzidos para espanhol, francês, inglês, mandarim, árabe e esperanto, e seus textos são trabalhados em universidades mundo afora.

Beja vê com serenidade e alegria a peça nascida de seus versos. Citando Carlos Drummond de Andrade, conta que a sensação é de chegar ao fim de um caminho cheio de pedras. “E foram muitas as pedras que fui encontrando, empurrando umas, saltando outras, sem imaginar nunca que um dia alguém veria meus poemas, minha história de negritude ou meu percurso de vida entre dois mundos de um modo tão diferente e tão belo que resolveu pô-lo em cena. Para esses dois grandes senhores Márcio Meirelles e Graeme Pulleyn, a minha eterna gratidão. Mas, acabando sempre com Drummond, ‘nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra’”, diz.

E o espetáculo não será a última vez sua obra será celebrada no Novembro Negro do Vila. No dia 2, às 19h, a escritora participa do FalaVila, projeto de debates culturais. Na próxima edição, ela se junta à pesquisadora e professora universitária baiana Vanda Machado e à professora e poeta carioca Leda Maria Martins no MAM, para falar sobre identidade, ancestralidade e poesia e refletir sobre os desafios enfrentados pelas mulheres negras na literatura.

No dia seguinte, tem mais: às 19h, também no MAM, a poetisa apresentará um recital ao lado do músico Filipe Santo, também santomense. Segundo Olinda Beja, apresentar o próprio país através da arte na cidade mais negra fora do continente africano alegra seu coração. “Há, nesta viagem à Bahia, uma felicidade imensa em meu peito, pois [considero] o Brasil meu país-irmão, não só por aqui ter aportado a primeira vez em 2005, mas analisando e conhecendo toda a trajetória histórica feita por meus ancestrais vindos das grandes plantações de cana de açúcar com os seus senhores de engenho, ficou desde então entrecruzado nosso negro destino. Somos irmãos. Comungamos da mesma ancestralidade”, declara.

Com menos de 232 mil habitantes, São Tomé e Príncipe é o segundo Estado menos populoso do continente africano. A dimensão não tira a grandeza de seu povo, cuja história e opressão foram apagadas dos livros por muito tempo. É por isso que Olinda Beja se empenha em levar seu linguajar, roupas e costumes por onde for. “Nosso país é diminuto, mas Sêneca disse: ‘ninguém ama a sua pátria porque ela é grande, mas porque é sua’. E isso é maravilhoso”, diz.

A autora acredita que, através da música e da poesia, as palavras que se transmitem aos ouvintes chegam mais rápido e de forma mais suave ao coração. “Todos sabemos que quando se fala em recital de poesia, regra geral as pessoas não se interessam por esse evento. Há trinta e dois anos que faço recitais sempre com acompanhamento musical, ou seja, faço a união de duas artes mesclando muitas vezes a arte de contar histórias”.

Música de raízes negras

Um encontro musical entre Brasil, São Tomé e Príncipe e Portugal fecha a programação musical no MAM no dia 4 de dezembro, às 19h. O evento gratuito reunirá nomes como os baianos João Milet Meirelles, Ícaro Sá e Ramon Gonçalves, o português Gonçalo Alegre e os santomenses Vanessa Faray e Filipe Santo.

João Milet Meirelles passeia pelas artes em seu trabalho, unindo música e fotografia. Segundo ele, seu vínculo com as artes visuais e com as artes cênicas é base para a formação musical, e tudo isso estará presente no palco do dia 4.

“A arte é a possibilidade de nós, enquanto gente, darmos conta do mundo à nossa volta. A percepção da arte antecipa muitas vezes o que nós enquanto sociedade estamos elaborando em relação às transformações que passamos. Isso é fundamental. A arte é uma lanterna para onde estamos indo”, declara.

Ele conta que a expectativa para reuniões como essa é sempre uma troca de aprendizados, cultura e referências com os músicos de outros pontos do mapa. Ele antecipa que o público pode esperar uma mistura boa desse encontro: beats e texturas eletrônicas interagindo com guitarra, baixo e voz, cada um de um canto.

Em reforma e ocupando

Em reforma desde setembro deste ano, o Teatro Vila Velha continua ativo como sempre através do Vila Ocupa a Cidade, que engloba projetos como o Vila Ocupa o MAB. Não é a primeira vez que a programação do Vila toma conta de Salvador.

“Antes do prédio existir, o grupo dos Novos ocupou a cidade também, porque não tinha um teatro para ocupar. Então, eles iam para igrejas, escolas, miniteatros. Faziam arte nos espaços que tinham disponíveis. E aí veio essa ideia de continuar ocupando essa cidade, a partir do MAB”, conta Márcio Meirelles. “A gente atua porque precisa fazer nossos discursos e acredita que o público precisa ver o que estamos fazendo”.

E sempre foi assim. Entre 1995 e 1998, última grande reforma do Vila Velha, também teve ocupação, mas foi no próprio prédio, já que as obras aconteceram em duas etapas: enquanto reformavam um lado, os artistas ocupavam o outro. A necessidade de continuar levando a arte em suas mais diferentes formas para o público é uma demonstração do caráter rebelde que o teatro carrega há 60 anos, marco que atingiu no fim de julho deste ano.

Afinal, o Vila Velha nasceu quatro meses depois do golpe militar de 1964, através da escola de samba Juventude do Garcia, como uma forma de exercer a liberdade e a rebeldia dos artistas. A história viva do teatro sexagenário é destrinchada com maestria na mostra Vila Velha, por Exemplo: 60 Anos de um Teatro do Brasil, que segue no MAM até o próximo dia 8.

“O Vila Velha talvez seja um dos teatros mais públicos, com mais projetos e programas de acolhimento. O Vila é um campo de pouso e decolagem. Esse espírito é mantido por várias gerações”, defende Meirelles.

A reforma, anunciada há dois meses, tem como objetivo ampliar a acessibilidade do teatro, por meio de mudanças como elevadores, rampas e camarins acessíveis. Também passará a ter três salas preparadas para espetáculos: a sala João Augusto, utilizada principalmente para ensaios, voltará mais equipada para receber peças.

A previsão é que o público conheça as novidades em setembro de 2025. Até lá, o Vila continua a todo vapor, ocupando outros cantos da cidade.

Novembro Negro do Vila / Diversas atrações e atividades até 08 de dezembro / Museu de Arte da Bahia (MAB) e Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) / Programação: www.teatrovilavelha.com.br

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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