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CULTURA

‘Môa - Raiz Afro Mãe’ celebra vida do mestre capoeirista morto em 2018

Pré-estreia do filme de Gustavo McNair acontece nesta quarta-feira, no CineMAM

Por João Paulo Barreto | Especial A TARDE

01/08/2023 - 5:00 h
Iniciado com Môa ainda vivo, o documentário traz seus ensinamentos
Iniciado com Môa ainda vivo, o documentário traz seus ensinamentos -

Ao iniciarmos um mergulho na história do mestre Môa do Katendê pela lente do documentarista Gustavo McNair e através dos depoimentos do próprio Môa e das pessoas que o conheceram e aprenderam com ele, é perceptível o fato de que o filme Môa - Raiz Afro Mãe não nos faz pensar sobre sua trágica morte em outubro de 2018. Não há, aqui, uma utilização mórbida de tal fato como uma porta de entrada para a audiência conhecer aquela rica história.

Uma vez que a produção foi iniciada com o artista ainda vivo e participando ativamente do projeto, o filme acaba servindo como um revisitar de sua estrada artística e cultural definindo em sua montagem repleta de intervenções musicais e performances a ilustrar as entrevistas (dentre elas, do próprio Môa), uma escolha de fazer valer a presença perene do mestre.

Em entrevista ao jornal A TARDE, o diretor Gustavo McNair aborda essa ideia consciente de manter seu filme não como algo sobre um pesar, mas, sim, uma celebração. “O filme não poderia nem começar pela morte, como algumas pessoas queriam, porque, para muitos, é o fato mais conhecido da trajetória do Môa, e muito menos terminar com a morte dele, porque a história dele não termina ali”, diz.

Assim, Raiz Afro Mãe opta por deixar sua narrativa contar a vida de Môa pelas próprias palavras dele em vida, e pelas das pessoas que o conheceram, mas sem trazer seu foco para o pesar. Claro que em certos momentos a emoção se faz presente nos depoimentos e lembramos do fato trágico de seu assassinato. Mas , logo em seguida, o próprio Môa surge em cena, falando para a câmera, fazendo sua presença e seus ensinamentos ainda mais evidentes. "A intenção também é fazer as pessoas saírem do filme querendo saber mais, instigadas e interessadas. Tínhamos duas missões. Uma didática, de ensinar quem não sabia o que são esses assuntos, e uma outra de quem já sabia, de acalentar um pouco, e meio que lembrar que o Môa está presente em vários lugares", explica Gustavo, que montou o filme com Danilo Trombela.

Afoxé Badauê

Nascido em 1954, em Salvador, e residente durante muitos anos do bairro do Engenho Velho de Brotas, Romualdo Rosário da Costa, Môa, teve sua vida permeada pelo pela dedicação a diversos símbolos da cultura de nosso estado, sendo eles a capoeira, a dança afro, a música e o afoxé. Fundador do Badauê, um dos afoxés mais conhecidos do carnaval da Bahia, foi durante a segunda metade da década de 1970 que Môa popularizou o nome do bloco afro.

Antes da fundação, Badauê já era o nome de uma canção composta por ele para o Ilê Aiyê. Como afoxé no carnaval, o Badauê inovou ao misturar o ijexá com ritmos como afrobeat, reggae e ritmos caribenhos. Além disso, mesmo sendo um afoxé representante de uma cultura africana, permitia que toda variedade de etnias e gêneros desfilasse. Sua criação, no Engenho Velho de Brotas, se tornou um símbolo cultural e social do bairro e, também, de Salvador.

Em Raiz Afro Mãe, Gustavo McNair capta, tanto através dos depoimentos de nomes importantes ligados a Môa, como Alberto Pitta, Mestre Plínio, Didi Badauê, Mestre Valdec, Lazzo Matumbi, Gilberto Gil, Letieres Leite, quanto em imagens da região do Tororó e do Engenho Velho de Brotas, um sentimento que se torna latente à sua audiência, algo que também é fortalecido pelas performances musicais.

Trata-se de uma sensação de pertencimento a uma Cultura que é nossa, brasileira, e que define muito da luta de Môa dentro da sua arte. "Salvador é um personagem do filme. Não tem como não ser. Foi o cenário do crescimento do Môa. É o cenário no qual essas culturas estão convivendo", define o diretor.

“O Môa era um cara conflituoso. Ele tinha um conflito de pertencer a Salvador ao mesmo tempo que ele sai da cidade em um momento que ninguém sabe muito bem o porquê. Esse é um dos mistérios. Mas ele acaba saindo de Salvador, mas levando Salvador com ele para todo lugar”, pontua o realizador.

Política pela arte

Môa do Katendê viveu e trabalhou levando seu conhecimento cultural a locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, bem como na Europa. Deixou seguidores de seus ensinamentos na capoeira e no afoxé em todos esses lugares. Mas costumava voltar para seu lugar de origem, o Engenho Velho. Na comunidade do Dique Pequeno, pretendia construir um espaço voltado para transmitir seus ensinamentos na capoeira e na música. Antes de concretizar tais planos, voltou uma última vez a Salvador. Infelizmente, foi assassinado no dia seguinte ao primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, após uma discussão em um bar na qual topou com um ignorante apoiador da extrema-direita.

“A arte é argumento de manutenção de sociedade, para a gente se manter são no mundo. Então, o Môa nos deu muito argumento. Deu muita arma para lutar. Ele morreu fazendo o que ele fazia sempre, que era lutando e defendendo aquilo que ele acreditava e o que ele achava que o Brasil precisava, o que aquela comunidade precisava e o que Salvador precisava", afirma Gustavo.

A morte do artista traz uma reflexão sobre o que é esse Brasil da ignorância, cuja divergência de ideias pode levar ao brutal, à violência e à morte. O filme Môa- Raiz Afro Mãe, que também batiza o disco póstumo do músico, celebra a sua vida para além desse trágico. Nos faz pensar na união que essa cultura pode promover, algo para além de divergência e opiniões políticas.

“A gente tem que encontrar novas formas de falar de política. Acho que até pela recusa que algumas pessoas têm até de pensar no tema, pessoas que estão do outro lado e que não gostam de cultura, os preconceituosos, já têm uma relutância mesmo, em ouvir. E eu acho que é nosso papel como documentarista, como jornalista, encontrar outras formas de falar sobre política que toquem as pessoas de outras formas. E que isso permita chegar em pessoas que talvez não deixassem isso chegar se isso viesse em um discurso envernizado de política, mesmo. Môa era uma figura política, mas só que ele não era um ativista em si. Ele fazia política pela arte, pela educação", destaca Gustavo.

A partir da consciente escolha de não usar o assassinato de Môa como um ponto de pesar constante de sua narrativa, Raiz Afro Mãe constrói com muita sensibilidade a figura de seu personagem central e cria uma homenagem bem de acordo com a vivência daquele homem e sua continuidade através de seus ensinamentos. “Tivemos muita delicadeza da forma que tratamos da morte dele para não parecer que isso era o fim. Para não explorar isso e para mostrar que não estamos falando da morte, mas, sim, da vida dele. E que a vida dele ainda tem muito respiro, muito gás”, afirma o diretor.

“A presença do Môa está lá, no filme, viva. Os ensinamentos do que ele fala são eternos. Nunca vão morrer. Ninguém nunca vai matar”, conclui.

Sim. Môa vive.

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