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Mulheres pretas em foco na exposição ‘Marias’

Exposição MARIAS, da fotógrafa Fabíola Campos, traz à tona o protagonismo feminino e a força da dança

Por Israel Risan*

20/11/2024 - 6:10 h
Imagem ilustrativa da imagem Mulheres pretas em foco na exposição ‘Marias’
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A exposição MARIAS, da fotógrafa Fabíola Campos, traz à tona o protagonismo feminino e a força da dança como expressão cultural e pessoal. Com curadoria de Lanna Isah Miranda, as fotografias estão disponíveis para visitação na galeria da Aliança Francesa, em Salvador, até o dia 1º de dezembro. A mostra reflete os ensaios e apresentações do Projeto MARIAS, núcleo de pesquisas em danças afro-brasileiras e contemporâneas criado por Maria Claudia Dias e Márcia Matos.

Fabíola Campos, carioca radicada na Bahia há 10 anos, iniciou sua conexão com o projeto a partir de um chamado pessoal. “Surgiu de um grande chamado da alma para começar a dançar. Me coloquei de mente aberta e fui em busca da dança, não demorou para que as conexões se fizessem”, explica a fotógrafa, com 20 anos de experiência profissional.

As imagens capturam a expressividade dos corpos em movimento, traduzindo histórias marcadas por superação e resistência. Para Fabíola, um dos principais desafios do trabalho foi equilibrar o envolvimento emocional com a precisão técnica. “O maior desafio é segurar a emoção na hora do clique preciso. Mas ao mesmo tempo a emoção não pode deixar de existir. O envolvimento com o que está sendo registrado é fundamental”, pensa.

Além do registro estético, MARIAS é também um processo de reconexão pessoal para a fotógrafa. A vivência no projeto, que conta com uma maioria de mulheres negras, permitiu a Fabíola explorar dimensões profundas de sua ancestralidade. “Chegar na Bahia foi um grande encontro com a minha ancestralidade. O próprio Projeto MARIAS é constituído em sua maioria por mulheres pretas, que trazem e afirmam essa ancestralidade”, reflete.

Outro aspecto central da exposição é o impacto social que ela busca promover. Fabíola já planeja levar as imagens para comunidades vulneráveis, associando a itinerância a rodas de conversa e ensaios fotográficos com mulheres locais. “A ideia é que as mulheres dessas comunidades possam ter acesso a esses registros fotográficos das Marias em seus movimentos de coragem, força e empoderamento”, explica.

A inspiração para essa iniciativa surgiu durante a abertura da exposição, que contou com uma roda de conversa envolvendo as artistas do projeto e outras participantes. Segundo Fabíola, o evento revelou o potencial transformador da arte. “Foi um momento muito rico, de muitas trocas, em que várias outras mulheres compartilharam um pouco de suas histórias, desafios e superações”, conta.

Entre os registros marcantes, destaca-se a performance de Silvia Queiroz, integrante do Projeto MARIAS, que compartilhou sua trajetória de superação de um câncer de mama. Para a fotógrafa, essa experiência ilustra o poder das histórias representadas na dança. “Ao contemplar a nudez heroica de Silvia, todas nós, mulheres, nos sentimos mais corajosas e vencedoras”, expressa.

Indígenas em foco

O envolvimento de Fabíola com iniciativas culturais vai além de MARIAS. Na Bahia, ela documentou projetos como a Roda de Samba de Mulheres de Itapuã e a Capoeira do Intuitivo, que também exploram a força feminina em diferentes contextos. “A conexão com o feminino através das fotos foi despertando em mim algo que hoje considero um verdadeiro chamado”, relata.

A transição do Rio de Janeiro para Salvador também trouxe mudanças significativas para sua prática artística. No Rio, seu trabalho era mais técnico e corporativo, enquanto na Bahia houve uma abertura para o sensível e o ancestral. “Na Bahia aconteceu esse grande encontro ancestral através da arte”, afirma.

Os próximos passos da fotógrafa incluem a ampliação de sua pesquisa sobre a expressividade feminina, com foco em culturas indígenas. “Tenho muito interesse em fazer registro de mulheres indígenas expressando sua cultura e sua essência. Esse é um chamado constante em meu coração”, compartilha.

Fabíola também reflete sobre o impacto que a fotografia pode ter na ressignificação de padrões culturais. “Sinto que estou no caminho certo e contribuo para que nós mulheres e toda sociedade possamos acessar essa força de forma consciente, afetuosa, consistente e assim mudar um padrão mental tão patriarcal”, observa.

A exposição MARIAS não apenas celebra a dança e o feminino, mas também convida o público a refletir sobre o papel da arte como ferramenta de transformação social. A mostra está aberta à visitação de segunda a sexta, das 8h às 19h, com entrada gratuita.

Exposição ‘Marias’ / Galeria da Aliança Francesa (Av. Sete de Setembro, 401, Ladeira da Barra) / Visitação até 01 de dezembro / Gratuito

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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