CULTURA
O universo do funk e das favelas chega à Netflix
Por Vinícius Marques | Foto: Divulgação

Desde o começo deste século, o funk se tornou o estilo musical de maior ascensão no país. No YouTube, por exemplo, o canal Kondzilla não é apenas o maior do Brasil, como também da América Latina. Com 50 milhões de inscritos, o canal do produtor paulista Konrad Cunha Dantas já conta com mais de 25 bilhões de visualizações.
Responsável pelos hits Bum Bum Tam Tam, do MC Fioti (com 1,2 bilhões de visualizações), e Olha a Explosão, do MC Kevinho (com mais de 900 milhões de visualizações), Kond, como é chamado, agora navega por novos mares.
Nesta sexta-feira, estreia na Netflix a série Sintonia, primeira produção fictícia criada por Konrad. Uma parceria da KondZilla com a Losbragas, a série acompanha três personagens que vivem na favela da Vila Áurea, em São Paulo.
A convite da Netflix, a reportagem de A TARDE foi para São Paulo conversar com os criadores e o elenco da série sobre o fascínio do funk, das drogas e da igreja em que Doni, Nando e Rita – os protagonistas da série – estão inseridos.
Em família
Mc Jottapê (Doni), Christian Malheiros (Nando) e Bruna Mascarenhas (Rita) lembram que, assim que se encontraram, tiveram uma conexão imediata. Os dois meninos se conheceram ainda nas audições, Bruna chegou depois, quase uma semana antes das gravações, mas nem por isso deixou de se sentir parte da família que ali se formava.
Bruna conta que até mesmo nos locais onde gravaram, a sensação era de estar em casa. “Nos acolheram muito, estávamos em casa. Voltamos lá duas semanas atrás para fazer alguns vídeos, tirar umas fotos e a galera ficava nos gritando”, conta.
João Pedro Carvalho, o Mc Jottapê, é famoso por ter interpretado o Janjão, de Chiquititas, o Jerônimo, de Avenida Brasil, e esteve em Acquária, com Sandy e Júnior. A atuação de Malheiros no longa Sócrates lhe rendeu uma indicação ao prêmio de Melhor Ator no Film Independent Spirit Awards, o Oscar do cinema independente.
Do trio, Bruna é a única estreante. A jovem atriz diz ser determinada, assim como sua personagem. “Eu, há um mês e meio antes de começar a gravar, também saí do Rio de Janeiro e falei 'não quero mais o Rio de Janeiro, quero ir pra São Paulo focar em cinema, quero focar em teatro’ e é isso que eu vim fazer”, diz.
Para os meninos, entrar no universo de Sintonia serviu também para somar. “Quando a gente pegou o roteiro, pegamos o que tinha de mais próximo da nossa realidade”, lembra Malheiros.
“Acho que o pessoal que vem da favela, como a gente, vai receber bem. Vai ser uma novidade, principalmente, por estar retratando a favela de São Paulo”, acrescenta o Mc Jottapê.
Produção
O sentimento de acolhimento também foi sentido por parte da produção. “Fomos muito bem recebidos. A gente chega montando um circo”, brinca a produtora Rita Moraes . “Chegamos com gerador, com caminhão, fechamos a rua. Eles foram muito acolhedores mesmo. A comunidade estava sempre na rua com a gente”.
A série, que nesta primeira temporada conta com seis episódios, foi gravada, na verdade, na favela do Jaguaré, em São Paulo. Onde o criador da série, Kond, morou na infância.
A ideia surgiu ainda na adolescência do produtor. Kond lembra que o gatilho para iniciar esse projeto surgiu em 2012 quando o trabalho com o funk em São Paulo começou a bombar.
“Por um período, a mídia queria colocar a gente como culpados por incentivar os jovens a entrar no mundo do crime, fazer coisas erradas para obter bens materiais”, conta Kond. “Cara, eu não tenho nada a ver. Eu sou apenas um olhar que registra esse momento, essa passagem do funk ostentação“, acrescenta.
Foi a partir disso que ele se perguntou “como que eu uso essa energia a nosso favor?”. No final, o objetivo era absorver todas as críticas que ouvia e fazer um trabalho em cima delas.
A ideia partiu de um curta-metragem, um longa, uma minissérie até chegar ao que o público vai conferir nesta sexta-feira, quando Sintonia estreia na Netflix.
*O repórter viajou a convite da Netflix
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