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CULTURA

Mostra ‘Ecos Indígenas’ segue com obras que desafiam estereótipos e limitações

Até o dia 30, o Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC-BA) oferece a exposição

Por Grazy Kaimbé*

27/04/2025 - 7:00 h
Curadoria é de Mateus Estrela e Nadja Miranda
Curadoria é de Mateus Estrela e Nadja Miranda -

Da pintura corporal à fotografia, da moda à música, os povos indígenas têm transformado a arte em ferramenta de memória, resistência e afirmação. Seus grafismos, traçados no corpo e na cultura, narram histórias silenciadas e denunciam séculos de apagamento. Hoje, essas expressões se renovam em novas linguagens, reafirmando identidades e ampliando vozes que sempre estiveram presentes – mas que, por muito tempo, foram invisibilizadas.

Até o dia 30, o Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC-BA) oferece a exposição Ecos Indígenas com obras de nove artistas originários do Nordeste. Os artistas participantes são Elis Tuxá, Jorrani Pataxó, Kelner Atikum Pankará, Mamirawá, Raiz Lima, Renata Tupinambá, Thiago Tupinambá e Célia Tupinambá.

A curadoria é de Mateus Estrela e Nadja Miranda, que propuseram, desde o início, uma ruptura com lógicas excludentes. O objetivo foi descolonizar os critérios curatoriais que, historicamente, limitaram a forma como a arte indígena é percebida e classificada. “Evitamos os enquadramentos que historicamente marginalizam essas produções, rotulando-as como ‘naïf’, ‘folclóricas’, ‘artesanais’ ou ‘populares’”, afirma Mateus Estrela.

“Essas categorias, usadas de forma redutora, silenciam a potência estética, política e simbólica dessas obras e contribuem para o apagamento sistemático das contribuições indígenas na construção cultural do Brasil”, completa.

A programação inclui oficinas musicais, uso de ervas tradicionais e pintura corporal. Na última sexta-feira (25), o evento se expandiu para o cinema com a exibição do filme Caminhada Tupinambá, dirigido por Maurício Galvão. Ontem (26), foi realizada uma oficina de fotocolagens indígenas com a artista Mamirawá.

“A fotografia é uma forma de registro, mas também de poder. Precisamos usá-la a nosso favor. Ainda existe, nos livros e na mídia, uma imagem engessada de como ‘deveria ser’ uma pessoa indígena. Mas resistir também é ser múltiplo. Cada um vive sua cultura de forma única. A fotografia, pra mim, é isso: dizer ‘estamos aqui’, mostrar a riqueza da nossa diversidade”, afirma Mamirawá.

Hoje também acontece a Feira de Artesanato Indígena, que se torna um espaço de encontro entre tradição, arte e resistência. “Esta exposição tem uma importância profunda para o público soteropolitano, pois promove um reencontro necessário com as raízes indígenas que compõem, de forma indelével, a identidade cultural da cidade e do Brasil. Em um território marcado por múltiplas ancestralidades, abrir espaço para a arte indígena é um gesto de reconhecimento, reparação histórica e afirmação de uma presença que sempre existiu, mas que muitas vezes foi invisibilizada”, diz o curador.

O poder da arte indígena

Em cada região onde vivem os povos indígenas, a expressão cultural se manifesta em diálogo com o bioma, por meio de um artesanato profundamente conectado aos recursos que a natureza oferece. A poucos quilômetros de Salvador, está localizada a aldeia Tupinambá de Abrantes, em Camaçari, território indígena ainda não demarcado oficialmente, reconhecido apenas por seus próprios habitantes.

É ali que a cacica Renata Tupinambá, de 41 anos, tem buscado ressignificar a história de seu povo por meio do grafismo indígena aplicado em telas. “Nosso grafismo tem uma importância muito grande. Vivemos num lugar onde o rio encontra o mar, é a mistura da água doce com a água salgada, esse balanço das águas que representa muito da nossa identidade”, afirma Renata.

Essa história, contada por Renata pela pintura, está na mostra. “É importante falar sobre o grafismo que representa a nossa aldeia. E, mais uma vez, falar da nossa aldeia e do grafismo presente nas minhas obras expostas é também falar do que significa o balanço das águas, esse encontro que está no nosso território e na nossa espiritualidade”.

Imagem ilustrativa da imagem Mostra ‘Ecos Indígenas’ segue com obras que desafiam estereótipos e limitações
| Foto: Divulgação

A Bahia abriga a segunda maior população indígena do Brasil: 229.103 pessoas se autodeclaram indígenas, o equivalente a 13,5% da população indígena do país, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022. Destas, 27.740 vivem em Salvador. Em todo o estado, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) reconhece oficialmente 14 povos, enquanto o movimento indígena identifica 32.

É nesse contexto de diversidade e resistência que a fotógrafa e psicóloga indígena Elis Tuxá apresenta duas obras na exposição, profundamente ligadas ao território e à memória ancestral. “Essas obras nasceram de um processo que é também político e afetivo. Elas representam meu vínculo com o território não só como espaço físico, mas como corpo, existência e ancestralidade. São um gesto de retorno às raízes e de continuidade das nossas narrativas”, afirma.

A presença dessas imagens na exposição carrega um significado potente. “É um gesto político ocupar esse espaço, um dos mais importantes da Bahia, com vozes que historicamente foram marginalizadas ou exotizadas. O museu se torna, assim, um território de retomada, escuta e visibilidade. Nós estamos aqui, produzindo, pensando, criando”.

“Fotografar com um olhar indígena é subverter os estereótipos que nos foram impostos. É colocar nossos corpos e espiritualidades no centro da narrativa. É registrar o que não pode mais ser apagado e imaginar o futuro com novas imagens”, define.

Diferentes linguagens

Além de ministrar a oficina de fotocolagens indígenas, Mamirawá exibe três obras na exposição. Entre as imagens selecionadas, destacam-se Amor Originário e Príncipe Guia, feitas durante o Encontro Nacional de Estudantes Indígenas (ENEI), em 2023, no território Potiguara, Paraíba. As imagens retratam corpos em movimento e momentos de afeto. “Essas imagens falam sobre uma dimensão mais subjetiva da nossa existência. Elas não retratam necessariamente um povo específico, mas carregam a presença do movimento indígena – no corpo, no gesto, na energia. Hoje em dia, tem crescido a representatividade do amor negro, por exemplo. Mas o afeto entre povos indígenas ainda é muito invisibilizado. E esse lugar do afeto também é resistência, é importante. A gente luta, sim, mas também ama, também precisa de carinho, de cuidado. Somos seres humanos”, pondera a artista.

A estudante da Escola de Belas Artes da Ufba, Kelner Atikum Pankará, leva ao MAC-BA um pouco dos povos indígenas do sertão de Pernambuco. Ela apresenta três obras que combinam ancestralidade, espiritualidade e experimentação: a isogravura A Carranca, uma instalação, Encantaria, composta por uma máscara feita com panela de barro e cocar de caruá, e a escultura em relevo A Rezadeira, moldada em uma placa de gesso. Para ela, estar em uma exposição como esta é também um chamado por inclusão contínua: que os artistas indígenas sejam convidados para mostrar seu trabalho não apenas em abril, mês dedicado aos povos originários, mas em todas as pautas e projetos. “Nós, indígenas, estamos em diversas áreas profissionais e que nos chamem para trabalhar no Abril Indígena, mas também fora do Abril Indígena. Em projetos a respeito dos povos indígenas, mas também projetos outros”, finaliza.

Exposição Ecos Indígenas / Até quarta-feira (30) / MAC-BA / Gratuito

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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