CULTURA
Paranaense Osvaldo Bertolino lança ‘Péricles de Souza - Uma Vida, uma Luta’
Biografia destaca líder baiano na luta contra a ditadura militar
Por Chico Castro Jr.
Nem só de Marighellas, Lamarcas e Rubens Paivas se fez a história da resistência à ditadura militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Jornalista, escritor, historiador, biógrafo, Osvaldo Bertolino é uma espécie de especialista nas vidas e feitos de outros lutadores e militantes, não tão famosos, mas igualmente importantes. De sua lavra já saíram oito biografias de nomes marcantes dessa resistência. Agora, ele lança em Salvador justamente a sua oitava biografia de uma personalidade que necessitava desse registro histórico: Péricles de Souza – Uma Vida, Uma Luta.
O lançamento é hoje, 17h, no Hotel Vila Galé Salvador, em Ondina. O livro saiu pela Editora Anita Garibaldi e Fundação Maurício Grabois, com apoio do PCdoB.
“Péricles foi uma figura central no campo progressista, não só na Bahia, mas em todo o Brasil. Sua história se confunde com a do PCdoB e com as lutas que moldaram o país, especialmente no enfrentamento à ditadura militar e na construção da democracia”, afirma Osvaldo.
Baiano de Vitória da Conquista, Péricles nasceu em 1943. Dez anos depois, Getúlio Vargas se suicidou no Rio de Janeiro. Por incrível que pareça, esse fato teve grande impacto sobre a família do menino Péricles.
“Especialmente em seu pai, que depositava muitas esperanças no desenvolvimento impulsionado pelo governo de Vargas”, conta Osvaldo.
“A família dele vivia sob o clima de progresso trazido pelo segundo período de Getúlio na presidência, eleito em 1950. Na Bahia, o governador Otávio Mangabeira também promovia um perfil de desenvolvimento, reforçando essa atmosfera de crescimento no período pós-Segunda Guerra Mundial. Foi uma era de prosperidade e bem-estar social, mas também marcada por grandes tensões, como a Guerra Fria, o anticomunismo, os conflitos na Coreia e no Vietnã, além de outros acontecimentos globais”, contextualiza o autor.
Engajamento
A partir da adolescência, Péricles se engajou no movimento estudantil, “enfrentando as tensões políticas internas, como as tentativas de golpe contra Juscelino Kubitschek, a renúncia de Jânio Quadros e a resistência à posse de João Goulart”, enumera Osvaldo.
“Após o golpe de 1964, que transformou completamente o cenário político, Péricles se envolveu ainda mais profundamente na militância. Ele foi um dos fundadores da Ação Popular (AP) na Bahia, organização que, após o golpe, adotou uma linha de resistência, influenciada pela Revolução Chinesa e pelas ideias de Mao Tsé-Tung. Mais tarde, a AP se incorporou ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que defendia uma estratégia leninista de organização popular para a luta armada”, relata o autor.
À medida que o tempo passou, Péricles foi ganhando proeminência dentro do partido, que, vale lembrar, seguia na clandestinidade.
Chacina da Lapa
Em 1976, o PCdoB sofre um duríssimo golpe no episódio que ficou conhecido como “A Chacina da Lapa”. No dia 16 de dezembro daquele ano, soldados do exército invadiram o Comitê Central do partido no bairro da Lapa em São Paulo. Três dirigentes morreram: João Batista Franco Drummond (levado ao DOI/CODI, onde morreu sob tortura), Ângelo Arroyo e Pedro Pomar (mortos durante a incursão).
Outros cinco foram presos e torturados: Elza Monnerat, o baiano Haroldo Lima, Aldo Arantes, Joaquim Celso de Lima e Maria Trindade. “Péricles escapou desse evento por uma coincidência: estava em Salvador, sem telefone, o que impediu que recebesse as coordenadas para participar da reunião”, conta Osvaldo.
“Péricles foi fundamental na reorganização do PCdoB no Nordeste, especialmente após episódios como a Chacina da Lapa, em 1976. Após a Anistia, em 1979, Péricles voltou para Salvador e continuou atuando na organização do partido, que já estava enraizado em movimentos estudantis e sociais na Bahia”, acrescenta.
Início paradoxal
Paradoxalmente, esse sangrento episódio, do qual felizmente Péricles estava ausente, é que inicia a biografia. “O livro começa com esse episódio marcante da Chacina da Lapa e segue acompanhando a trajetória de Péricles na luta contra a ditadura, na reorganização do PCdoB e na consolidação do partido na Bahia, especialmente nos movimentos sociais e estudantis”, observa Osvaldo.
“Essa biografia é um retrato amplo da trajetória política dele e do contexto histórico em que viveu”, afirma.
Homem de muitas lutas, Péricles é reputado pelo presidente do PCdoB Bahia, Geraldo Galindo, como “uma referência na reorganização do PC do B no Nordeste e um articulador fundamental da esquerda no estado da Bahia. Sua história é inspiradora e nos fortalece para os desafios do presente”.
No lançamento de hoje, militantes, historiadores, acadêmicos e lideranças políticas se reunirão para celebrar a trajetória de um dos mais destacados líderes comunistas da Bahia e do Brasil.
“Péricles foi, sem dúvida, um dos principais articuladores do campo democrático e progressista na Bahia e uma figura de destaque na política nacional. A expectativa é de que o lançamento do livro esteja à altura de sua trajetória e de sua contribuição para a história do Brasil”, conclui Osvaldo Bertolino.
Lançamento do livro ‘Péricles de Souza - uma vida uma luta’ / Hoje, 17h / Hotel Vila Galé Salvador (Rua Morro do Escravo Miguel, 320 - Ondina) / Entrada gratuita
Péricles de Souza - Uma Vida, Uma Luta / Osvaldo Bertolino / Anita Garibaldi – Fundação Maurício Grabois / 440 p. / Preço não informado
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes