CULTURA
No Mês da Consciência Negra, Salvador recebe espetáculo de teatro que aborda racismo
CAIXA Cultural traz a Salvador o monólogo Ninguém Sabe meu Nome
Por Eugênio Afonso
Agora em novembro, questões relacionadas à população preta ganham ainda mais destaque, até porque na quarta-feira (20) comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra. E, infelizmente, ainda há muito tema para discussão e pouco para celebração. Racismo, por exemplo, segue sendo a pauta do dia desde tempos imemoriais, sobretudo para a população baiana.
Pois é justamente para falar sobre racismo e suas implicações na vida de uma mãe negra que a CAIXA Cultural traz a Salvador o monólogo Ninguém Sabe meu Nome, estrelado pela atriz carioca Ana Carbatti (novela Família é Tudo), 55.
A peça, idealizada pela própria artista, fica em cartaz de hoje a 23 de novembro, sempre às 20h.
Indicada ao Prêmio Shell e ao APTR (Associação de Produtores de Teatro) pelo espetáculo, Carbatti, que também assina o texto, coloca em cena os códigos racistas tácitos da sociedade, seus impasses, impactos e possíveis propostas de reparo.
A atriz representa Iara, uma mulher de meia idade envolta em dúvidas sobre como educar o filho de oito anos para enfrentar uma sociedade que não o reconhece como igual.
“Apresentamos o drama de uma mãe preta que convida seus ouvintes a pensar maneiras de garantir que seu filho não se torne uma estatística, que tenha nome e sobrenome e que possa ser lido pela sociedade de uma forma humanizada”, informa Carbatti.
Ninguém Sabe meu Nome tem como premissa levantar questionamentos relevantes para a sociedade através do entretenimento. “E o racismo é uma pauta não só importante, mas urgente”, afirma Ana.
Para a protagonista, o genocídio negro, que persiste no mundo todo, tem que acabar porque corpos negros precisam ter o direito de ir e vir. “Porque as pessoas pretas têm o direito de existir. Porque a distinção de uma pessoa pela cor de sua pele não pode ser a desculpa para sua extinção. Porque a invisibilidade refuta a identidade. Porque o racismo é desumano”.
Não há vitimismo nem julgamentos na tessitura dramatúrgica do solo, segundo Carbatti. “Mas a convocação do público ao entendimento de que essa questão é responsabilidade de todos, principalmente dos não negros”.
Dívida histórica
Com direção duplamente feminina, das cariocas Inez Viana e Isabel Cavalcanti, e dramaturgia da baiana Mônica Santana, o espetáculo quer refletir sobre a responsabilidade da sociedade com relação à dívida histórica que tem com a população preta, sem deixar de lado o humor e a empatia.
Inez diz que o que mais privilegiou na condução do monólogo foi o próprio talento da atriz, além de seus sofisticados recursos técnicos.
“Foi uma troca bastante horizontal, onde o que mais importava era o diálogo direto entre atriz e plateia, para que ‘todes’ pudessem se colocar no lugar dessa mãe e, de alguma forma, contribuir para o pensamento antirracista”, diz.
“Enquanto as diferenças não forem aceitas nas diversas camadas da sociedade, enquanto pessoas negras, indígenas, LGBTQIAPN+, imigrantes, PCDs, mulheres e tantas outras categorias não ocuparem todos os espaços, não teremos uma sociedade justa e democrática. É preciso ter, além de empatia, inclusão”, alinhava a diretora.
Inclusive, todas concordam que os indivíduos não negros precisam se responsabilizar por tantos séculos de privilégio e, a partir disto, atuar na sociedade de forma efetiva. “Sempre me perguntam se eu me lembro das situações de racismo que vivi. E eu sempre respondo: você que me pergunta se lembra das situações de racismo que você presenciou? E o que você fez?”, devolve e finaliza Ana Carbatti.
Outras atividades
Além da apresentação da peça, o projeto inclui outras atividades gratuitas na Caixa Cultural. Hoje (15) haverá um bate-papo com a atriz logo após a apresentação. Amanhã (16), às 16h, acontece o debate CO-VÍTIMA - uma questão de saúde pública.
Já no último sábado (22), Carbatti conduzirá a oficina Meu corpo: ação e emoção teatral, que parte da exploração cênica de experiências físicas e vivências pessoais dos participantes para a construção da cena.
Mais informações no Instagram @CaixaCulturalSalvador. O projeto conta com patrocínio da CAIXA e do Governo Federal.
Ninguém sabe meu nome / CAIXA Cultural Salvador (rua Carlos Gomes, 57 – Centro) / 15, 16, 21, 22 e 23 de novembro / 20h / inteira: R$ 30 e meia: R$ 15 / Vendas: Sympla / 12 anos
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