CULTURA
Música de Bell é considerada racista e machista; ele nega
Por Maíra Azevedo | Jornal MASSA!

Após anunciar no Facebook que a música "Cabelo de Chapinha" é a sua aposta para o Carnaval e comentar o sucesso da canção no Carnatal (micareta da capital do Rio Grande do Norte), Bell Marques virou um dos nomes mais comentados da internet. No centro da polêmica, está a letra da música, classificada como machista e racista.
"A música atinge duplamente a mulher, em especial a mulher negra. Fala de um homem que espera adequação da imagem da sua parceira ao gosto dele. E tem abordagem racista, quando ratifica as opressões que os corpos negros vêm sofrendo. É a imposição de um padrão estético que não nos contempla", explica a antropóloga Naira Gomes, idealizadora do movimento Empoderamento Crespo.
Bell Marques não conversou com o MASSA!, mas postou no seu perfil Facebook uma declaração: "Muito boa essa forma gentil que o compositor encontrou para enaltecer sua amada e que deveríamos aplaudir, pois essa é a mensagem da música: gentileza e amor".
Um dos compositores da música, Filipe Escandurras também se pronunciou sobre a canção: "A música é alegre, como a maioria das minhas canções. Quis mostrar que existem outras formas de dizer 'eu te amo'. Afinal, a mulher é minha, tenho o direito de escolher e pedir pra ela colocar o corte ou o vestido que eu mais gosto".
Ao contrário da afirmação de Bell e de Escandurras, a ouvidora-geral da Defensoria Pública, a socióloga Vilma Reis acredita que a música pode contribuir para a violência doméstica. "Muitas mulheres vivem situações extremas de violência, porque as coisas foram tratadas como brincadeiras. Uma sociedade que opina na estética vai querer exercer controle social sobre o corpo dessa mulher", diz.]
Ouça a música "Cabelo de Chapinha" na apresentação de Bell no Carnatal
Ministério Público
A música pode virar caso de Justiça. Segundo a advogada Dandara Pinho, presidente da Comissão Especial de Igualdade Racial da OAB-BA, "Cabelo de Chapinha" é uma agressão, pois reforça o poder dos homens, incentiva o machismo e "quebra a autonomia feminina, quando a mulher precisa fazer algo para agradar a seu parceiro".
A advogada explica que qualquer mulher negra que tenha se sentido ofendida pela letra pode fazer um boletim de ocorrência ou dar entrada no Ministério Público e, posteriormente, acompanhar o processo criminal e cível.
Algumas organizações do Movimento Negro e do Movimento de Mulheres prometem adotar providências legais para impedir a execução da canção.
Fixação com cabelo
Fazendo uma retrospectiva do repertório musical de Bell Marques, é possível perceber que o cabelo é um tema que se repete. O cantor fez sucesso com "Meu cabelo duro é assim", "Cabelo Raspadinho" e "Vumbora amar", que começa assim: "O vento faz rendez vous no seu cabelo alinhado".
Será que isso significa algum apego especial do próprio cantor com cabelo? De acordo com a psicóloga Juliana Calixto, pode ocorrer de algumas pessoas desenvolverem algum tipo de fixação, que seria um apego não equilibrado a uma fase do desenvolvimento.
"A fixação leva o sujeito a ter comportamentos estranhos. É preciso tratar, fazer terapia e, com isso, trabalhar a autoestima, a aceitação. Portanto, se o cantor tiver dificuldade de aceitar seu cabelo, a terapia ajudará nisso", explica.
O cabelo do cantor é um assunto tabu. Poucas são as imagens de Bell Marques sem a bandana, que já virou sua marca registrada, e todas elas são do início da carreira do artista.
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