CULTURA
Na comédia ‘Aleluia’, Frank Menezes encarna uma dona de casa inusitada
Espetáculo toma forma sob direção de Marcelo Praddo
Há algum tempo, o ator Frank Menezes recebeu um presente especial do dramaturgo Márcio Azevedo: um roteiro com a história de Aleluia, uma mulher como tantas outras, que é muitas em uma só. Se encantou logo de cara. Agora, dá vida à personagem na comédia solo Aleluia, em cartaz a partir de amanhã, no Teatro Módulo.
O espetáculo toma forma sob direção de Marcelo Praddo, que trabalha com o texto escrito por Azevedo e Rick Hiraoka. Para Menezes, construir a peça é um exercício prazeroso.
“Além de ser um personagem que carrega uma complexidade de sentimentos tão díspares, há ação e coreografias em tantos momentos, que faz com que eu não relaxe nem quando não estou na sala de ensaio, me fazendo pensar a todo instante como ela agiria naquele momento do meu dia. Estou amando”, celebra o ator, astro de peças antológicas como A Bofetada e Vixe Maria! Deus e o Diabo na Bahia, além de filmes e novelas.
Este é seu quarto monólogo, e o primeiro em que interpreta uma personagem feminina.
Aleluia é aquela mulher que vive pela família, que se doa a ponto de se anular. Esposa e mãe perfeita, está sempre disponível para confortar os seus, da melhor amiga até a sogra, mas não é enxergada.
O marido a vê como uma empregada e a filha como um caixa eletrônico, e assim os dias vão passando, sendo sua única distração a paixão platônica que nutre por um ator pornô.
Até que algo acontece: acreditando ser a culpada de um crime, ela se entrega à polícia. É na delegacia, enquanto depõe, que nós conhecemos verdadeiramente Aleluia Eulália das Neves.
“Esse depoimento é a primeira vez que alguém vai escutar Aleluia. É a primeira vez que ela vai contar uma história e descobrir que ela é alguém. Que tem nome, sobrenome, CPF, RG, contando a história dela toda, desde o nascimento”, diz Márcio Azevedo, que também escreve roteiros para séries de TV e cinema, além de dirigir e produzir na cena teatral carioca.
Visão rica e amorosa
A fagulha para o espetáculo surgiu de uma situação bem próxima do autor, quando foi visitar uma prima, que mora no subúrbio do Rio de Janeiro, e perguntou como ela estava.
“Ela falava: ‘eu não estou aguentando mais, isso não é vida para uma mulher. Por que eu não estudei, por que eu não me formei? Não tem uma pessoa para eu matar, [fazer] alguma coisa e ser presa? Porque se ficar na cadeia eu vou ter mais paz do que aqui’”, conta Márcio.
As palavras fizeram eco em sua mente. No metrô de volta para casa, alguém começou a pregar. Para cada frase, a pessoa que estava ao lado tinha duas respostas: “aleluia” e “glória a Deus”. Ali estava a receita para um novo roteiro.
“Fiz o esboço, mandei pro Ricky, ele amarrou e limpou a história, devolveu e eu pus as piadas”, diz.
Azevedo conhece e admira o trabalho de Frank Menezes há três décadas, desde que viu A Bofetada pela primeira vez. De lá para cá, assistiu à peça dez outras vezes. Segundo o autor, que diz ter tido a vida transformada por Fanta e Pandora, as personagens fizeram-no ser o escritor que é atualmente.
Menezes lapida o presente junto ao diretor Marcelo Praddo, com quem já trabalhou anteriormente, no monólogo O Corrupto, de 2016, em que o texto era do próprio ator. Para Praddo, o projeto dá ‘pano pra manga’ para a criatividade e o humor característicos do intérprete de Aleluia.
Ele conta que montar o espetáculo tem sido um grande desafio, porque é um texto com muitos detalhes. “O grande exercício é imprimir um ritmo meio alucinado, para não deixar a peteca cair e conduzir o público, pensando em atiçar a sua curiosidade e procurando fazê-lo imaginar o final da história”, antecipa.
A nova parceria com Praddo e a união inédita com o texto de Márcio Azevedo e Rick Hiraoka são motivos de alegria para Frank Menezes, cuja paixão pelo teatro é evidente. “Marcelo é um amigo amado, parceiro vibrante e além de ser um ator brilhante, é um diretor de uma visão tão rica e amorosa, principalmente por ele ser ator, que me deixa em estado de encantamento. E os autores, eu espero que eles fiquem felizes com o que estamos criando”, anseia.
Aleluia segue em exibição em todos os sábados de outubro e novembro, às 20h. Os ingressos saem por R$ 30 (meia) e R$ 60 (inteira) e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou pelo Sympla.
“Aleluia” / Amanhã e todos os sábados de outubro (19 e 26) e novembro (02,09, 16, 23 e 30), 20h / Teatro Módulo (Pituba) / R$ 60 e R$ 30 / Vendas: bilheteria do teatro e Sympla / Classificação: 16 anos
*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.
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